Para o presidente da Fiesp, Josué Gomes, “o Brasil não pode ficar parado no processo de reindustrialização. Esse nível de juros precisa ser colocado no espelho retrovisor da nossa história”
Em comemoração ao Dia da Indústria, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizou um evento nesta quinta-feira, 25 de maio, com a presença do presidente do BNDES, Aloysio Mercadante, quando foram debatidos os rumos para a reindustrialização do país, o papel do banco de fomento e as elevadas taxas de juros que inibem os investimentos produtivos.
Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, destacou que o Brasil e o mundo tem passado por momentos em que a democracia tem sido questionada e pelo crescimento de governo autocráticos. Segundo ele, esse crescimento “se dá pelo desalento das populações que é grande no mundo ocidental, especialmente por essas 2,3,4 décadas de neoliberalismo”, que levaram à desindustrialização do país.
Para Josué, “nós só teremos um país, com todas as características que todos nós defendemos, democrático, inclusivo, crescendo, com menos desigualdades, com o espraiamento de suas riquezas por toda a população, se nós recuperamos a indústria de transformação”.
Segundo ele, com a pandemia e o conflito entre a Rússia e Ucrânia, “hoje, os Estados Unidos e a Europa brigam para ver quem vai se reindustrializar mais rápido”.
O dirigente da Fiesp destacou o período em que “a indústria nacional entre 1940 e 1980 alavancou o desenvolvimento nacional fazendo com que o Brasil crescesse a taxas mais elevadas de crescimento do mundo. Taxas médias compostas anuais superiores a 7%, que nos catapultou e catapultou a nossa economia, colocando-nos entre as dez maiores economias do mundo”.
“O Brasil não pode ficar parado e para trás no processo de reindustrialização, apenas aplaudindo”, afirmou Josué.
“São importantes políticas industriais, políticas de desenvolvimento, mas nenhuma política industrial, nenhuma política de desenvolvimento, vai conseguir superar a macroeconomia”, destacou, apontando fatores como a reforma tributária, o câmbio e a taxa de juros.
Segundo ele, “esse regime de juros reais que vem sendo praticado no Brasil, com taxas excessivamente elevadas há décadas, é enormemente concentrador de renda”.
“A taxa juros, que está alta demais, atualmente, em 8% acima da inflação, tem inibido o crescimento do país e definhado a indústria de transformação”, afirmou. “Esse nível de juros precisa ser colocado no espelho retrovisor da nossa história”.
MERCADANTE: NÓS NÃO SEREMOS UMA NAÇÃO DESENVOLVIDA SEM INDÚSTRIA
Aloysio Mercadante destacou, em sua intervenção, o processo de industrialização do Brasil e defendeu o papel do BNDES como indutor do desenvolvimento. “O governo Getúlio, nos anos 30, depois da crise de 29, foi um governo industrializante: CSN, a Vale, BNDES, na época BNDE, a Petrobrás. Juscelino Kubitscheck, o plano de metas estava todo voltado para alavancar a indústria, a indústria automotiva, a indústria naval, a indústria pesada de bens de capital. O II PND, no regime militar, era um projeto industrializante de peso, a indústria química, a indústria pesada, projetos estruturantes da construção civil. Nós precisamos voltar a ter um plano nacional industrializante, inovador e de desenvolvimento”, defendeu. “E o governo está criando um conselho para se dedicar a isso”.
“Qual é a base desse novo plano? Nós precisamos convencer, como Celso Furtado e grandes pensadores, que nós não seremos uma nação desenvolvida sem indústria. Essa ideia de que nós somos a grande fazenda do mundo, ela é muito positiva, é verdade, somos o maior produtor e exportador de alimentos do planeta, temos que ter orgulho disso. E queremos uma agricultura de precisão, uma agricultura que preserve o meio ambiente, competitiva, eficiente, com ciência e tecnologia, mas nós não seremos uma nação desenvolvida sem indústria”, ressaltou Mercadante.
“A indústria é que gera valor agregado, que gera tecnologia, que gera inovação, que gera emprego qualificado, que gera pesquisa. Mesmo serviços, boa parte dos serviços, que ainda são resilientes, dependem da indústria, são serviços prestados em relação com indústria”.
“Eu vim aqui para dizer a vocês o seguinte, o presidente Lula voltou, o Brasil está voltando para as relações internacionais no outro patamar, e o BNDES voltou como o banco da indústria e da infraestrutura desse país e vai estar com vocês durante todo esse processo. Agora, qual é o desafio?”
“Primeiro, é deixar de lado algumas ideias velhas, porque são elas que nos trouxeram a essa situação, aí vão dizer, lá vem ele com o discurso desenvolvimentista, eu sigo sendo, desde minha origem, formado nessa tradição desenvolvimentista, na Unicamp”, disse Mercadante.
Sobre as ideias velhas, o presidente do BNDES leu trechos de um discurso do conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, onde ele destaca que os EUA estão buscando um modelo moderno de indústria e inovação. “A ideia de um novo consenso de Consenso de Washington está completamente errada, em primeiro lugar o governo deve lidar em que a base industrial da América ela foi esvaziada. A visão de investimento público que havia energizado o projeto americano do pós-guerra desapareceu. A visão anterior havia sido substituída por um conjunto de ideias que defendem corte de impostos, desregulamentação, privatização, invés de ação pública e liberalização do comércio como fim em si mesmo e por trás de toda essa política e suposição fundamental é que o mercado sempre aloca de forma produtiva e eficiente não importa quão grande os nossos desafios e não importa quantos limites nós renomamos. Em nome de uma suficiência de mercado super simplificada a indústria e o emprego que sustentavam foram transferidos para o exterior e a suposição de que uma liberalização comercial ajudaria a América exportar bens não empregos foi uma promessa não cumprida“.
Outra base de políticas anteriores, continua Mercadante, era que todo crescimento era bom crescimento, então, várias reformas combinadas privilegiaram alguns setores da economia, como o financeiro, enquanto outro setores, como semicondutores, atrofiaram. “Nossa capacidade que é crucial para qualquer país sofreu um verdadeiro golpe“, diz o trecho do conselheiro.
Mercadante destacou que hoje o que os países centrais estão fazendo é priorizar os investimentos públicos, fortalecendo o Estado, são bilhões de dólares nos EUA, bilhões de euros na Europa, subsidiando suas indústria.
Ele apontou algumas propostas para o fortalecimento do banco de fomento, como a revisão da politica de dividendos e de parcelamento na devolução de recursos ao Tesouro, além de diminuição das taxas de juros para aquisição de máquinas e equipamentos.
O presidente do BNDES defendeu taxas de juros mais baixas para alavancar o investimento, baixar o custo do capital, e repeliu as críticas aos subsídios do banco de fomento.
Mercadante anunciou no evento na Fiesp, entre outra fontes de financiamento, a aprovação, nesta quarta-feira (24), da TR para inovação. “Como que o país vai fazer, nesse mundo que estamos enfrentando de inovação, com uma taxa de juro TLP? Não existe inovação, estava parado no banco. Então, aprovamos ontem 20 bilhões para o BNDES nos próximos 4 anos a 1,7% de juro. Juro barato, vamos retomar esse processo”, declarou. “Não me venham falar que subsídio é jabuticaba, jabuticaba é ter as maiores taxas de juros com uma das menores inflação do planeta, que é o que temos hoje. Isso sim é uma jabuticaba”, afirmou.