O Brasil celebrou pela primeira vez o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra como feriado nacional. Esta mudança significativa foi implementada com a aprovação da Lei nº 14.759, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2023. Anteriormente, à data era reconhecida como feriado apenas em seis estados e cerca de 1.200 municípios.
Em muitos estados brasileiros, foram celebrados diversos atos, manifestações e atividades culturais para celebrar o primeiro feriado nacional do dia.
Em São Paulo, foi realizada a 21ª edição da Marcha da Consciência Negra que aconteceu sob o lema “Palmares de pé, racismo no chão. Zumbi e Dandara vivem em nós!”. Cartazes de “fim ao racismo”, “educação antirracista já” e o “fim da escala 6×1” marcaram o ato.
O evento reuniu apresentações culturais de artistas negros, lideranças sindicais e de movimentos sociais, além de parlamentares que representam a classe. A Marcha da Consciência Negra teve início em frente ao vão-livre do Masp e após as solenidades, todos caminharam em direção à Rua Augusta até a chegada no centro histórico de São Paulo, ao lado do Theatro Municipal.
A violência policial e o encarceramento a população negra foram outros destaques nos discursos durante o ato. Números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública foram citados por Edmar Silva, dirigente sindical da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (FETE-SP) e militante do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
“Em 2022, foram assassinadas 47.508 pessoas pela Polícia Militar, 83,1% são homens negros”, alertou. “É preciso colocar no fim do genocídio da população nega.”
No Rio de Janeiro, o 20 de novembro foi celebrado com uma série de manifestações culturais e ações educativas no Monumento Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio. A programação começou logo cedo, às 9h, com a lavagem da estátua em homenagem à Zumbi dos Palmares e, na sequência, com o discurso de lideres e personalidades dos movimentos negros como a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
“O 20 de novembro aqui no busto de Zumbi, na Praça de Zumbi, com a deputada Benedita da Silva, que inicia junto ao movimento negro essa luta histórica pela reivindicação do feriado nacional que lá na constituinte a gente não conseguiu. Mas hoje, a várias mãos, muito por ela abrir portas, pelo senador Paulo Paim e tantos outros que passaram antes de nós, conseguimos celebrar. Não só a nossa luta, mas o simbolismo, a ressignificação e dizer que estamos chegando e vamos permanecer em todos os espaços de poder e decisão”, disse a ministra.
Da mesma forma, o tradicional Cortejo da Tia Ciata, realizado anualmente no Rio de Janeiro, celebrou Hilária Batista de Almeida, conhecida como matriarca do samba carioca devido ao seu papel na construção e salvaguarda do gênero. Na zona norte da cidade, a 3ª Marcha da Periferia pauta a reparação histórica e luta contra as formas de violência que acometem os negros.
Ainda, a 45ª edição da Marcha da Consciência Negra, na cidade de Salvador, pede solidariedade ao povo congolês e celebra os 64 anos da independência da República Democrática do Congo.
O evento também é um tributo a Patrice Lumumba, fundador do país considerado herói anticolonial. A capital soteropolitana ainda realiza a 16ª Lavagem da Estátua de Zumbi dos Palmares, ato que celebra a ancestralidade e a memória do líder.
Em São Luís, o Festival Zumbi Vive homenageia o legado histórico do povo negro e combate o racismo. Na Bahia, uma exposição fotográfica destaca contribuições artísticas afro-brasileiras. Outras ações incluem a abertura do Museu da Diáspora Negra na Paraíba e eventos culturais em cidades como Teresina, Recife e Fortaleza.
Em Sergipe, destaca-se a reinauguração do Museu Afro-Brasileiro em Laranjeiras com apresentações culturais locais. Já em Natal, o Festival Mungunzá promove a arte periférica e resistência cultural.
Na capital gaúcha, Porto Alegre, uma estátua de Zumbi dos Palmares foi inaugurada.
Sobre o feriado, o Ministério da Igualdade Racial enalteceu essa conquista como um marco na valorização da cultura e história afro-brasileira. “A celebração nacional convida toda a sociedade a refletir sobre a identidade brasileira, incentivando a valorização das diferenças e a promoção de uma nação mais inclusiva e diversa”, afirma o ministério.
A escolha do dia 20 de novembro remonta à história do Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. Este foi um dos maiores refúgios para negros escravizados na América Latina, abrigando cerca de 20 mil pessoas. Em 1694, o quilombo foi destruído, e no ano seguinte, seu líder Zumbi dos Palmares foi assassinado, tornando a data emblemática para a população afrodescendente.
A secretária-executiva do ministério, Roberta Eugênio, participou de celebração no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga (AL), local considerado símbolo da resistência negra brasileira e que, por quase 100 anos, abrigou o maior quilombo do país, o Quilombo dos Palmares.
“Nosso passado é de resistência, produção de tecnologia, alentos, produção de sonhos. E os quilombos foram territórios não apenas de lutas, mas onde efetivamente exercíamos nosso direito de sermos, da forma mais profunda e plena possível”, disse.
“O Brasil pode ser melhor quando a gente produz condições para que as nossas diferenças não representem mais desigualdade”, acrescentou Roberta. O evento que contou com um cortejo de religiosos de matriz africana e de apresentações culturais celebrando a diversidade e a ancestralidade afro-brasileira.