A área sob alertas de desmatamento na Amazônia em outubro atingiu 904 km2, recorde para o mês na série histórica iniciada em 2015 com o sistema Deter-B, do Inpe. A alta é de 3% em relação ao mesmo mês de 2021, mas desde agosto o aumento chega a 44,65%. Os dados são do relatório do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgado nesta sexta-feira (11).
A Amazônia Legal engloba oito estados do norte e do centro-oeste brasileiro: Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. As notificações são feitas pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter-B).
O acumulado de alertas entre agosto e outubro atingiu 4.020 km2, ante 2.779 km2 em igual período de 2021. Como a taxa de desmatamento na Amazônia é medida sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte, o estrago será herdado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que terá dificuldade para reduzir a taxa em seu primeiro ano de mandato.
A taxa oficial de desmatamento em 2022 (com os dados de agosto do ano passado a julho deste ano), do sistema Prodes, também do Inpe, ainda não foi divulgada. A conferir se o governo Bolsonaro vai repetir o vexame do ano passado e esconder o Prodes durante a 27a Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, que é realizada no balneário egípcio de Sharm El-Sheikh e termina no próximo dia 18.
Sob Bolsonaro, o desmatamento chegou a 13.038 km2 em 2021, maior taxa em 15 anos, que representa alta de 73% em relação a 2018.
Aos números de desmatamento somam-se os de queimadas: o total de focos na Amazônia de janeiro a outubro já é 49,5% maior do que no ano anterior. Foram 101.215 de janeiro a outubro de 2022, ante 67.715 nos mesmos meses de 2021.
“Neste fim de mandato, há uma corrida de criminosos ambientais para derrubar a floresta, aproveitando o fato de que ainda têm um parceiro sentado na cadeira da Presidência da República”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito prometeu “uma Amazônia viva”, reativando políticas de proteção da floresta e combate ao desmatamento, diferenciando-se do presidente de extrema-direita. A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que tem um histórico de luta em defesa da Amazônia, participa do encontro no Egito representando a delegação do governo eleito e sinalizando para uma nova política de defesa ambiental rígida.
Lula viajará ao Egito na próxima segunda-feira, convidado pelo presidente deste país, Abdel Fatah al Sisi, para participar da conferência do clima COP27, em sua prévia internacional antes de assumir o cargo em 1º de janeiro de 2023. O governo petista pretende recuperar o prestígio internacional com uma agenda voltada para a proteção ambiental.
“Enquanto Lula está a caminho do Egito para se reunir com líderes do mundo inteiro na tentativa de resgatar a imagem do Brasil, Bolsonaro continua no país, implementando sua agenda de destruição ambiental”, ressalta Astrini.