Na manhã desta sexta-feira (28), o deputado Jeferson Alves (PTB) quebrou a corrente usada na proteção da Terra Indígena (TI) Waimiri-Atroari, ocupada pelo povo Kinja, na BR-174, em Roraima. A corrente era usada todas as noites para proteger as terras, foi arrancada pelo político que fez uso de uma motosserra, alicates e auxílio de apoiadores. A ação do deputado foi gravada em vídeo pela sua própria assessoria e pelos demais presentes no local.
No vídeo, o deputado Jeferson Alves aparece segurando a motosserra enquanto outra pessoa dá apoio com um alicate. Depois de quebrar a corrente, ele pega uma parte e diz: “Nunca mais essa corrente vai deixar o meu estado isolado. Presidente Bolsonaro, é por Roraima, é pelo Brasil. Não a favor dessas ONGs. Nunca mais”.
A corrente quebrada pelo parlamentar é usada pelos índios desde os anos 1970, quando o Exército Brasileiro construía a BR-174, que liga Boa Vista a Manaus. Ela impede o trânsito de carros de passeio entre 18h e 6h, sendo permitidos pelos indígenas apenas carros oficiais, veículos com alimentos perecíveis e ônibus de transporte de passageiros.
Segundo a Funai, a medida faz parte de uma medida do Exército através do Subprograma de Proteção Ambiental do Programa Waimiri-Atroari e “tem por finalidade controlar o tráfego nas estradas existentes dentro da terra indígena e evitar ações predatórias da fauna”.
A Fundação informou que as correntes evitam “que carros de passeio ou caminhões em alta velocidade atropelem animais de hábitos noturnos, muito comuns às margens daquela estrada”. A fundação também disse que os índios já substituíram as correntes quebradas.
A corrente na terra indígena Waimiri-Atroari é alvo de disputa judicial desde 2004, na 1ª Vara de Boa Vista. Em 2009, o juiz Helder Girão Barreto solicitou um laudo com um estudo antropológico para apontar os hábitos noturnos dos índios às margens da estrada.
O documento foi produzido pelo Instituto de Antropologia, da Universidade Estadual de Roraima (UERR), Carlos Marinho Cirino, e depois virou livro, sendo publicado em 2016. Foram quatro anos de estudos etnográficos.
“O laudo trata do impacto do ponto de vista. O fechamento tem um amparo legal. Eles controlam a BR-174, sendo fechada durante a noite. (…) Eles [índios] têm hábitos noturnos, há comunidade bem próximo às margens da BR-174 e riscos à vida desses indígenas, tanto que tem registros de sequestros de índios por pessoas em carros que passaram pela estrada”, disse o antropólogo, afirmando que o laudo não aponta juízo de valor, se atentando apenas às questões especificadas pelas partes.
O processo está em sua última fase, com a entrega das alegações finais pelo MPF, Advocacia Geral da União (AGU), Conselho Indígena da TI Waimiri-Atroari, Funai e Estado de Roraima.
Bens do deputado saltaram de R$ 300 mil, em 2016, para R$ 1,67 milhão, em 2018
Segundo o portal De Olho nos Ruralistas, Jeferson Alves foi candidato a prefeito de Boa Vista em 2016, quando declarou possuir naquele ano uma empresa de construção civil no valor de R$ 300 mil. Dois anos depois, eleito deputado estadual pelo PTB, seus bens saltaram para R$ 1.665.000. Mais de cinco vezes mais. Tudo conforme os dados que ele mesmo divulgou para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Somente em cabeças de gado ele passou a possuir R$ 625 mil.
Foi nesse curto espaço de tempo que ele se tornou um pecuarista, com 250 cabeças de gado, no valor de R$ 2,5 mil cada. Um pecuarista muito peculiar, já que sem terra. As reses ficam em uma fazenda chamada Menininha do Kanto A, grafada assim mesmo em sua declaração de bens. Que a ele não pertence, conforme o documento apresentado ao TSE. Ele também não registrou a propriedade de nenhuma motosserra.