População subutilizada foi recorde no trimestre encerrado em julho: 32,9 milhões de pessoas
O IBGE divulgou nesta quarta-feira (30) que a taxa de desemprego foi de 13,8% no trimestre de maio a julho de 2020 – maior alta já registrada na série histórica da pesquisa PNAD Contínua, iniciada em 2012. Ao todo são 13,130 milhões de pessoas desempregadas no período, um aumento de 4,5% (561 mil pessoas) em relação ao mesmo trimestre de 2019.
O instituto também constatou um recorde na população subutilizada (o desempregado, aquele que trabalha menos horas do que gostaria, que não procurou emprego mas estava disponível para trabalhar ou que procurou emprego mas não estava disponível para a vaga). São 32,9 milhões de pessoas, atingindo uma alta de 14,7% ante o trimestre anterior, e 17,0% frente ao mesmo trimestre de 2019.
A população desalentada (5,8 milhões) foi recorde, com altas de 15,3% (mais 771 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 20,0% (mais 966 mil pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019.
Diante da recessão econômica, a população ocupada no País recuou para 82 milhões de brasileiros – no ano passado eram 92 milhões. De maio a julho de 2020, o Brasil perdeu 7,2 milhões de postos de trabalho, queda de 8,1%, em relação ao trimestre anterior. O nível de ocupação da população, que é o percentual de pessoas ocupadas em idade de trabalhar, também caiu drasticamente, ficou em 47,1%. Ou seja, menos da metade da população em idade para trabalhar.
Para economista, taxa poderá ultrapassar 20% em 2021
Na avaliação do economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro, a taxa de desemprego não se encontra em um patamar mais elevado graças ao auxílio emergencial de R$ 600, aprovado pelo Congresso. No entanto, Oreiro alerta que para o próximo ano a taxa de desempregados poderá ultrapassar 20%, já que os brasileiros que estão fora da força de trabalho estão começando a procurar emprego já que o governo Bolsonaro cortou o valor do auxílio para R$ 300. “Com o fim do auxílio vai voltar todo mundo. O que foi captado no primeiro semestre como redução da força de trabalho, no ano que vem vai ser captado como desemprego”, disse Oreiro ao HP.
“Se você olhar a taxa de participação você vai ver que ela despencou em 7 ou 8 p.p no primeiro semestre de 2020, mas a taxa de desemprego ela subiu pouco, porque de fato o sujeito que perdeu o emprego durante a pandemia ele, primeiro, não podia procurar emprego por conta do distanciamento social, e segundo, ele tinha a renda emergencial”. Isto significa que “ele ficou fora da força de trabalho, não foi captado pela estatística de desemprego, porque o desempregado é a pessoa que nos últimos 30 dias procurou emprego”. “Foi esse movimento que ocorreu no primeiro semestre de 2020, você teve uma redução muito significativa da força de trabalho. Só que esse pessoal vai voltar agora. Já está começando a voltar com a redução do auxílio emergencial e com o fim do auxílio vai voltar todo mundo. O que foi captado no primeiro semestre como redução da força de trabalho, no ano que vem vai ser captado como desemprego”, explicou o economista.
O economista aponta que para retomar os empregos no País é preciso alavancar o investimento público. “Para que consigamos minimamente recuperar o crescimento em 2021, gerando empregos, precisamos aumentar muito o investimento público. E para isso tem que se tirar o teto de gastos. Isso não vai nos levar ao abismo fiscal porque, nas condições atuais da economia, é inclusive possível que tenhamos uma expansão fiscal que se pague a si mesma. É assim que o Brasil vai se livrar do problema fiscal, não é cortando gasto com salários ou investimentos”, defendeu Oreiro, no Senado Federal, em sessão temática para discutir propostas para o Brasil no cenário pós-pandemia.
ANTONIO ROSA