Pelo menos 3.861 imigrantes morreram ou desapareceram saindo do México e, tentando atravessar pelo deserto, chegar aos Estados Unidos desde 2014, de acordo com recente pesquisa da Associated Press. O levantamento da AP inclui dados do Centro Colibri de Direitos Humanos do lado estadunidense da fronteira e de uma equipe argentina de antropologia forense, do lado mexicano, além de números da Organização Internacional de Migrações das Nações Unidas e da Patrulha de Fronteiras estadunidense.
Infelizmente, a quantidade real de vítimas que fogem desesperadas da fome, da violência e do desemprego causada pela política dos EUA na região jamais poderá ser conhecida, uma vez que a identificação de um cadáver pode levar anos e se vê dificultada pela escassez de recursos e registros oficiais. Sem falar na falta de disposição das autoridades norte-americanas para coordenar uma ação conjunta entre os países e, até mesmo, entre os seus próprios estados e cidades.
Na maioria dos casos, nenhuma das pessoas carrega consigo registros e se já não eram levados enquanto estavam vivos, muito menos mortos. É como estes seres humanos jamais tivessem existido.
Entre os inúmeros casos que estampam a dor e o desespero, nesta semana o jornal mexicano La Jornada trouxe o exemplo de dois cunhados: Juan Lorenzo Luna e Armando Reyes. Eles sabiam que cruzar o deserto para ingressar nos EUA poderia ser mortal. Inclusive porque um deles havia sofrido a perda de entes queridos na tentativa, tendo perdido o pai em 1995 e um tio em 2004. Os dois jovens também haviam tentado meses antes, mas tiveram de acabar se entregando à Patrulha de Fronteiras, completamente esgotados.
Apesar de tudo, Juan e Armando partiram novamente de seu pequeno povoado de Gómez Palacio, ao norte do México, em agosto de 2016. Outros três iniciaram a jornada com eles, dois conseguiram cruzar sãos e salvos e um voltou. O único que se sabe dos dois cunhados é que desistiram e que planejavam se entregar às autoridades. Foram averiguadas prisões e centros de detenção, porém não se obteve qualquer informação.
Um fim de semana de junho de 2017, voluntários acharam oito cadáveres próximos de uma zona militar no deserto do Arizona e divulgaram imagens pela internet com a esperança de encontrar os seus familiares. Maria Elena Luna ficou impactada com uma das fotos que viu no Facebook, a de um cadáver em decomposição, jogado numa paisagem árida, cheia de cactos e arbusto, com a boca para baixo e a perna dobrada para fora. A pose era familiar. “Era assim que meu irmão dormia”, disse em voz baixa.
Junto aos cadáveres estava a identificação de um jovem, uma foto e um pedaço de papel com um número de telefone. A foto era de Juan Lorenzo Luna e o telefone o de primos da família. As investigações, no entanto, dizem que a carteira e a identificação não podem confirmar a identidade porque é comum os migrantes serem roubados. “Todos choramos”, recorda Maria Elena Luna. “Porém não podemos estar seguros até que se faça a análise do DNA. Precisamos esperar”.
Enquanto isso, Trump insiste em mobilizar milhares de soldados contra homens e mulheres que, com crianças, bebês de colo, grávidas e deficientes, fogem em caravana dos horrores provocados por golpes e por uma política de submissão ao Consenso de Washington.