Deputado que se orgulha de avô nazista defende dividir o Brasil

Deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) - Foto: Câmara dos Deputados

O deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) defendeu, em um podcast transmitido na última quinta-feira (18), que o Brasil fosse dividido em duas nações: um suposto “Brasil do Norte”, formado por Norte e Nordeste, e um “Brasil do Sul”, composto por Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

Durante a entrevista ao Redcast, o parlamentar afirmou: “Vamos dividir o Brasil? A gente recorta Norte e Nordeste, passa a ser Brasil do Norte. E todos os estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul passam a ser Brasil do Sul”. O apresentador Junior Masters reagiu chamando a ideia pelo nome correto: “separatismo”. Mas Bilynskyj insistiu: “Sabia que, historicamente, quanto maior a extensão territorial, maior a tendência a ditadura? Quanto menor o país, mais democrático ele é”.

A fala, que causou perplexidade, revela uma tentativa de transformar diferenças políticas em fronteiras nacionais. O deputado chegou a simplificar o tema com uma frase que evidencia sua visão distorcida: “Eles [Norte] votam no Lula, nós [Sul] votamos no Bolsonaro, pronto, acabou”. O problema é que o próprio dado usado como justificativa é falso. Na eleição de 2022, Jair Bolsonaro venceu no Norte com 51,03% dos votos, contra 48,97% de Luiz Inácio Lula da Silva. Já na maior cidade do país, a ordem foi inversa: na capital paulista, o petista teve vantagem de 47,54% a 37,99% na primeira votação.

EXALTAÇÃO AO NAZISMO

A defesa de um “Brasil partido ao meio” não é a primeira polêmica de Bilynskyj. Seu histórico de Paulo Bilynkkyj está repleto de incidentes que vão desde a glorificação de um suposto avô que lutou pelo lado dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, à acusações de racismo.

Em 2023, já como deputado federal, ocupou a tribuna da Câmara, nessa quarta-feira (17), para homenagear o Dia Internacional da Vishyvanka, veste tradicional da Ucrânia.

Em seu discurso, o deputado de extrema-direita exaltou a participação de seu avô, o ucraniano Bohdan Bilynskyj, como combatente na Segunda Guerra Mundial e exemplo para sua atuação política. Bohdan foi voluntário da Waffen-SS, exército pessoal do ditador alemão Adolf Hitler, fato conhecido e divulgado pelo parlamentar em suas redes sociais.

“Essas vestes são uma homenagem às minhas origens, ao meu avô Bohdan Bilynskyj, que chegou ao Brasil, em 30 de setembro de 1948, após lutar bravamente pela liberdade de seu país, invadido por russos comunistas. (…) Meu avô Bohdan, aos 20 anos de idade, lutou em uma guerra mundial para libertar a Ucrânia das garras do comunismo”, declarou o parlamentar em plenário, sem apresentar qualquer evidência que confirme o paralelo histórico.

HISTÓRICO DE PROBLEMAS

Aos 38 anos, o deputado é delegado licenciado da Polícia Civil de São Paulo e integra a chamada bancada da bala. A corporação, no entanto, espera há três anos pela demissão definitiva do parlamentar.

Um documento sigiloso revela que, desde o estágio probatório em 2012, já havia recomendações para que ele não fosse aceito na carreira policial. O texto registra que “[ele] já causou diversos problemas e transtornos, inclusive, durante o estágio probatório”. Bilynskyj acumulou mais de 12 processos disciplinares, com punições que vão de advertências a suspensões. Em um dos episódios mais graves, provocou uma “manobra brusca na condução de viatura policial e posterior colisão em veículo particular”, o que levou a um pedido formal de não confirmação na carreira. Mesmo assim, ele seguiu como delegado licenciado e hoje responde a três novos processos.

MORTE SUSPEITA DA ESPOSA

A morte da esposa de Bilynskyj, Priscila Delgado de Bairros, também se tornou repleta de controversas e a investigação, com falhas e contradições.

Priscila morreu em São Bernardo do Campo (SP), no apartamento de Paulo Bilynskyj, que foi baleado seis vezes (perna, mão, peito, costela e braço) e sobreviveu. Ele afirma que Priscila, sua noiva, teve um surto de ciúmes, atirou contra ele e depois se suicidou. A família da jovem, porém, suspeita que ela tenha sido assassinada.

Armas apreendidas: o boletim de ocorrência registrou seis armas e milhares de munições, incluindo um “fuzil sem número de série”, o que configuraria crime inafiançável. Dias depois, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que não era um fuzil, mas um “acessório”.

Peças essenciais: especialistas afirmam que os itens listados (como upper receivers, base fundamental de um fuzil) não são simples acessórios, mas partes que exigem autorização do Exército, podendo configurar posse ilegal de arma de uso restrito ou proibido, com penas de até 12 anos de prisão. Apesar disso, o boletim não foi corrigido e Bilynskyj segue em liberdade.

As investigações também levantam dúvidas:

A Polícia Civil adotou desde o início a versão do delegado como “presumível”, antes mesmo dos laudos.

O exame de resíduos de pólvora em Priscila foi feito no mesmo dia e deu positivo; o de Bilynskyj só ocorreu mais de 24 horas depois, sob justificativa de internação, e ainda não teve resultado divulgado.

Uma perícia concluiu que a bala que matou Priscila não saiu da arma encontrada ao lado dela, contrariando a hipótese de suicídio. Uma segunda simulação, com duas armas, foi feita para reavaliar a dinâmica.

Priscila e Bilynskyj se conheceram pelo Instagram no fim de 2019 e passaram a morar juntos em abril. Nas redes sociais, ele postava mensagens sobre desconfiança em mulheres e relacionamentos conturbados, destoando da imagem de noivado.

ACUSAÇÕES DE RACISMO E APOLOGIA AO ESTUPRO

Outro caso que mancha sua trajetória envolve a divulgação de uma propaganda da escola preparatória para concursos em que lecionava. No material, homens negros arrastavam uma mulher para um quarto, em clara insinuação de violência sexual. Bilynskyj reforçou a cena com uma legenda que, além de ofensiva, explicitava estereótipos racistas: “O concurseiro estuda com material pouco profundo, sem clareza, não faz questões da banca; ou seja, sem retaguarda de conhecimento que aguente a profundidade com que a banca introduz os conteúdos e diversas posições doutrinárias! E aí…a situação fica preta!”.

A publicação levou o Ministério Público de São Paulo a abrir inquérito por apologia ao estupro e racismo. O processo terminou em acordo de não persecução penal, cumprido por Bilynskyj e pelos demais envolvidos.

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