Um dia após o banho de sangue promovido pelo governo do Rio de Janeiro, o deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB/RJ) fez um desabafo contundente na tribuna da Câmara dos Deputados. “Quem tá falando aqui é pastor, e não é pastor progressista, não. Só de filho de gente da igreja eu sei que morreram quatro ontem. Meninos que nunca portaram fuzis, mas sei que estão sendo contados no pacote, como se fossem bandidos. Sabe quem é que vai saber se são bandidos, ou se não tem? Nunca, ninguém vai atrás”, afirmou, visivelmente emocionado.
As declarações vieram no dia seguinte à megaoperação que transformou os complexos do Alemão e da Penha em cenário de guerra, com mais de 2.500 agentes policiais e militares mobilizados e pelo menos 130 mortos — sendo 60 civis e quatro policiais, segundo registros oficiais. Moradores relataram bloqueios de vias, escolas fechadas e tiroteios incessantes, enquanto o governo comemorava a ação como suposto êxito na “guerra ao crime”.
Durante o discurso, o parlamentar denunciou o racismo estrutural embutido na política de segurança fluminense. “Sabe por quê? Preto correndo em dia de operação na favela é bandido. Preto com chinelo havaiana sem camisa pode ser trabalhador, correu, é bandido. É fácil, senhoras e senhores, para quem está no asfalto e não conhece a realidade da favela”, disse.
Otoni de Paula ainda criticou o uso político da tragédia: “É fácil subir nessa tribuna e dizer ‘que bom, matou’. É porque o filho de vocês não está lá dentro, como meu filho está, o tempo todo dentro de uma comunidade. Sabe qual o meu pânico? É que ele é preto”.
Na prática, o que aconteceu no Rio foi um massacre orquestrado pelo governador Cláudio Castro, uma demonstração brutal de necropolítica e de uso da violência de Estado como capital político. O governador, em baixa popularidade, apostou no sangue dos pobres e pretos das favelas para recuperar prestígio entre os setores conservadores.
Enquanto os corpos ainda eram recolhidos nas vielas da Penha e do Alemão, governadores de direita se reuniam em Brasília para discutir segurança pública, em um gesto que soou mais como endosso do que repúdio à carnificina. O espetáculo da morte foi convertido em palco de disputa política.
“Só de filho de gente da igreja, eu sei que morreram quatro ontem. Meninos que nunca portaram fuzis, mas estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. E sabe quem é que vai saber se são bandidos ou se não são? Nunca ninguém vai atrás. Você sabe por que? Porque preto, correndo em dia de operação na favela, é bandido. Preto com chinela Havaiana, sem camisa, pode ser trabalhador; correu é bandido”, reforçou o parlamentar, classificando a operação autorizada por Castro como “um teatro para dar a falsa sensação de segurança à população”.











