Despesas financeiras de 214 empresas saíram de um total de R$ 100 bilhões para cerca de R$ 197 bilhões ate junho deste ano, aponta estudo
As despesas das empresas com juros dobraram entre 2019 e 2023 com a política de juros do Banco Central (BC). Segundo um levantamento feito pela consultoria FTI, as despesas financeiras de 214 empresas de capital aberto saíram de um total de R$ 100 bilhões, acumuladas em todo ano de 2019, para cerca de R$ 197 bilhões neste ano – considerando os últimos 12 meses até junho.
O estudo, pedido e publicado nesta sexta-feira (13) pelo Valor Econômico, inclui apenas aquelas empresas com receitas anuais superiores a R$ 1 bilhão e exclui bancos e seguradoras.
Diante dos elevados juros, muitas destas empresas estão tendo que negociar com credores em busca de mais prazo, numa tentativa de evitar a quebra de cláusulas contratuais, o que pode levar para as antecipações dos pagamentos das dívidas, derrubar a nota que uma agência classificadora de risco de crédito atribui às empresas deste porte, entre outros prejuízos.
Entre os exemplos citados pela reportagem, estão os casos da varejista Casas Bahia, da empresa de logística Sequoia, da petroquímica Unigel e da InterCement fabricantes de cimentos. Para honrar com seus contratos, as companhias estão ainda tendo que reduzir ou suspender investimentos em seus ativos e até aumentar o capital com alta diluição dos atuais acionistas.
Enquanto o custo com os juros subiu violentamente de 2019 este ano, a restrição à oferta de crédito também avançou. “Chama a atenção o fato de as empresas não terem aumentado a alavancagem”, afirmou o diretor da FTI Consulting, Renato Boranga.
A alavancagem, ou seja, a situação em que as empresas buscam aumentar o potencial de retorno de um investimento, seja por meios de empréstimos e outros meios de financiamentos, se manteve praticamente estável no período, de 3,3 vezes há quatro anos para 3,2 vezes em 2023, indica o estudo.
Quando a taxa de juros Selic estava em 13,75% ao ano (ficou nesse patamar por um período de 12 meses até agosto deste ano), o serviço da dívida estava consumindo 55% do Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) nas empresas com alavancagem de 3,5 vezes.
Após dois cortes de 0,5 ponto percentual, entre o início de agosto até o final de setembro, a Selic se encontra hoje em 12,75%, derrubando pouco o grau da “mordida” do serviço da dívida (52%) para essas empresas. O serviço da dívida pode cair a 39% com a taxa de juros Selic em 9% – expectativas para o fim de 2024.