
Com a inflação mais baixa, juros reais sobem. Sistema elétrico privatizado continua infernizando a vida dos brasileiros com altas tarifas de energia
A inflação desacelerou no país, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta terça-feira (12). Nos últimos 12 meses até julho, o índice ficou em 5,23%, abaixo dos 5,35% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em julho de 2024, a variação havia sido de 0,38%.
Em julho, a inflação do país foi de 0,26%, subindo 0,02 ponto percentual em relação a junho (0,24%), puxada pela energia elétrica residencial. O índice de difusão – o percentual de itens em alta no mês, ficou em 49,6%, resultado abaixo dos 53,58% de junho, com destaque para os preços dos alimentos em queda. Já a conta de luz inferniza a vida do brasileiro, agravada pela bandeira tarifária vermelha.
“Sem a contribuição da energia elétrica, o resultado do IPCA de julho ficaria em 0,15%”, afirmou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA.
O resultado do IPCA ficou abaixo das expectativas do “mercado” e do Banco Central, que mesmo diante da desaceleração da inflação mantém a taxa de juros (Selic) em 15% e por um “longo período”, elevando o juro real (descontada a inflação) no país, o segundo maior do planeta.
LUZ CARA
Com Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) liberando novos aumentos nas tarifas de energia às concessionárias e o acionamento das bandeiras tarifárias amarela e vermelha pela mesma, a energia elétrica residencial já acumula uma alta de 10,18%, entre a janeiro a julho deste ano – sendo o principal impacto individual (0,39 p.p.) sobre o resultado do IPCA (3,26%) para o mesmo intervalo de tempo.
“Esta variação (10,18%) é a maior para o período de janeiro a julho desde 2018 quando o acumulado foi de 13,78%.”, destaca Gonçalves.
Na passagem de junho para julho, além da manutenção da bandeira tarifária vermelha patamar 1 (adicionando R$4,46 na conta de luz a cada 100 KWh consumidos), contribuíram para alta da inflação o reajuste para cima de 13,97% em uma das concessionárias em São Paulo (10,56%), vigente desde 04 de julho; 1,97% em Curitiba (2,47%), desde 24 de junho; e de 14,19% em uma das concessionárias de Porto Alegre (1,48%), a partir de 19 de junho.
Neste mês de agosto, a Aneel colocou em vigor a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara entre as bandeiras tarifárias, com um custo adicional de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos. A agência também revisou as projeções para as tarifas de energia elétrica deste ano, com um reajuste médio de 6,3% (aumento).
Apesar do Brasil ter um dos custos de produção de energia mais baixos do mundo por conta de suas hidrelétricas e outras fontes renováveis (solar e eólicas), os brasileiros pagam as tarifas mais caras do planeta – consequência das privatizações de empresas de geração e distribuição e de gambiarras feitas na legislação do setor elétrico, com o fim de beneficiar grandes consumidores, manter as caras e poluentes termelétrica em funcionamento e para afastar a responsabilidade de investimentos por parte do Estado no setor.
O Brasil conta com 88% de sua matriz elétrica composta por fontes renováveis, segundo um novo relatório da Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA), com dados atualizados de 2024, divulgado no mês passado, que coloca o país entre os países com menor custo de geração de energia renovável do mundo.
Em contraste, a conta de energia no Brasil segue entre as mais caras do mundo, com uma tarifa média paga pelo consumidor brasileiro que chega a R$ 864 por megawatt-hora, valor mais de cinco vezes superior ao da Argentina, segundo relatório.
PREÇOS DOS ALIMENTOS E COMBUSTÍVEIS CAEM
Em julho deste ano, a alimentação apresentou variação negativa (-0,27%), assim como os grupos Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Os demais grupos de produtos e serviços pesquisados variaram entre alta de 0,91% de Habitação e de 0,02% de Educação.
No mês passado, também pesou no bolso dos consumidores os preços das passagens aéreas, que subiram 19,92%. Por outro lado, os preços dos combustíveis recuaram 0,64% em julho com quedas nos preços do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).
O gerente do IPCA destacou que “o grupamento dos combustíveis registrou queda nos preços pelo quarto mês consecutivo. Em junho, houve redução no preço da gasolina nas refinarias”.
A alimentação no domicílio também recuou -0,69% na passagem de junho para julho, com destaque para as quedas da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).
Resultados do IPCA de julho, por grupos:
· Alimentação e bebidas: -0,27% (Impacto sobre IPCA: -0,06 p.p)
· Habitação: 0,91% (0,14 p.p)
· Artigos de residência: 0,09% (0,00 p.p)
· Vestuário: -0,54% (-0,03 p.p)
· Transportes: 0,35% (0,07 p.p)
· Saúde e cuidados pessoais: 0,45% (0,06 p.p)
· Despesas pessoais: 0,76% (0,08 p.p)
· Educação: 0,2% (0,00 p.p)
· Comunicação: -0,09% (0,00 p.p)