Renda caiu a R$ 1.378 nas regiões metropolitanas, menor valor dos últimos dez anos. segundo Boletim Desigualdade nas Metrópoles. “Está todo mundo mais pobre”, diz Andre Salata, pesquisador da PUC-RS e coordenador do estudo.
A renda dos brasileiros que vivem nas regiões metropolitanas caiu para menor valor dos últimos dez anos, registrando média de R$ 1.378 no último trimestre de 2021. Embora as pesquisas oficiais apontem para o aumento da ocupação, os altos níveis de informalidade e a inflação tiveram como consequência o empobrecimento da população de todas as classes sociais.
Os dados são do boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido em conjunto por pesquisadores da PUC-RS, do Observatório das Metrópoles e da Rede de Observatórios da Dívida Social da América Latina. O boletim se baseia nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua), do IBGE.
A renda média nas regiões metropolitanas do país foi a mais baixa da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Ou seja, os brasileiros estão vivendo com a menor renda do trabalho dos últimos dez anos, pelo menos. Quando comparado com os patamares pré-pandemia, o estudo observou que a renda domiciliar ficou, no final de 2021, 10,2% menor que os níveis de 2020.
A renda média é calculada a partir da soma de todos os rendimentos provenientes do trabalho, incluindo o setor informal, dividida pelo número de moradores por domicílio nas regiões metropolitanas, com preços deflacionados até o 4º trimestre do ano passado.
Entre as metrópoles, as situadas nos estados do Norte e Nordeste registram as menores rendas. Os valores mais baixos foram registrados na Grande São Luís (R$ 739,93), Manaus (R$ 824,94) e Recife (R$ 831,66), enquanto que os maiores foram no Distrito Federal (R$ 2.022,91), Florianópolis (R$ 1.895,68) e São Paulo (R$ 1.679,80).
Também avaliada no boletim, os índices de desigualdade – medido através do coeficiente de Gini – recuou para 0,602 em média nas metrópoles, o mesmo patamar do primeiro trimestre de 2020. O coeficiente varia de 0 até 1, sendo mais alta quanto maior for a desigualdade.
“Estamos chegando a um nível de desigualdade que é similar aquele anterior à pandemia, mas numa sociedade mais empobrecida, com uma renda média bem mais baixa. Está todo mundo mais pobre”, resume Andre Salata, pesquisador da PUC-RS e coordenador do estudo.
O recuo da renda e do poder de compra, por conta da inflação acima dos 10%, foi generalizado – mas os mais pobres são sempre os mais prejudicados.
No 4º trimestre de 2021, 23,6% dos moradores das metrópoles ainda viviam em domicílios cuja renda média per capita do trabalho era de até um quarto de um salário-mínimo. No auge da pandemia esse percentual chegou a 29,7%.
“É importante deixar claro que é um processo de recuperação que está lento e ainda não chegou no patamar pré-pandemia. Estamos falando de milhares de famílias cujos rendimentos do trabalho já eram insuficientes e que estão há dois anos enfrentando uma situação de perda de renda”, destaca Salata.
As classes médias, classificadas no estudo como “mais riscos” também estão perdendo renda nesse processo. No 4º trimestre de 2021, o rendimento médio dos mais pobres se situou 8,9% abaixo do patamar pré-pandemia, enquanto que o do topo da pirâmide passou a registrar uma perda de 12,8% em relação ao valor do primeiro trimestre de 2020.
“Com a vacinação e a possibilidade da retomada da atividade econômica, a renda dos mais pobres, que tinha despencado e ido parar no fundo do poço, começa a se recuperar, ainda que lentamente. Enquanto isso, a renda dos mais ricos começa a ter uma queda mais clara”, afirma Salata.
“Em boa medida, o que explica essa perda do poder de compra entre os mais ricos no último trimestre é a inflação”, afirma o pesquisador da PUC-RS, destacando que em termos nominais (sem considerar a inflação) a queda anual do rendimento médio dos 10% do topo foi de apenas -0,94%, contra -8,05 em valores deflacionados.
“A possibilidade de aumento da renda, principalmente nos segmentos mais pobres, depende de uma retomada da economia, que não aconteceu. Sem um processo efetivo de recuperação da atividade, dificilmente vamos ter uma economia capaz de gerar emprego e distribuir renda, e remuneração suficiente para aumentar o nível de renda das pessoas em geral”, diz Maurício Ribeiro, também autor do estudo.