Os desatinos de Jair Bolsonaro não estão só afundando o país. Eles estão provocando um ataque de nervos até mesmo no que resta de apoiadores de seu desgoverno. É tiro para todos os lados. Uma parte dos fiéis bolsonaristas convoca manifestação contra segmentos do Congresso e juízes do Supremo, que, segundo eles, estariam sabotando os planos do “mito”. Outra parte diz que quem convoca o ato são grupos de “adesistas”, “neuróticos” e “fanáticos”. Ou seja, o governo Bolsonaro é um tremendo furdunço e ninguém se entende.
“Amigos, vocês estão cegos”, escreveu a deputada Janaína Paschoal (PSL) no grupo de WhatsApp dos deputados estaduais da legenda, depois de uma série de embates sobre a necessidade do ato de rua. “Eu peço que vocês assistam e me respondam se um presidente da República, na plenitude das suas faculdades mentais, publicaria um vídeo desses. Por favor”, disse ela na gravação, sobre a divulgação por Bolsonaro do apoio enfático do pastor congolês Kunda ao seu governo.
“O Governo se coloca em uma situação de imobilismo e chama as pessoas para tirá-lo do imobilismo”, acrescentou a deputada paulista. “Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!”, escreveu ela.
Os ânimos não serenaram. Ao contrário. O bate-cabeça dos bolsonaristas se espalhou em todas as direções. O empresário Gabriel Kanner, presidente-executivo do movimento Brasil 200, formado por empresários seguidores de Bolsonaro, criticou a manifestação. “A forma como surgiu essa manifestação foi um pouco nebulosa no nosso entendimento”, disse.
“Vimos pessoas com hashtags sobre invadir o Congresso ou fechar o STF. A nossa orientação é refutar qualquer tipo de pedido neste sentido”, alertou Kanner.
O chamado para o ato “contra o centrão” foi estimulado depois que o próprio Bolsonaro compartilhou um texto, em tom de desânimo, que classificava o país como “ingovernável”. Os defensores da manifestação dizem que o Congresso está travando o avanço das pautas do governo.
Eles criticam também os militares, que não teriam “interesse” na agenda do presidente. “A manifestação do dia 26 é um ato legítimo diante de chantagens e traições em curso”, argumentou, por sua vez, o deputado Eduardo Bolsonaro.
O presidente do PSL, Luciano Bivar, foi em direção oposta ao filho do presidente e disse, nesta terça-feira (21), não ver “por que existir qualquer manifestação”. “Para quê tirar o povo para uma coisa que já está dentro de casa? Já ganhamos as eleições, já passou isso aí”, disse ele.
“Eu vejo sem sentido essa manifestação”, completou o presidente da legenda. Até o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o ato. “Não é momento para manifestações duras nem pró, nem contra o governo”, prosseguiu.
Os ataques mais fortes à manifestação bolsonarista do dia 26 vieram do MBL. “São grupos adesistas. Independentemente do que o presidente Bolsonaro faça, estão lá com ele, apoiando ele. Isso também não tem nada de liberal. O presidente da República, quando erra, precisa ser criticado, sim”, destacou o deputado Kim Kataguiri, que ressaltou ter a mesma visão do grupo Vem Pra Rua.
Ele destacou que os bolsonaristas mais ferrenhos “não têm bolas” para fechar as instituições, mas “querem emparedar as instituições demonizadas”. “Estão mobilizando massa de neuróticos e fanáticos para isso. Tudo o que pretendem é criar o caos. Apenas na bagunça sobrevivem”, criticou Renato Santos, outro integrante do grupo.
“O sucesso de um ato girando em torno dessa retórica é péssimo para reformas. É uma declaração de guerra ao Congresso. Qualquer pessoa minimamente responsável não apoia uma insanidade dessas”, completou o dirigente do MBL.
Por suas críticas, o MBL virou vítima de um violento arrastão digital promovido por bandos bolsonaristas. “Fazem ataques a qualquer um que critique o governo. O MBL é a bola da vez”, disse um dos coordenadores do movimento, Renato Batista. “Se a manifestação do dia 26 for um fiasco, isso vai potencializar os atos do dia 30 contra o governo”, alertou.
Outro arranca-rabo entre bolsonaristas por causa da desastrada manifestação, foi entre as deputadas paulistas Carla Zambelli e Joice Hasselmann. Só faltaram se pegar. Dirigindo-se a Hasselmann, Zambelli disse no Twitter, que “o povo vai mostrar o que acontece quando o Congresso esquece quem o colocou lá no poder”.
“Não se engane, Joice Hasselmann não vai divulgar a manifestação porque está com o centrão, foi indicada por eles para ser líder do governo e agora tem que pagar essa conta”, arrematou. No sábado, Joice rebateu, ressaltando saber, “ao contrário” dela [Carla], que “sem a maioria não se aprova nada”.
Para desespero dos militares do governo, o astrólogo Olavo de Carvalho, apesar de morar na distante Virgínia e prometer não se meter mais nos assuntos do governo Bolsonaro, não aguentou e resolveu meter sua colher no furdunço. Defendeu não só a realização do ato, como disse que Bolsonaro devia participar. Para ele, “a participação do presidente seria um gesto importante a seus apoiadores”. Os militares se opõem ao ato do dia 26 de maio.