
“Vivemos sob um grande número de sanções há muito tempo”, disse Dmitry Peskov, porta-voz da presidência russa, ao responder ao “prazo” de 10 dias dado por Trump para a Rússia fechar “acordo” com Kiev
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentou na quarta-feira (30) o novo ultimato do presidente dos EUA, Donald Trump – 10 dias para chegar a um “acordo” sobre o conflito na Ucrânia, prazo que até há pouco seria de 50 dias -, assinalando que a Rússia já vive “sob um grande número de sanções há muito tempo, e a economia já opera sob um grande número de restrições”. “Portanto, é claro, já desenvolvemos uma certa imunidade”, ele disse a repórteres.
Anteriormente, Peskov ironizara que a Rússia tinha “tomado nota” da declaração de Trump. Na mesma linha, sobre tais ameaças, o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergey Ryabkov, reiterou, com firmeza, no início do mês, que nenhuma nova sanção impediria Moscou de continuar a “seguir nosso caminho independente, soberano e sustentado”.
Alegando estar “decepcionado”, Trump anunciou de súbito que daria a Moscou dez dias para chegar a “um acordo de paz” com Kiev e, expirado o prazo, iria introduzir “tarifas e outras coisas” contra a Rússia, além de tarifas secundárias contra países que comercializam com os russos.
Apesar de sua já sua notória postura, Trump admitiu não ter certeza se restrições adicionais à Rússia e seus parceiros comerciais iriam colar. “Pode ou não afetá-los [Rússia]”, disse o presidente dos EUA a repórteres na terça-feira.
Como assinalou repetidamente o presidente Vladimir Putin, a Rússia está “comprometida com o processo de paz para resolver o conflito em torno da Ucrânia”, mas quer resolver as “causas profundas”.
Moscou insiste que um acordo deve incluir a restauração da neutralidade ucraniana, a desmilitarização e desnazificação, os direitos constitucionais dos russos étnicos e o reconhecimento da nova realidade territorial no terreno.
Sem rodeios, o ex-presidente russo Dmitry Medvedev disse nesta semana que não cabe a Washington “ditar” quando Moscou e Kiev devem negociar. Qualquer ameaça marca apenas “um passo em direção à guerra” entre a Rússia e os EUA, advertiu.
“Trump está brincando de jogo de ultimatos com a Rússia: 50 dias ou 10”, escreveu Medvedev em uma postagem no X. Ele acrescentou que Trump deveria lembrar de duas coisas: primeiro, que a Rússia “não é Israel nem mesmo o Irã”; e segundo, que “cada novo ultimato é uma ameaça e um passo rumo à guerra. Não entre Rússia e Ucrânia, mas com o próprio país dele”.
E concluiu: “Não desça a estrada de Sleepy Joe [Biden dorminhoco]!”.
10.000 SANÇÕES
A Rússia é o país mais sancionado do mundo, com mais de 10.000 sanções desencadeadas pelos EUA e pela União Europeia, mais alguns vassalos, como parte da guerra de anexação da Ucrânia à Otan e contra a Rússia, um desdobramento do golpe da CIA de 2014 em Kiev, que instalou um regime neonazista que perseguiu russos étnicos e, depois, rompeu com os Acordos de pacificação de Minsk.
Ao invés do estrangulamento econômico pretendido, as sanções acabaram possibilitando a restauração de setores industriais russos e a dinamização da economia, que já é a primeira da Europa em paridade de poder de compra e a quarta no mundo. Sanções que voltavam como um bumerangue contra a União Europeia, que mergulhou na estagnação e até desindustrialização após se autoprivar do gás russo barato.
Sob o ilegal confisco das reservas em bancos europeus e norte-americanos e exclusão do país do sistema de pagamentos global SWIFT, a Rússia se viu forçada a ampliar o uso do rublo em suas transações internacionais e ampliou suas relações com os países do BRICS. Agora a participação da moeda russa nos pagamentos por exportações superou 50% em todas as regiões geográficas do comércio exterior. Ou, como observou certa vez o presidente Putin, com as sanções os americanos “estão serrando o galho sobre o qual estão sentados (o dólar)”.