Queda foi registrada pelo Índice de Atividade Econômica do BC de janeiro a novembro do ano passado
A “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB) calculada pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) aponta que o Brasil está longe de recuperar as perdas da pandemia, acumulando tombo de 4,63% de janeiro a novembro de 2020.
O BC divulgou nesta segunda-feira (18) o índice de novembro que, apesar de positivo na comparação com outubro (+0,59%), perdeu força em relação aos resultados anteriores. No confronto mensal com novembro de 2019, houve recuo de 0,83%, além de ter encolhido 4,15% em 12 meses.
O dado de outubro de 0,86% foi revisado para 0,75%.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve de índice para medir o crescimento da economia. Embora o BC avalie a atividade econômica para compor o IBC-Br, o resultado oficial é divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar da pretensa narrativa de recuperação, a economia está 1,9% abaixo do nível de fevereiro 2020, e 7,6% do patamar de dezembro de 2013.
O resultado do IBC-Br para o mês já computa as consequências do corte do auxílio emergencial (de R$ 600 para R$ 300), única renda de milhões de famílias brasileiras durante a pandemia.
Esse impacto de demanda foi sentido em todos os setores da economia: em novembro, a despeito da proximidade das festas de fim de ano, o comércio teve resultado negativo (o primeiro em seis meses); a indústria desacelerou e passou a acumular perdas de -5,5% nos 11 meses do ano; a demanda por serviços se manteve 6% abaixo do patamar pré-pandemia, em fevereiro.
Instituições financeiras projetam que a queda no PIB do país este ano será de 4,37%. Já o Banco Mundial prevê queda de 5,4%, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o tombo da economia será na ordem de 5,8%.
Para economistas, até os neoliberais, o encerramento completo da renda emergencial a partir deste ano – mesmo que o País ainda esteja em estado de calamidade – e a ausência de uma política econômica colocam a recuperação em um horizonte cada vez mais distante.
“A evolução dos casos da Covid-19 não favorece uma retomada vigorosa da economia. E ainda temos heranças que ficaram de 2020 para equacionar, como a inflação mais alta, o desemprego pressionando e o fim do auxílio emergencial, que vinha servindo de amparo para todos os indicadores de atividade”, avalia o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.
Segundo o IBGE, o país encerrou o ano com mais de 14 milhões de desempregados e com o fim do auxílio a situação tende a se agravar, e muito.
Para o economista Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas além do recrudescimento da pandemia e do desemprego que “sempre aumenta no primeiro trimestre em relação ao último trimestre do ano anterior”, “o fim não só do auxílio emergencial, mas de outros estímulos do governo, como o Programa de Manutenção de Emprego e Renda” vão agravar a situação da economia este ano e a vida de milhões de brasileiros.
“Temos uma conjunção que vai atuar para uma piora da vida dos rendimentos da população e que vai afetar principalmente os mais pobres”, alertou sobre os brasileiros que perderam renda com o auxílio emergencial e vivem na extrema pobreza.
Para o economista Nilson Araújo de Souza, apesar do repique do PIB no terceiro trimestre deste ano, a economia já começou a desacelerar. “Essa desaceleração se deu por causa da redução do auxílio de emergência, cuja injeção na economia contribui para dinamizar a demanda das empresas. E o governo não tomou qualquer medida até agora para suprir esse auxílio. Além do drama social que ameaça, é um recurso que deixa de entrar na economia. Com o recrudescimento da pandemia, esse auxílio é ainda mais imprescindível”, afirmou ao HP.
“Com a corrosão da renda real, causada pela inflação especialmente no último trimestre de 2020, e o fim do auxílio emergencial, o efeito-renda deve ter impacto de modo a impedir a continuidade do crescimento no consumo de bens e serviços”, avalia o economista Helcio Takeda, em reportagem ao Valor.
Segundo Otto Nogami, do Instituto de Ensino e Pesquisa, não existirá recuperação se o governo não realizar novas medidas para socorrer empresas e trabalhadores. O fim do auxílio emergencial “foi precipitado”, à medida que não se levou em consideração a nova onda de Covid-19, tampouco “medidas alternativas para promover a geração de emprego”.
“Não fizeram nada para diminuir o volume de dependência [nos beneficiários]”, disse Nogami, que defende investimentos públicos e redução da carga tributária como medidas para promover a recuperação econômica.