Quando a pandemia do novo coronavírus começou a se alastrar pelo país, o Brasil já contava com 12,9 milhões de desempregados. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua) divulgada hoje (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que se referem ao desemprego do trimestre encerrado em março – que coincide com as medidas restritivas tomadas por governadores e prefeitos para contenção da epidemia.
Sobre o último trimestre de 2019, o registro representa um aumento de 1,3 ponto percentual – ou 1,2 milhão de pessoas a mais na fila do desemprego. Ou seja, antes mesmo de a pandemia se tornar catastrófica para trabalhadores formais e informais, a falta de trabalho já vinha subindo como consequência da política econômica do primeiro ano de governo de Bolsonaro.
Assim como o Produto Interno Bruto que se arrasta em torno de 1%, desde a grande recessão de 2014-2016, a taxa de desemprego, que bateu o teto de 12% em 2016, não sai do patamar em torno de 11%, resultado do final de 2019. No primeiro ano de governo Bolsonaro, o PIB cresceu 1,1%, menos do que cresceu a economia nos anos 2017 e 2018, ambos 1,3%.
Ainda que Paulo Guedes, o ministro da Economia de Bolsonaro, inicie suas intervenções dizendo que “o país estava decolando quando foi atingido pela onda do coronavírus”, os números são trágicos e vêm se agravando. E o ministro continua dizendo, assim como Bolsonaro considera a pandemia “uma gripezinha”, que sua política de devastação nacional – de ajuste fiscal, reformas estruturantes, privatizações e teto de gastos nos recursos para educação e saúde – é a saída para o país enfrentar a crise econômica agravada pela pandemia.
Queda generalizada
De acordo com os pesquisadores do IBGE Adriana Beringuy e Cimar Azeredo, os efeitos da pandemia tem participação no aumento do desemprego apenas a partir da segunda quinzena de março. Isso significa que os meses de janeiro e fevereiro, além da metade de março, não podem ser colocados na conta da crise sanitária.
“Foi uma queda disseminada nas diversas formas de inserção do trabalhador, seja na condição de trabalhador formal ou informal”, disse Beringuy.
População ocupada: maior recuo da série histórica
A pesquisa antecedente à crise também registrou o maior recuo da série histórica na população ocupada, que caiu 2,5% no trimestre encerrado em março. Isso representa, em números, 2,3 milhões de pessoas, sendo 1,9 milhão desses trabalhadores informais. O número não é igual ao dos que perderam o emprego no período porque a metodologia do IBGE considera desocupado apenas aqueles que buscaram emprego nos 30 dias antecedentes à pesquisa.
Já o trabalho informal, que vinha batendo recordes durante todo o ano passado, chegou a contabilizar 36,8 milhões de pessoas em março – o que representa 39,9% da força de trabalho do país. Ou seja, esse é o universo de pessoas que já entraram na crise sem nenhum tipo de renda. O socorro a essas famílias veio tardiamente e dificultado pelo governo com auxilio emergencial de R$ 600 aprovado pela Congresso Nacional em meados de abril, que ainda não chegou a todos os que precisam. O número de pessoas que não estavam em nenhum cadastro do governo e se inscreveram para receber o auxílio se aproxima de 50 milhões de pessoas.
Para os trabalhadores formais que perderam seus empregos e renda antes ou depois da crise, o drama é a fila do seguro desemprego.
Cerca de 200 mil trabalhadores que perderam o trabalho entre março e a os primeiros quinze dias de abril ainda não conseguiram solicitar o benefício por dificuldade de acesso aos cadastros virtuais do Ministério do Trabalho, segundo dados do próprio governo. Para especialistas, esse número deve ser ainda maior.