O total de financiamentos realizados pelo BNDES em setembro foi de R$ 3,812 bilhões, 28% a menos do que no mês de agosto e 22% menor que setembro de 2018. No acumulado de janeiro a setembro, o valor do crédito cedido pelo banco foi de R$ 38,012 bilhões com uma queda de 13% em relação aos R$ 43,569 bilhões do mesmo período de 2018.
Os destaques negativos do volume acumulado do ano foram os de 51% para o comércio e serviços e os 22% destinados à indústria. Com a agricultura, mesmo com a queda no volume total, teve um aumento de 9%, enquanto infraestrutura teve 1% negativo de variação.
Também no acumulado de doze meses, tiveram seus recursos reduzidos para as suas atividades a indústria, com menos 12%, e comércio e serviços, com menos 40%. Os dados constam de Boletim de Desempenho do banco, divulgado na quinta-feira (24/10).
O sucateamento a que o BNDES vem sendo submetido, agravado nesses meses do governo Bolsonaro, está expresso nos números relativos aos desembolsos.
Com a economia patinando no fundo do poço, a busca por novos créditos despencou à metade entre janeiro e setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Um total de R$ 40,2 bilhões em empréstimos, representando um recuo de 49% no período.
“Butique da Faria Lima”
Para o presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, João Carlos Marchesan, “é inconcebível a ausência do BNDES como fonte de financiamento de investimentos de longo prazo, sob o risco de comprometer o crescimento do País”. Para o empresário, a ausência do BNDES pode comprometer a recuperação da economia a a geração de empregos. “Preservar o BNDES como uma das principais ferramentas para comercializarmos nossos produtos e como instrumento de Política Industrial foi uma conquista”.
Marchesan alertou para as “inúmeras ameaças que pairam sobre nosso setor, como a transformação do BNDES numa ‘butique da Faria Lima’”, se referindo à declaração do atual presidente do banco de fomento, Gustavo Montezano, em sua posse em 16 de julho.
No dia 2 de agosto, Montezano anunciou que antecipará o pagamento de mais R$ 40 bilhões de empréstimos da União. Com esse pré-pagamento, o BNDES já terá devolvido à União, neste ano, R$ 84 bilhões, o que corresponde a cerca de 67% da meta de R$ 126 bilhões.
Com isso, mais recursos públicos são desviados dos investimentos para pagamento de juros a bancos, conforme meta do ministro da Economia, Paulo Guedes. Os pagamentos antecipados pelo BNDES ao Tesouro são usados exclusivamente para abater a dívida pública federal.
A média anual de recursos liberados para os financiamentos pelo banco de 2015 a 2108, ou seja, nos piores quatro anos da economia, com o PIB derrubado em mais de 5% no período, foi de R$ 91,063 bilhões. Mesmo com o último trimestre do ano a ser computado não há praticamente chance de chegar perto dessa média.
A indústria recebeu 526 milhões e o setor de comércio e serviço R$ 472 milhões, respectivamente 14% e 12% desse total. Agropecuária ficou com R$ 1,681 bilhão ou 44% do bolo, enquanto os segmentos da Infraestrutura com a recepção de R$ 1,133 bilhão levou 30% do total.
No acumulado de janeiro a setembro o valor total dos financiamentos foi de R$ 38,032 bilhões. Também nessa comparação a indústria tendo recebido R$ 6,320 bilhões e o comércio e serviços R$ 4,157 bilhões ficaram também com a menor parte dos recursos liberados. Percentualmente 16,6% para uma e 10,9% para o outro.
Agropecuária com R$ 10,198 bilhões de financiamentos recebidos levou 26,8% dos recursos enquanto a Infraestrutura com R$ 17,357 bilhões arrematou 45,6% do bolo.
Os números confirmam as prioridades do governo Bolsonaro para financiar as privatizações de aeroportos, portos, estradas e outras obras de infraestruturas. Além das vendas a preços subavaliados, são liberados créditos subsidiados do BNDES para as empresas participantes do banquete, especialmente multinacionais, que tomam para si grandes estruturas do patrimônio público.
Outro grande beneficiário do governo é o agronegócio com a segunda grande parcela dos recursos liberados pelo banco, que vale o registro, vai se somar a grande parte dos R$ 226 bilhões do Plano Safra 2019/2020, especialmente para a produção de soja.