Após trinta e cinco dias de fechamento de nove ministérios e muitas agências federais, para chantagear parlamentares a liberarem US$ 5,7 bilhões para seu muro da vergonha na fronteira, o presidente Trump – que jurava que o ‘shutdown’ seria mantido até o dinheiro aparecer – se viu forçado a recuar e aceitou a suspensão por três semanas, até 15 de fevereiro. Pouco depois do anúncio, o Congresso dos EUA aprovou a medida, assinada à noite pelo presidente, e o governo dos EUA está reaberto.
A suspensão do ‘fechamento’ vai permitir que o Congresso encontre uma solução para o impasse sobre o orçamento, 800 mil servidores recebam seus salários e sejam amenizados os enormes prejuízos causados a milhões de cidadãos. Na sexta-feira (25), por falta de controladores de voo, o Aeroporto La Guardia, em Nova Iorque, ficou fechado por horas, o que em cascata provocou atrasos em outros aeroportos da costa leste.
Foi a segunda derrota de Trump em menos de uma semana, Ele já tivera de admitir que estava “dentro das prerrogativas” da presidente da Câmara de deputados Nancy Pelosi vetar (ao retirar o convite) seu Discurso do Estado da União enquanto o governo permanecesse “fechado”. Antes do recuo, Trump voltou a ameaçar decretar ‘emergência nacional’ para utilizar dinheiro já alocado ao Pentágono para aquela que parece ser sua principal obra de governo.
A queda da já baixa popularidade do bilionário presidente, o descontentamento de senadores republicanos que terão de disputar a eleição do próximo ano e a exasperação que o ‘fechamento’ tem causado, ajudaram a empurrar Trump para o acordo provisório. Sem fechamento, Trump não precisa passar pelo vexame de adiar o Discurso sobre o Estado da União. Também era premente que os funcionários do Imposto de Renda voltassem ao serviço para evitar o adiamento da devolução de imposto e consequente cólera dos contribuintes.
Os democratas estão eufóricos por terem encurralado o autointitulado mestre da negociação. Ao recuar, Trump tentou manter a pose: “Se não conseguirmos um acordo justo com o Congresso, o governo vai fechar em 15 de fevereiro, ou usarei os poderes que me são conferidos pelas leis e pela Constituição dos Estados Unidos para resolver essa emergência”. Depois, tuitou que era “boa” a chance de acordo.
No Congresso, também ficou patente que já havia senadores republicanos ensaiando costear o alambrado. Na votação de quinta-feira no Senado sobre os planos republicanos e democratas rivais de reabrir o governo, a medida patrocinada pelos democratas de suspensão contínua de três semanas sem financiamento de muros, ganhou por 52-44. A proposta de Trump ficou aquém, pela margem mais estreita de 50-47.
Já se sabia que nenhuma delas valeria, porque teria que ter, pelo regulamento, 60 votos. A correlação no Senado é de 53 republicanos a 47 democratas, então seis republicanos se bandearam, e há notícias de duras trocas de recriminações dentro da bancada.
Fontes da Casa Branca asseveram que a situação vivida por policiais e guardas da fronteira, que praticamente estavam tendo de pagar do próprio bolso para ir trabalhar, também sensibilizou Trump. A proposta à qual ele acabou se rendendo partiu de um grupo bipartidário de senadores, que vêm buscando uma saída.
Nas hordas de xenófobos adeptos de Trump, o tom era de consternação, quando não de aberta revolta. O site de notícias Breitbart, em que o ex-estrategista do Trump, Steve Bannon, ganhou notoriedade, simplesmente postou “Governo Aberto. Nenhum Muro”. Outro site conservador, o Drudge Report, despejou: “Fundos Sem Muro”. Mas foi uma personalidade entre os deploráveis de Trump, Ann Couter, quem cutucou as costelas do presidente com mais contundência, e logo pelo Twitter: “Boas notícias para George Herbert Walker Bush: A partir de hoje, ele não é mais o maior covarde que já atuou como presidente dos Estados Unidos”.
A.P.