“O resultado da indústria está no escopo dos resultados de renda, emprego e inflação”, diz o IBGE. “Nível de produção da indústria voltou a ficar abaixo daquele do pré-pandemia: -2,1% aquém de fev/20”, destaca o Iedi
A produção industrial brasileira caiu 1,3% em julho, na comparação com junho, voltando a ficar abaixo do patamar pré-pandemia. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na véspera, o instituto havia anunciado que o Produto Interno Bruto (PIB) do país retraiu 0,1% no segundo trimestre do ano. A soma disso, com o fato de o setor produtivo ter dado a largada no terceiro trimestre com queda significativa, antecipa que 2021 será mais um ano desastroso para a economia.
O volume de produção da indústria recuou 0,2% em junho ante maio, mostrando que esse movimento não é sazonal e não pode ser inteiramente explicado pela crise energética recente, como sugere o governo. A política econômica de Paulo Guedes e as escolhas feitas pela gestão de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia estão na raiz do problema.
O gerente da pesquisa, André Macedo, enfatiza a gravidade das perdas do mês: “considerando apenas os meses de julho, essa queda de 1,3% foi a mais intensa desde julho de 2015”. Ele também aponta que o resultado deixa o setor também em patamar mais baixo do que julho do ano passado – quando ainda não havia vacina e o país ainda tentava entender como enfrentar a pandemia.
Assim, a indústria atualmente está, em termos de volume de produção, 18,5% abaixo do pico histórico, alcançado em 2011, e em patamar equivalente ao que produzia em 2009, ou seja, 12 anos atrás.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, “a segunda metade de 2021 começou como havia terminado o semestre anterior, isto é, com grande dificuldade para crescer”, destacando que, dos sete meses de 2021, cinco são negativos, um mês de virtual estabilidade e apenas uma taxa positiva de crescimento na série com ajuste.
“O PIB divulgado ontem também pelo IBGE sinaliza igualmente para uma fase adversa, sendo que o PIB da indústria total variou -0,2% no 2º trim/21 e o PIB da indústria de transformação acumulou dois trimestres no vermelho”, ressaltou o Iedi.
Indústria perde com renda arrochada
A produção de alimentos e bebidas foi a principal responsável pela queda em julho, um reflexo, segundo o IBGE, da baixa demanda, que por sua vez é arrefecida pelo desemprego e inflação.
“O resultado da indústria está no escopo dos resultados de renda, emprego e inflação”, enfatizou Macedo.
A indústria de produtos alimentícios caiu 1,8% no mês comparado a junho, a segunda queda que faz com que o setor acumule perdas de 3,8% em dois meses. O ramo de bebidas teve recuo de 10,2%. O resultado fez com que o grande setor de bens de consumo semi e não duráveis tivesse resultado praticamente nulo (0,2%) na passagem de junho para julho.
A produção de bens de consumo duráveis foi, entre os grandes setores, o mais impactado pela redução da produção, com queda de -2,7% no mês. Neste macro estão os ramos de veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,8%) e outros equipamentos de transporte (-15,6%).
O setor de bens intermediários caiu 0,6%, enquanto o de bens de capital ficou estagnado, em 0,3%. Neste último, vale o destaque da queda de 4% na produção de máquinas e equipamentos, que pode servir de medida, também, para o nível de investimentos que as indústrias estão fazendo como um todo.