Como gostaria, Beth Carvalho foi velada, nesta quarta-feira (1º), com uma grande roda de samba, familiares, amigos e fãs presentes, na sede do Botafogo de Futebol e Regatas – clube de coração da madrinha do samba, na Zona Sul do Rio.
Ela faleceu nesta terça-feira (30), no Hospital Pró-Cardiaco, onde estava internada desde janeiro.
O corpo da sambista chegou por volta de 9h ao salão nobre do Botafogo e com a chegada de muitos sambistas e músicos, a cerimônia fúnebre se tornou uma grande roda de samba de exaltação a madrinha do samba.
Após a cerimônia, às 16h, saiu em cortejo no carro do Corpo de Bombeiros para o crematório no Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio.
O caixão foi colocado sobre as bandeiras do Botafogo e da Mangueira, escola de samba de Beth. Um painel com imagens importantes da carreira da Madrinha do Samba foi montado na entrada.
Durante o velório, músicas que fizeram parte da história de Beth Carvalho foram cantadas, como “Doce refúgio”, em alusão ao Cacique de Ramos, “Coisinha do pai”, “Andança” entre outras.
ADEUS
Emocionado, o cantor e compositor Zeca Pagodinho falou sobre a madrinha. “Muita gente ela botou lá em cima. Eu costumo brincar, dizer que eu sou só um compositor e virei um Zeca Pagodinho por causa da Beth. Meu negócio era compor. Ela me pôs pra gravar Camarão Que Dorme A Onda Leva e virei esse Zeca Pagodinho que o Brasil hoje aplaude”, disse.
Ele também postou um vídeo em que aparece em uma mesa no velório brindando com outros amigos de Beth. “Estamos comemorando tudo o que ela fez pelo samba, pela música… Eu e a rapaziada toda do samba aqui. Madrinha, vai com Deus que a gente segura o resto aqui”, disse Zeca. “Madrinha, vai com Deus que o resto a gente segura por aqui”, afirmou.
“Estive na casa dela, passamos uma tarde inteira lá. Cantamos, lembramos coisas antigas. Beth gravou o samba “Agoniza mas não morre” em 1979 e na voz dela esse samba ganhou o mundo. Só posso dizer obrigado. Tudo que nos é caro faz falta” disse Nelson Sargento, 94 anos, ícone do samba e da Mangueira, que chegou de cadeira de rodas ao velório da grande amiga.
Jorge Aragão, muito emocionado, disse que estava lá para celebrar a vida de madrinha. “Não sei o que falar. Vim aqui para celebrar a vida dela. Que o papai do céu tome conta dela assim como vai tomar conta da gente. Por tudo o que ela fez e vai continuar fazendo na vida de todos nós é aquilo que um compositor pode esperar dela. Ela colocou a gente em outro patamar”.
Maria Bethânia relembrou os laços com Beth Carvalho.“Beth Carvalho morreu, é triste pra mim. Desde menina chegada no Rio ficamos próximas, nossas famílias. E a dela me acolheu aqui, quando cheguei e me sentia só. Beth, há muito sofrendo, mas forte e louvando a vida. Extraordinária. Anjos em alvoroço e alegria pra ouvi-la mais de pertinho. Bravo! Grande cantora do Brasil, de sua cidade, de cada compositor escolhido por ela. Saudade sempre do que é bom”.
“Beth Carvalho foi uma das pessoas mais importantes da minha vida profissional. Conheci a Mangueira e o Cacique de Ramos através da Beth Carvalho, e tive meu primeiro sucesso quando ela gravou ‘Saudade da Guanabara'”, afirmou Moacyr Luz.
A cantora Maria Rita emocionada disse: “Eu só busco lembrar que você fez o que sempre amou e foi fazendo até o fim. com muita garra e muita paixão. e sempre fez por merecer o título de madrinha do samba trazendo compositores, músicos, novos interpretes, novos nomes. pra luz, pra frente, pra cima. é um merecido descanso”.
Teresa Cristina contou que o sucesso da obra de Beth se devia à sua capacidade de se atualizar e conhecer as inspirações do povo brasileiro. “Eu vim agradecer por tudo, todo o olhar sobre a cultura brasileira. Uma pessoa que sabia o gosto do povo. Ela tinha um olhar sobre o que era popular”, destacou.
Dudu Nobre contou que conheceu Beth aos cinco anos e que “Almir Guineto, Arlindo Cruz, Zeca, eu, Fundo de Quintal: os mais velhos e os novos, a Beth sempre acolheu. É um momento de muita dor pra gente, que acompanhou a batalha. Beth foi uma guerreira e lutou pela vida” afirmou.
“Ela nos fez acreditar que esse dia nunca chegaria. De uma certa forma ela é imortal. Estava muito envolvida no show. Morreu achando que ia fazer. Foi em paz”, disse Lu Carvalho, sobrinha de Beth, também sambista.