Deputados do PL, partido de Jair Bolsonaro, trocaram xingamentos e acusações no grupo de Whatsapp por divergência sobre a reforma tributária proposta pelo governo Lula, que foi aprovada na Câmara.
Dos 99 deputados filiados ao PL, 20 votaram a favor da reforma. Eles dizem que estão sofrendo perseguição por parte dos mais bolsonaristas, que são contrários a qualquer medida proposta pelo governo Lula.
As mensagens foram reveladas pelo jornal O Globo. Segundo a reportagem, os parlamentares favoráveis à reforma foram chamados de “melancias traidores”. O termo melancia é usado pela extrema-direita para acusar alguém de ser comunista, isto é, “vermelho por dentro”.
O deputado Vinícius Gurgel (AP), que está no PL desde 2011 e votou a favor da reforma, falou que “extremistas” o estão perseguindo dentro do partido.
“Só não fico ofendendo nas redes sociais quem vota de um jeito, então peço respeito, cada um tem seu eleitor! Não sou esquerda e nem de direita, sou conservador somente! Se quiserem pedir minha suspensão de comissões, expulsão, do jeito que vier tá bom! Não é comissão que vai me eleger!”, reclamou o parlamentar.
A deputada Julia Zanatta (PL-SC), muito ligada a Bolsonaro, disse que não entende “por que tanto choro. Se tinham tanta certeza do voto, por que estão se explicando até agora?”.
Seu comentário foi acompanhado pelo de Carlos Jordy (RJ), também ligado às pautas extremistas de Bolsonaro, que defendeu que “aqueles que não aceitam” as posições puxadas por Bolsonaro “devem sair do partido”.
Júnio Amaral (MG), que foi contrário à reforma, insinuou que aqueles que votaram a favor tiveram motivos escusos e deveriam parar de se justificar.
“Fica parecendo que nós, bolsonaristas, somos otários para acreditar que se trata de um posicionamento verdadeiro a favor do texto, me ajuda aí. Como se ninguém soubesse como funciona”, falou no grupo de Whatsapp dos deputados do PL.
Vinicius Gurgel então rebateu: “Amigo, pede minha expulsão! Aqui não tem clima mais com vcs!!”. Segundo o deputado, a chegada dos bolsonaristas no PL foi um “casamento forçado”. “Tristeza vcs terem vindo pro PL”, concluiu.
O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou acalmar os ânimos de seus aliados, mas foi totalmente ignorado.
André Fernandes (CE), deputado investigado por envolvimento no ataque golpista do dia 8 de janeiro, se sentiu atingido pela fala de Vinícius Gurgel e perguntou sobre quem ele se referia com “tristeza” por ter ido para o PL.
Gurgel respondeu: “Vc, amigo, é um deles, pede expulsão, não respeita! Preferia vc em outro partido”.
Fernandes retrucou: “Não me chame de amigo. Não lhe dei essa liberdade. Tá achando ruim? Pede para sair”. Gurgel disse que o fará “na hora certa”.
A discussão só foi encerrada depois que o líder do partido na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), bloqueou as mensagens do grupo.
Procurado pelo Globo, Vinícius Gurgel disse que permanece leal ao presidente do partido, Valdemar da Costa Neto. “Muita gente pensa em sair do partido, porém, sou muito leal ao presidente Valdemar. Se me expulsarem, tudo bem. Mas quero deixar claro a minha total lealdade ao presidente Valdemar”.
REUNIÃO COM TARCÍSIO
A discussão já estava fora do controle das lideranças do partido na reunião realizada em São Paulo junto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na ocasião, Tarcísio defendeu a reforma e foi criticado abertamente por Jair Bolsonaro e seus seguidores.
Interrompendo a fala de Tarcísio, Jair Bolsonaro disse que “se o PL estiver unido, não aprova nada. Vai depender de nós”. A fala dele foi aplaudida pelos membros do partido.
Sua esposa, Michelle Bolsonaro, acrescentou que “não adianta concordar aqui [na reunião] e na hora da votação ser diferente, a gente não quer ouvir que o deputado do PL é melancia”.
Depois a votação da reforma, Bolsonaro tentou sair do seu isolamento após atacar Tarcísio e foi conversar com ele. Fingiu que tava tudo bem e declarou que está “tudo 100%”. “Voltamos ao que éramos”, alardeou. Tarcísio devolveu a gentileza e disse que sempre será “leal ao presidente”.
Após a votação na Câmara, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) foi entrevistado pela TV Câmara e disse que foi contra a reforma tributária porque a proposta era apoiada por “comunistas”.
“Se os comunistas estavam defendendo essa reforma, logo não é bom”. De acordo com ele, “melancia sempre tem em todo partido, essas pessoas que se elegem com um discurso e mudam de posicionamento depois de eleito. Essa votação foi importante para que os eleitores possam conhecer seus deputados”.