
Solidariedade ao povo palestino sob agressão hedionda do fascismo israelense lotou a Mesquita do Brás em São Paulo
O ato solidário ao povo palestino, “Dia de Jerusalém”, lotou a Mesquita do Brás, em São Paulo, reunindo líderes da religião islâmica, dirigentes de organizações sociais e acadêmicos nesta sexta-feira, dia 28.
Sheikhs, professores e ativistas da causa palestina se pronunciaram pela libertação de seu povo, contra o fascismo genocida do governo Netanyahu, que já tirou a vida de mais de 50.000 palestinos, a maioria mulheres e crianças, em repúdio à ruptura assassina do acordo de cessar-fogo, com a retomada do bombardeio a Gaza e o cerco que esfomeia a população palestina no enclave, agravada com o bombardeio naquele mesmo dia à capital do Líbano.
UMA LUTA DE TODAS AS NACIONALIDADES
“A luta em defesa da Palestina não conhece nacionalidades nem raças; é a luta dos oprimidos contra os opressores. Apoiar essa causa é um ato que move os dignos e livres do mundo. Defender a Palestina não é apenas defender um povo ou uma nação, mas a verdade e a justiça. Ser humano é ser defensor da causa palestina”, com esta declaração, abriu o evento Haj Nasser Khazraji, que falou em nome da Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil, organizadora do encontro.
Nasser destacou que “o Dia Internacional de Jerusalém, foi instituído no primeiro ano após a Revolução Islâmica do Irã, pelo Imam Khomeini, na última sexta-feira do mês de Ramadã. Sua intenção foi reacender as atenções do mundo para a causa central, a mais importante e nobre do século XXI: a luta contra a tirania e a opressão, que é encarnada pela causa Palestina.
Por isso, finalizou, “dirijo uma saudação especial aoS corajosos da Palestina, uma saudação à terra que transborda dádivas, com um aroma mesclado ao sangue dos mártires”.

Lideranças presentes no ato Dia de Jerusalém (Yuri Ferrreira)
“DEVEMOS APRESENTAR A VERDADE”
Ele foi seguido pelo deputado Mario Maurici, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Legislativa de São Paulo, conclamou:
“Devemos erguer nossas vozes e apresentar a verdade. Porque silenciar diante da injustiça é tomar o lado do opressor. E nós não nos calaremos. Jerusalém deve ser um símbolo de paz. Mas não pode haver paz sem justiça. Nossa luta é pelo fim da ocupação e pelo respeito inegociável aos direitos do povo palestino. Por isso, reafirmo aqui a minha total solidariedade à Palestina. Que nossa voz continue a ecoar até que a liberdade e a dignidade sejam restauradas”.
“UMA QUESTÃO DE PROFUNDA JUSTIÇA”
Em seu depoimento, o professor de Direito Internacional da FGV, Salem Nasser, apontou Jerusalém como “porta de entrada para lembrarmos da Palestina como uma questão de profunda justiça”.
“É para que não esqueçamos da Palestina que esse Dia de Jerusalém foi instituído”, prosseguiu o professor.
“Eu me sinto desesperado em perceber que aquilo que eu vejo como uma verdade tão evidente, de que há algo de muito errado, por exemplo, numa criança de oito anos que perdeu a família inteira, ou que há algo de muito errado num pai e uma mãe que perderam todos os seus filhos, ou que há algo de muito errado quando dois milhões de pessoas têm suas casas destruídas, ainda não mobiliza multidões, pois não há como pactuar com esse silêncio, com essa covardia, com essa cegueira”, afirmou.
“Mesmo assim tenho a certeza da vitória sobre essa negação da humanidade, desde que, como dizia meu pai, falecido há poucos meses, nos emprenhemos em lançar ‘a verdade toda contra a mentira; a justiça toda contra a injustiça”, proclamou Salem Nasser.
O ativista internacionalista Thiago Ávila, que já fez viagens de solidariedade ao Irã e à Palestina também expressou sua certeza na vitória da causa palestina como uma luta inevitável dos povos do mundo: “São mais de setenta e oito anos de genocídio e limpeza étnica e, ainda assim, eu tenho certeza absoluta de que os povos dessa região vão se erguer e vão conseguir dar um exemplo para a humanidade, de que, se o imperialismo pode ser derrotado naquela região, ele pode ser derrotado em todas as demais, inclusive aqui na nossa América Latina e em outros territórios do Sul Global”.
“COMPROMISSO COM A CAUSA PALESTINA PELA VITÓRIA CONTRA A BARBÁRIE”
O presidente do Cebrapaz, José Reinaldo, conclamou a todos e se incluiu no “compromisso com a causa palestina, que não recua diante do genocídio perpetrado por Israel e tem sua ação e reflexão voltadas para a vitória sobre a barbárie que já dizimou em Gaza mais de 50 mil palestinos, uma causa que transborda fronteiras”.
COM A HISTÓRIA NA MÃO
O sheikh Ali Al Khatib, de orientação sunita, que falou representando a organização religiosa Dar Al Fatwa Libanesa para o Brasil e América Latina, se dirigiu em árabe aos presentes e em tom de oração, enfatizou que não há sentido para a guerra entre árabes e judeus, que só persiste pela insistência em submeter o povo palestino. Ele concluiu sua fala para contestou a versão distorcida do sionismo religioso que, ao negar a verdade histórica, supõe Israel como concessão divina aos ancestrais judaicos, como se tivessem sido os habitantes primevos daquela terra, uma vez que a própria Bíblia Judaica descreve “o patriarca do judaísmo, Abraão e sua esposa Sara como habitantes da cidade de Ur, na Caldeia e que chegaram aonde se instalaram, vindos de fora, na terra de Canaã, para residir junto aos precursores da Palestina”, tendo que adquirir terra para se estabelecer.
O imam da Mesquita do Brás, sheikh Badri Zeineddin, também exaltou a luta do povo palestino: “São pessoas que estão do lado oposto ao próprio Deus – mesmo que digam falar em nome D’Ele. Estão do lado do mal do ponto de vista histórico. O que eles chamam de inimigo, na verdade são eles próprios que se tornaram inimigos do próprio Deus, como aqueles infiéis, incrédulos que perseguiram Moisés. A briga deles vai além do espaço territórial, é algo mais profundo. A apropriação teológica deles vai contra a verdade, contra a justiça”.
Também estiveram presentes Amyra El Khalil e Claude Hajjar, lideranças femininas da comunidade árabe brasileira, Nathaniel Braia, secretário do Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo, o escritor Khaled Mhassen, da Academia Árabe de Letras, o ex-deputado Jamil Murad, a dirigente do Cebrapaz, Socorro Gomes, o secretário da Confederação Árabe Palestina da América Latina e Caribe, Emir Mourad, o ex-vereador Muhamad Murad e os sheikhs xiitas Hassan Khaliloo, iraniano e Taleb Hussein al- Khazraji, iraquiano.
O Dia de Jerusalém foi celebrado em mesquitas de todo o mundo, incluindo em Brasília, com a participação do embaixador do Irã, Abdollah Nekounam.
O portal da Embaixada do Irã no Brasil divulga o pronunciamento do ministro das Relações Exteriores, Dr. Araghchi, que destaca o “compromisso com a realização da justiça e com o apoio à dignidade e ao direito do oprimido povo palestino à autodeterminação”, que transcrevemos:
Reiteramos nosso firme compromisso com a realização da justiça e com o apoio à dignidade e ao direito do povo palestino à autodeterminação. O povo oprimido da Palestina tem sofrido, por décadas, com a ocupação brutal, políticas de apartheid, deslocamento forçado e esforços sistemáticos de limpeza étnica perpetrados pelo regime israelense.
O Dia Internacional de Al-Quds [Jerusalém] é um legado inigualável do Imam Khomeini (que Deus tenha misericórdia dele) para a libertação de Jerusalém. Um legado que deriva tanto da profunda compreensão do grande fundador da Revolução Islâmica sobre o poder espiritual e moral do Islã quanto da sabedoria e coragem de um líder internacional notável.
Sem dúvida, o Dia Internacional de Al-Quds é um dos exemplos mais marcantes da concretização de uma ideia em diversas dimensões e de sua transformação em um programa prático para as sociedades muçulmanas e não muçulmanas ao redor do mundo.
Deve-se aproveitar a aceitação internacional da ideia do Dia de Al-Quds para incentivar os governos em todo o mundo a adotarem medidas jurídicas, econômicas e internacionais contra os crimes do regime ocupante.
Neste grande dia, em que celebramos a solidariedade global com o povo palestino, devemos proclamar claramente três grandes “nãos” em nível mundial contra as políticas do regime sionista: não à ocupação, não ao apartheid e não ao apagamento da Palestina.
Há mais de oito décadas, a Palestina histórica sofre sob a ocupação sionista, com partes de seu território sendo continuamente anexadas pelo regime ocupante. Atualmente, restam apenas 7% da Palestina histórica. Essa ocupação brutal não apenas contraria múltiplas normas internacionais, mas também foi condenada por diversas resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas, incluindo as resoluções 338, 476 e 2334 do Conselho de Segurança, além de dezenas de resoluções não vinculativas aprovadas pela Assembleia Geral da ONU.
O que a comunidade internacional deve fazer hoje é declarar um “não” absoluto e abrangente a essa ocupação. Os fundamentos legais já existem e, no momento atual, posturas meramente simbólicas em apoio à liberdade não são mais suficientes – é necessário tomar medidas concretas.
O apartheid é, segundo o direito internacional, um crime contra a humanidade. A Convenção Internacional de 1973 reconhece o apartheid como um crime internacional e condena práticas opressivas e racistas.
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (artigo 7) também classifica o apartheid como um crime contra a humanidade, que exige responsabilização penal. A Carta das Nações Unidas (artigos 1 e 55) afirma os princípios de igualdade e direitos humanos. A Resolução 1761 da Assembleia Geral da ONU condenou o apartheid na África do Sul e instou os Estados-membros a sancioná-lo.
Nesse sentido, a Comissão de Inquérito da ONU, criada pelo Conselho de Direitos Humanos, relatou em 2022 que as políticas do regime sionista em relação aos palestinos estabeleceram um sistema de apartheid.
No mesmo ano, a Anistia Internacional, em um relatório, classificou esse regime ocupante como um regime de apartheid. Em 2021, a Human Rights Watch corroborou essa realidade e descreveu o regime sionista como um regime de apartheid.
Hoje, não há dúvidas sobre a natureza desumana do regime de apartheid israelense. Apesar de evidências consistentes em relatórios e investigações internacionais, parece que os apoiadores desse regime continuam a ignorar essa realidade.
O deslocamento ou a transferência forçada de populações constitui crime de guerra e crime contra a humanidade. A Quarta Convenção de Genebra (artigo 49) proíbe o deslocamento forçado de populações em territórios ocupados. O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (artigos 7 e 8) classifica o deslocamento forçado como crime de guerra e crime contra a humanidade.
A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948) também estabelece expressamente que o deslocamento forçado, se realizado com a intenção de destruir um grupo étnico ou religioso, constitui genocídio. Resoluções da ONU, como a 47/1993 sobre a Bósnia, condenaram o deslocamento forçado como uma forma de limpeza étnica.
Os países árabes da região devem reconhecer que a resistência não está limitada ao Líbano e à Palestina, mas se estende por todo o mundo árabe, servindo como fator dissuasório e obstáculo às ambições expansionistas do Ocidente e do regime sionista. Os acontecimentos no campo de batalha demonstraram que, caso a resistência seja enfraquecida, não apenas os territórios ocupados, mas também outras partes do mundo árabe estarão vulneráveis à ameaça de agressão e invasão do regime sionista.
Nesse contexto, a comunidade internacional pode e deve tomar medidas concretas para enfrentar as políticas do regime sionista e apoiar o povo palestino:
- Apoiar o direito do povo palestino à autodeterminação e à libertação da ocupação e do apartheid.
- Trabalhar para pôr fim ao genocídio em curso em Gaza e se opor ativamente ao deslocamento forçado do povo palestino de sua terra.
- Cessar toda cooperação direta e indireta com os crimes do regime israelense, incluindo o fim da venda de armas, da cooperação econômica e do apoio diplomático que permitem a continuidade da ocupação e do apartheid.
- Processar continuamente os líderes do regime usurpador sionista e garantir sua punição eficaz com base no direito internacional, por meio do Tribunal Penal Internacional (TPI) e da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
A libertação da Palestina não é um sonho distante. Nenhum sistema de apartheid, nenhuma ocupação militar e nenhum projeto colonial pode durar para sempre. As vozes de milhões que marcham pelo mundo em apoio à Palestina são a prova de que a luta pela justiça está viva e é inquebrantável. Consciências despertas não descansarão até alcançar esse objetivo humano e moral supremo.