O presidente da UA, Alpha Conde, rechaçou “esta desprezível prática de outra Era” que ocorre desde a devastação perpetrada pelos Estados Unidos com a finalidade de derrubar o governo soberano de Kaddafi
Manifestantes, em sua maioria imigrantes africanos, se concentraram no sábado, 18, diante da embaixada da Líbia em Paris para protestar contra o comércio escravo de migrantes detidos em sua passagem pelo país que foi devastado por ataque norte-americano que acabou com o assassinato do líder líbio, Muammar Kaddafi e transformação do mais próspero dos países africanos em uma terra sem lei onde porções de território – inclusive as que produzgem petróleo – são disputadas entre facções armadas.
“Temos que nos mobilizar”, declarou um dos manifestantes, outro conduzia um cartaz com os dizeres “Não à escravidão na Líbia”.
Os manifestantes atravessaram a avenida Champs Elysées e quando começaram a entoar, “Fim da escravidão e campos de concentração na Líbia!” e “Libertem nossos irmãos!”, foram dispersados a bombas de gás lacrimogêneo pela polícia parisiense.
O presidente da União Africana, Alpha Conde, exigiu o fim “ultrajante e desprezível comércio de migrantes que está ocorrendo na Líbia”, e acrescentou que condena “firmemente esta prática de outra Era”.
Também alertou que as condições de detenção de migrantes que tentam atravessar o país para chegarem à Europa nas arriscadas travessias pelo Mediterrâneo não são admissíveis. Os migrantes detidos pela guarda costeira – agora financiada pela Itália e outros países europeus – são muitas vezes levados a celas exíguas, sob calor intenso com pouquíssima água e parco alimento.
Disse ainda que “estas práticas de escravatura dos tempos modernos têm de acabar e a União Africana usará todas as ferramentas ao seu dispor” para que tal aconteça. Para isso, afirma, é necessário agir rapidamente e identificar todos os criminosos e cúmplices e entregá-los à justiça.
As imagens de jovens africanos a serem vendidos num leilão público na Líbia, captadas e difundidas pela CNN, chocaram o mundo. Nessas imagens podiam ver-se compradores do norte de África a pagarem perto de 400 dólares por estas pessoas para usá-las como mão-de-obra escrava em trabalhos agrícolas. Estes leilões, segundo a equipe de reportagem, ocorreram em nove locais do país.
Outra forma de auferir lucros pelos traficantes é obrigar os detidos a ligarem para familiares dizendo que estão apanhando e sofrendo todo tipo de mau trato e pedir dinheiro para serem liberados do cativeiro.
O secretário-geral da ONU António Guterres, declarou que está “horrorizado” com as notícias de imigrantes africanos a serem vendidos como escravos.
Guterres acrescentou que “não há lugar no mundo para tais ações que estão entre aos mais sórdidos abusos aos direitos humanos e podem chegar a crimes contra a humanidade”. Não deixa de ser uma concessão grave achar que tal estupidez “pode” se configurar crime contra a humanidade. Além disso, ao condenar o comércio de escravos, o secretário-geral da ONU se esquece que foi uma aprovação infeliz no Conselho de Segurança da ONU criando as chamadas “zonas de exclusão aérea na Líbia” que foram utilizadas pelos EUA e satélites da Otan para bombardear a Líbia.
A ONU anuncia que mobilizou o seu Alto Comissariado dos Direitos Humanos, o escritório da ONU para o combate às drogas e ao crime, o enviado da entidade à Líbia, Ghassan Salame e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) para “a tomada de ações”, segundo informa a secretária-geral adjunta da ONU, Amira Haq.
O presidente de Burkina Faso, Marc Christian Kabore, chamou de volta o seu embaixador em Tripoli e se declarou “chocado com as imgarens da reportagem da CNN”. O governo do Senegal expressou seu “ultraje com a venda de migrantes da região sub-saariana em solo líbio, “um flagelo de agressão à consciência humana. O presidente da Nigéria, “Mahamadou Issoufou” declarou que as informações o deixaram “profundamente irado” e exigiu que as organizações internacionais e equipes líbias façam “tudo o que for possível para parar esta prática”.
“É uma situação terrível”, afirmou Mohammed Abdiker, diretor de Operações e Emergências da OIM. “Quanto mais adentramos no interior da Líbia, tomamos conhecimento de que se trata de um vale de lágrimas para muitos migrantes. Alguns informes são verdadeiramente horripilantes e estes últimos sobre os mercados de escravos para migrantes podem ser adicionados a uma longa lista de ultrajes”.
NATHANIEL BRAIA