São 13,8 milhões de desempregados no trimestre encerrado em agosto, diz IBGE. Dois milhões de vagas foram perdidas no emprego formal no período e em apenas um ano o Brasil perdeu 12 milhões de postos de trabalho
O desemprego continua batendo recorde no país e atingiu a taxa de 14,4% no trimestre encerrado em agosto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua), divulgada nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior taxa de desocupação da série histórica desde 2012. São 13,8 milhões de brasileiros desempregados.
12 MILHÕES DE PESSOAS A MENOS NO MERCADO DE TRABALHO
A pandemia, combinada com a total ausência de uma política econômica de socorro e estímulo econômico no período, também foram responsáveis pela menor taxa de ocupação até então apurada pela Pnad.
De acordo com a pesquisa, o número de pessoas ocupadas caiu 5% de um trimestre para o outro, totalizando 81,7 milhões. Foram fechados 4,3 milhões de postos de trabalho em apenas 3 meses, um aumento de 8,5% frente ao trimestre anterior. Em apenas um ano, quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, a queda é de 12,8%, o que representa 12 milhões de pessoas a menos no mercado de trabalho.
O nível de ocupação (46,8%) atingiu o patamar mais baixo da série histórica, com queda de 2,7 pontos percentuais ante o trimestre anterior (49,5%), quando, pela primeira vez na história da pesquisa, mais da metade da população em idade de trabalhar estava fora do mercado.
E diante da tragédia do desemprego, Paulo Guedes, ministro da Economia, diz que “o país só perdeu 1 milhão de emprego formal” e “manteve 11 milhões de empregos” na pandemia.
EMPREGO FORMAL CAI 6,5%: MENOS 2 MILHÕES DE PESSOAS
Segundo os dados do IBGE, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos), estimado em 29,1 milhões, foi o menor da série, caindo 6,5% (menos 2,0 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 12,0% (menos 4,0 milhões de pessoas) ante o mesmo trimestre de 2019.
O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (8,8 milhões de pessoas) caiu 5,0% (menos 463 mil pessoas) em relação ao trimestre móvel anterior e 25,8% (menos 3,0 milhões) ante o mesmo trimestre de 2019.
DESALENTO É RECORDE
A população desalentada – que desistiu de procurar emprego-, atingiu o total de 5,9 milhões de pessoas e também foi recorde, com altas de 8,1% (mais 440 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 24,2% (mais 1,1 milhão de pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019.
TAXA DE INFORMALIDADE CRESCE
A taxa de informalidade chegou a 38,0% da população ocupada (ou 31,0 milhões de trabalhadores informais). No trimestre anterior, a taxa foi 37,6% e, no mesmo trimestre de 2019, 41,4%.
POPULAÇÃO SUBUTILIZADA É DE 33,3 MILHÕES DE PESSOAS
A taxa composta de subutilização (30,6%) foi recorde na série, crescendo 3,1 p.p. em relação ao trimestre móvel anterior (27,5%) e 6,2 p.p. frente ao mesmo trimestre de 2019 (24,3%). A população subutilizada (33,3 milhões de pessoas) também foi recorde, subindo 9,7% (mais 3,0 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 20,0% (mais 5,6 milhões de pessoas) contra o mesmo trimestre de 2019. São os que não conseguem emprego, trabalham menos horas do que gostariam, que não procuraram emprego mas estavam disponíveis para trabalhar ou que procuraram emprego mas não estavam disponíveis para a vaga.
ARROCHO NA RENDA DO TRABALHADOR
O rendimento médio real habitual (R$ 2.542) no trimestre terminado em agosto subiu 3,1% frente ao trimestre anterior e 8,1% contra o mesmo trimestre de 2019. A massa de rendimento real habitual (R$ 202,5 bilhões) caiu 2,2% (menos R$ 4,6 bilhões) frente ao trimestre anterior e 5,7% (menos R$ 12,3 bilhões) contra o mesmo trimestre de 2019.
Além da crise estar se agravando, as medidas de flexibilização do isolamento social contribuíram para o aumento da taxa de desemprego. Isso porque, na composição da taxa, é considerado desocupado apenas quem efetivamente procurou trabalho nos dias antecedentes à pesquisa, segundo o IBGE.
“Esse aumento da taxa está relacionado ao crescimento do número de pessoas que estavam procurando trabalho. No meio do ano, havia um isolamento maior, com maiores restrições no comércio, e muitas pessoas tinham parado de procurar trabalho por causa desse contexto. Agora, a gente percebe um maior movimento no mercado de trabalho em relação ao trimestre móvel encerrado em maio”, diz Adriana Beringuy, gerente da PNAD-Contínua.
“O cenário que temos agora é da queda da ocupação em paralelo com o aumento da desocupação. As pessoas continuam sendo dispensadas, mas essa perda da ocupação está sendo acompanhada por uma maior pressão no mercado”, diz a pesquisadora.
Com o fim do auxílio emergencial de R$ 600 a tendência é a situação ficar ainda pior, agravada pela inércia do governo Bolsonaro diante da crise e da proposta de pacote de arrocho fiscal e manutenção de teto dos gastos e investimentos públicos zero na economia.