
O Dr. Al-Farra, pediatra do Hospital Nasser* denuncia “níveis catastróficos” da fome que atinge as crianças palestinas em Gaza
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada cinco crianças menores de cinco anos na Cidade de Gaza sofre de desnutrição aguda, o que as coloca em risco imediato se não houver uma intervenção urgente.
O chefe do Departamento de Pediatria do Hospital Nasser, Dr. Ahmed Al-Farra, detalha a situação de saúde na Faixa de Gaza que, segundo ele, atingiu níveis catastróficos alertando especialmente para as consequências da fome que atinge as crianças.
Observando que são necessários dez centros de tamanho semelhante ao do Hospital Nasser, um dos maiores estabelecimentos de saúde da Faixa, para acomodar o elevado número de crianças que sofrem de subnutrição no enclave costeiro, o médico assinalou: “O hospital costumava receber poucos casos antes da guerra, mas hoje recebemos mais de 120 casos em apenas algumas horas”.
A desnutrição passa por três fases, mas em Gaza, as crianças sofrem uma fase crônica, afirmou, explicando que algumas alterações são impossíveis de corrigir, mesmo que elas voltem a alimentar-se adequadamente, dado que afetam o sistema nervoso central e algumas células nervosas.
Se uma criança não possuir uma alimentação minimamente adequada, terá dificuldades futuras de compreensão, percepção, expressão, resiliência e resolução de problemas, salientou o Dr. Al-Farra, acrescentando que poderá sofrer também de baixa estatura, problemas hormonais da tiróide e atraso na maturidade sexual, existindo mesmo a possibilidade de infertilidade.
Alertou para a propagação de outras doenças, como a meningite, infecções bacterianas de pele e o aumento de casos de poliomielite e gastrenterite.
Denunciou ainda que oito em cada dez pessoas sofrem de diarréia devido à proibição israelense de importação de vacinas contra o rotavírus e à contaminação das águas subterrâneas.
DESNUTRIÇÃO INFANTIL DOBROU ENTRE MARÇO E JUNHO
A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) alertou que as taxas de desnutrição infantil dobraram entre março e junho, em meio às restrições em vigor. A Organização Mundial da Saúde também emitiu um alerta, afirmando que a desnutrição em Gaza atingiu níveis alarmantes e que a obstrução deliberada da ajuda e os atrasos levaram diretamente à perda de vidas civis.
Mais oito pessoas, incluindo uma criança, morreram na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas devido à fome e à desnutrição severa, à medida que a catástrofe humanitária se aprofunda sob o contínuo cerco israelense, de acordo com fontes médicas informadas pela Agência Wafa.
Segundo dados hospitalares, o número de mortos por fome e desnutrição na Faixa de Gaza já chega a 289, incluindo 115 crianças. A crise se agravou significativamente após março de 2025, quando as autoridades israelenses isolaram todas as passagens de fronteira, impedindo efetivamente a entrada da maior parte da ajuda humanitária, incluindo alimentos e suprimentos médicos. Desde então, as agências humanitárias têm enfrentado dificuldades para entregar assistência, e os moradores relatam crescente desespero e falta de acesso a necessidades básicas.
*O hospital Nasser foi o mesmo bombardeado horas depois da denúncia do Dr. Al-Farra. Veja matéria com o morticínio a mísseis atirados pelas foraças fascistas de Israel contra o hospital.
O link para a matéria sobre o bombardeio do hospital Nasser é:
Israel bombardeia equipe de resgate em hospital de Gaza e mata 20 palestinos