
De janeiro a outubro de 2021, devastação cresceu 33% em relação ao mesmo período do ano passado
O desmatamento na Amazônia de janeiro a outubro de 2021 chegou a 9.742 km2, o equivalente a mais de 6 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). É a maior devastação registrada para o período dos últimos dez anos.
Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, que monitora a floresta por meio de imagens de satélites. O recorde anterior para o período de janeiro a outubro havia sido o registrado em 2020, mas os dados deste ano são 33% maiores.
“Enquanto houver invasões de florestas públicas por grileiros, com objetivo de obter a posse legalizada dessas áreas, o desmatamento, infelizmente, tende a continuar nesses patamares”, afirma Antônio Fonseca, pesquisador do Imazon.
Na última segunda-feira (15), Jair Bolsonaro afirmou, durante evento com investidores em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que “os ataques que o Brasil sofre em relação à Amazônia não são justos”, que a floresta “tem mais de 90% de área preservada” e que está “exatamente igual a como era em 1500”.
Em outubro de 2021, o SAD detectou 803 km2 de desmatamento na Amazônia Legal, o segundo pior índice para o mês – o recorde de desmatamento registrado em outubro ocorreu em 2020, quando o desmatamento somou 890 km2.
Considerando o desmatamento por tipo de posse da terra, mais uma vez os dados mostram que as áreas que mais desmatam na Amazônia estão em propriedades privadas, enquanto que as terras indígenas são os territórios mais preservados.
No mês de outubro de 2021 o desmatamento ocorreu, segundo o Imazon: 56% em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse; 30% em Assentamentos; 9% em Unidades de Conservação; 5% em Terras Indígenas.
A situação em outubro foi mais crítica nos estados do Pará (56%), Amazonas (13%) e Mato Grosso (11%). Entre os municípios, os mais desmatados foram, mais uma vez, o paraense São Félix do Xingu, com 51% do desmatamento registrado em todo o estado, seguido por Pontel, com 40%.
Em setembro, o desmatamento na floresta amazônica foi o maior em dez anos. Foram desmatados 1.224 km2, uma área do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, ou o equivalente a mais de 4 mil campos de futebol destruídos por dia.

O maior dos últimos tempos
O levantamento anterior do Imazon, publicado em agosto, mostrou que a floresta perdeu 10.476 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021, meses em que se mede a temporada do desmatamento. Neste período, a Amazônia perdeu uma área equivalente a nove vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
A taxa foi 57% maior que a da temporada passada de desmatamento, além de ser a pior dos últimos dez anos
Na contramão dos recordes de desmatamento registrados desde o início do governo de Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, anunciou na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028.
Veja a publicação:
Sob governo Bolsonaro, Fundo Amazônia segue bloqueado
Mesmo com a série de compromissos revistos e assumidos pelo Brasil na COP26, em Glasgow, na Escócia, ainda não foi o bastante para destravar contribuições bilionárias de países europeus ao Fundo Amazônia, mecanismo que recebia doações estrangeiras para financiar ações de proteção da floresta.
O ingresso de novos recursos foi bloqueado no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro por causa da destruição acelerada do bioma. A Alemanha afirma que não pretende dar mais dinheiro enquanto o Brasil não demonstrar como vai implementar seus compromissos da COP26.
Já a Noruega deseja ver uma nova redução substancial no desmatamento para retomar doações. Na conferência climática, o Brasil assinou acordos multilaterais para proteção de florestas tropicais e redução na emissão do gás metano, além de ter se comprometido a zerar o desmatamento ilegal até 2028, a cortar emissões de gases de efeito estufa à metade até 2030 e a atingir a neutralidade climática (saldo zero entre emissões e absorções de carbono) em 2050.
Analistas avaliam que a sinalização dada pelo País foi positiva, mas será preciso mostrar mudança na prática.
“Os compromissos do Brasil na COP são muito bons, mas só são palavras nesse momento. O que precisamos são ações, a implementação desses compromissos”, disse o embaixador da Alemanha em Brasília, Heiko Thoms.
O embaixador alemão enumerou gargalos no plano de ação apresentado pelo País. A redução de 15% ao ano, a partir de 2022, seria o primeiro passo do Plano Nacional de Controle do Desmatamento. O governo Bolsonaro promete contratar cerca de 700 novos servidores para órgãos ambientais, como Ibama e ICMBio, além de manter um número semelhante de policiais da Força Nacional e mobilizar novamente as Forças Armadas.
“Para mim, é difícil ver como o Brasil vai reduzir o desmatamento no próximo ano em 15%, porque não tem pessoal, não tem financiamento e não tem muito tempo”, ponderou o embaixador alemão, durante recepção a jornalistas na embaixada na semana passada.
“Não podemos reabrir o Fundo (Amazônia) sem a convicção de que o Brasil vai reduzir o desmatamento ainda mais.” Nos últimos anos, o governo federal tem apostado em operações militares para combater crimes na floresta, mas a estratégia não foi capaz de frear a devastação da floresta.
O embaixador classificou o desmatamento como o “grande obstáculo” para tornar a cooperação entre os países ainda mais profunda. “Queremos ajudar a desbloquear o caminho, a remover esse obstáculo. Nossa cooperação poderia ser muito mais ampla, mas só se esse problema do desmatamento for resolvido. É muito fácil fazer, o Brasil já fez isso entre 2004 e 2012 e poderia fazer a mesma coisa agora”, afirmou Thoms.