O deputado federal Capitão Wagner (Pros-CE) caluniou o senador Cid Gomes (PDT-CE) e, dando cobertura aos milicianos que tentaram assassinar o pedetista, fez uma encenação registrando boletim de ocorrência com alegação de “legítima defesa”.
Segundo o deputado, a culpa é de Cid que levou dois tiros no peito e não do atirador assassino, escondido por um capacete, que os disparou friamente contra o senador.
O deputado é pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza.
A alegação é a mesma dos milicianos amotinados da polícia cearense. Bolsonaro, em sua transmissão ao vivo na quinta-feira (20), junto com Onyx Lorenzoni, também acobertaram o miliciano e disseram que a vítima, no caso Cid, foi culpada dos tiros.
O Capitão Wagner registrou o boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial, em Fortaleza, ao lado dos deputados bolsonaristas Capitão Alberto Neto (Republicanos AM) e Major Fabiana (PSL-RJ).
“Não houve ação dos policiais, houve uma reação dos policiais. Foi legítima defesa, qualquer jurista consultado vai dar essa reposta. A gente tem consciência de que o causador foi ele [Cid Gomes]”, afirma o deputado, na versão típica dos milicianos: o assassino nunca é culpado, a vítima, sim.
Um vereador bolsonarista, Sargento Ailton, está entre as lideranças do motim no quartel da Polícia Militar do Ceará onde o senador Cid Gomes foi baleado na quarta-feira (19). Ele é filiado ao Solidariedade e é ligado a movimentos de direita. O Solidariedade acaba de expulsar o Sargento Ailton, declarando em nota que “não compactua com ações que violentem e agridem a democracia”.
Ailton se engajou na campanha de Jair Bolsonaro e participa de atos de apoio a ele no estado ao menos desde 2017.
Cid Gomes derrubou, com uma retroescavadeira, uma grade do quartel da PM em Sobral utilizada pelos milicianos amotinados para impedir que policiais saíssem com suas viaturas para fazer o policiamento. As próprias famílias foram usadas como escudo, dentro do quartel. Cid apenas derrubou o portão para liberar o acesso, parando assim que obteve êxito.
É bom destacar que a Tropa de Choque da PM, que não aderiu ao amotinamento, estava do lado de fora do quartel.
Como as imagens mostram, o atirador estava escondido atrás do grupo de pessoas que estava perto da grade. Mirou e disparou os tiros contra Cid já com a máquina parada e a grade no chão.
Os policiais não “corriam risco” de serem atropelados, como alega falsamente o deputado defensor das milícias.
“Ele [Cid Gomes] avisou que ia para lá [Sobral] restaurar a ordem, em paz, desarmado, e tentou tudo, antes daquilo [uso da retroescavadeira], temos a filmagem inteira. Ele levou um soco no rosto. Estava com um megafone, não estava com arma nenhuma”, afirmou Ciro Gomes, irmão do senador.
Os atos cometidos pelos milicianos amotinados têm colocado a população de Sobral em pânico. Eles invadiram batalhões militares e esvaziaram pneus de veículos policiais para tentar impedir a atuação da PM. Quatro deles foram presos flagrados furando pneus de viaturas e mais de 300 são investigados, conforme a Secretaria da Segurança do Ceará. O chefe da Guarda Municipal de Sobral levou um tiro na mão e no pulso.
Além disso, igual às ações criminosas de traficantes e do crime organizado, saíram pelas ruas de Sobral ameaçando comerciantes e os obrigando a fechar suas lojas. Estão tocando o terror na cidade.
Os milicianos se infiltraram no movimento salarial dos policiais cearenses. O governo do Ceará e as associações dos policiais militares assinaram um acordo salarial. O governador Camilo Santana (PT) o enviou para a Assembléia Legislativa, que mediou e avalizou o acordo.
Entre outros benefícios, um piso de cinco salários mínimos foi oferecido para o policial jovem que começa a carreira. O acordo é de aumentar o salário de um soldado da PM dos atuais R$ 3.475 para R$ 4.500, com reajuste parcelado em três vezes até 2022.
Mas os milicianos instigaram violentamente pelo não cumprimento do acordo. E agora, o Capitão Wagner não fala das reivindicações salariais, diz que o problema agora é a carga horária.
O deputado Capitão Wagner fez outra encenação e foi no Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado do Ceará, para supostamente “dialogar” com o governador Camilo Santana (PT-CE).
Junto com ele estavam o secretário nacional de Proteção Global, Sérgio Queiroz, o diretor de Proteção e Defesa de Direitos Humanos, Herbert Barros, ambos vinculados ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e os deputados federais Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) e Major Fabiana (PSL-RJ).
Camilo Santana percebeu a manobra eleitoreira e a encenação e não recebeu o porta-voz dos milicianos no Palácio.
O ex-governador Ciro Gomes, em entrevista após visitar seu irmão no hospital, chamou a atenção para a intromissão de bolsonaristas de outros Estados no movimento.
“Nada mais do que ontem uma deputada federal ligada à milícia do Rio de Janeiro [ Major Fabiana (PSL-RJ) ] estava aqui no Ceará acompanhando o canalha daqui, que é o miliciano daqui [Capitão Wagner]. Não é possível que a imprensa não dê destaque a isso. Uma deputada federal, major da PM do Rio de Janeiro, vinculada claramente ao crime organizado do Rio, desde ontem aqui despudoradamente, no Ceará. É isso que está acontecendo. Estão querendo trazer o Rio de Janeiro para cá, com apoio do senhor Jair Messias Bolsonaro”, comentou Ciro.