As desigualdades salariais entre homens e mulheres na França têm um custo enorme para as empresas e a sociedade francesas. Segundo um estudo realizado pela Fundação Concorde, uma fundação privada independente, publicado pelo Le Figaro, as perdas anuais chegam a 62 milhões de euros.
Economistas da Fundação Concorde afirmam que uma aplicação rigorosa da lei de igauladade salarial teria efeitos positivos para a economia francesa com o aumento da taxa de valor agregado (IVA), a alta das receitas fiscais, aumento das contribuições sociais e patronais que poderia gerar um ganho de receitas pelo Estado de 33,7 milhões de euros. Em cinco anos, o rendimento fiscal adicional para o governo poderia ser alavancado em 168,74 bilhões de euros.
“Essa alavanca permitiria pensar em novas reformas para levantar os grilhões que pesam sobre empresas e investimentos”, explicam ao Figaro Erwann Tison e Clelia Aucouturier, co-autores do estudo. E prosseguem: “Deve haver uma consciência por parte das empresas. Todos podem ser um vencedor. Entre as possíveis reformas com estes ganhos orçamentários se poderia reduzir totalmente os déficits dos diferentes regimes de pensões, poderia ser garantida a segurança social e o seguro desemprego ou uma queda de 3 pontos de IVA, ou uma redução de 40% no imposto de renda …”
A Fundação calcula também que a eliminação das desigualdades salariais levaria a um aumento de 6,66 bilhões de euros em poupança e um aumento no consumo de 21,98 bilhões de euros, o que poderia ajudar muito no aquecimento da combalida economia francesa.
E equidade salarial entre homens e mulheres é uma questão de interesse público que tem a ver com o desenvolvimento econômico e a igualdade de direitos entre os cidadãos e que tem sido reivindicada há décadas por trabalhadores homens e mulheres, pelo movimento sindical e pelo movimento de mulheres. Mas a evolução tem sido lenta. Na França três leis (2006, 2012, 2014) foram promulgadas em favor da igualdade de remuneração nos últimos dez anos. Ainda assim um relatório recente do Forum Econômico Mundial aponta que no ritmo em que as coisas andam hoje somente no ano de 2.186, portanto daqui a 170 anos, essa igualdade seria atingida.
A opinião pública também abordou o tema em vários países com campanhas de sensibilização importantes, modernas e inovadoras. Várias iniciativas ocorreram para denunciar a desigualdade e a discriminação no trabalho. Em outubro de 2016, na Islândia, milhares mulheres pararam de trabalhar precisamente às 14h38, deixando de trabalhar o percentual de horas de trabalho corresponde ao não recebimento do salário tal qual os homens. Já em 2010, um evento similar foi organizado também na Islândia, que começou três minutos antes. Na França, o coletivo “Les Glorieuses” convidou os funcionários a parar o trabalho em 7 de novembro de 2016 às 16h34. Este mesmo coletivo também pede para parar o trabalho em 3 de novembro deste ano, quatro dias antes do ano passado.
No Reino Unido a partir de abril desse ano as empresas com mais de 250 funcionários estão obrigadas a tornar públicos os salários médios recebidos por homens e mulheres, bem como a distribuição por sexo e por nível salarial de seus funcionários.
Apesar do debate, de pequenas mudanças nas leis e da organização de greves e protestos, nada muda: a diferença salarial entre homens e mulheres continua 19% em média de acordo com o Observatório das desigualdades na França. Entre os que têm cargos executivos a diferença é de 26,3% e entre os funcionários 9,3%. Em média, quando um gerente recebe um salário líquido mensal de 4.380 euros, uma mulher executiva receberá apenas 3.469 euros.
ROSANITA CAMPOS