Em carta encaminhada ao governo, 38 empresários e 4 instituições dos setores da indústria, agrícola e de serviços alertaram para “o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia”.
Eles afirmam “que é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros”.
“Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, diz o documento que foi entregue ao vice-presidente Hamilton Mourão na sexta-feira (10).
Os executivos de empresas brasileiras e estrangeiras relatam a enorme pressão que estão recebendo do exterior por causa da desastrosa política ambiental de Bolsonaro, de desmatamento, queimadas e ameaças às reservas indígenas, que vem se agravando pela desregulamentação implementada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Esse declarou, na famosa reunião ministerial do dia 22 de abril, que era preciso aproveitar a pandemia da Covid-19 e “passar a boiada”.
“Nunca fomos tão questionados sobre nossa responsabilidade ambiental, em todos os idiomas, em todos os fóruns. Como temos empresas globais (negócios adquiridos no exterior), nossos porta-vozes nessas companhias em diversos países precisam responder sobre o que está acontecendo na Amazônia”, disse João Paulo Ferreira, presidente da Natura&Co América Latina, holding que une Natura, Avon, The Body Shop e Aesop.
A Suzano, uma das maiores produtoras e exportadoras de celulose do mundo, vê o risco dos crimes ambientais prejudicarem a entrada da celulose brasileiras em outros países.
“Sentimos muitos questionamentos tanto de clientes quanto de investidores. Existe um grupo de stakeholders [acionistas] que, no passado, não se preocupavam muito com isso, mas o nível de interesse no tema [ambiental] se elevou. Muitos investidores estão condicionando a compra de ações e outros papéis das empresas à aderência delas aos melhores padrões”, diz Marcelo Bacci, diretor executivo de finanças da Suzano.
A Marfrig, umas das maiores empresas de carnes do país, e que também faz parte do grupo de empresas que se manifestou junto ao governo, afirmou que dos 16 mil fornecedores da Amazônia, bloqueou 3.500 por alguma irregularidade. E diz que é possível criar gado sem desmatar. “Essa pressão cresceu muito no ano passado e, mesmo com a pandemia, nos últimos cem dias, não arrefeceu”, afirma Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade da Marfrig.
“Acreditamos que o tema vai crescer e, certamente, dificultar a exportação de produtos brasileiros”, diz Pianez. “Nós reconhecemos que há um problema, os números deixam isso claro, e sabemos que tem muito a ver com a ilegalidade”.
Segundo o executivo da Marfrig, há um movimento grande, principalmente das grandes redes de varejo da Europa para pressionar o Brasil e se a política do governo em relação ao desmatamento não mudar e as empresas não se posicionarem, o relação comercial com esses países ficará perdido. “Os avisos estão postos. Cabe às empresas, agora, não deixar que virem realidade”, disse.
BOICOTE
Recentemente, a subsidiária da Cargill, a Cargill Aqua Nutrition, foi excluída a lista de fornecedores pela Grieg Seafood, uma das maiores produtores de salmão do mundo, por ligações como o desmatamento ilegal na Amazônia. A Nestlé parou de comprar a soja da brasileira Cargill por não conseguir identificar a origem do grão. As redes varejistas H&M e da VF, dos calçados Timberland e Vans, também sofreu sanções por causa da origem do couro.
“Não há uma empresa que possa ficar imune ao contágio do que está ao seu redor. Você ter que toda hora se explicar inibe o investimento. Você fica perdendo tempo tendo que se defender em vez de fazer propaganda das coisas boas que você faz”, disse Marina Grossi, presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), uma das organizações contra o desmatamento e signatária do documento entregue ao governo Bolsonaro.
Com informações da Folha de S.Paulo, O Globo e Valor Econômico