O “Russiagate” – a chicana contra a normalização de relações com a Rússia alegando ‘interferência nas eleições’ – sofreu um duro golpe nesta sexta-feira (2) com a publicação do memorando da Comissão de Inteligência da Câmara – o chamado ‘Memorando Nunes’-, que revela o conluio no governo Obama para obter autorização judicial para espionar a campanha de Trump, com base no “dossiê Steele” ocultando do juiz que este dossiê havia sido encomendado e pago, isto é, fabricado – pela campanha de Hillary. (Para o serviço sujo foi contratada a empresa Fusion GPS, que acionou um ex-espião inglês).
A divulgação do memorando foi autorizada por Trump, sob protestos dos democratas, do FBI e do Departamento de Justiça. O documento revela que altas esferas do FBI e do Departamento de Justiça participaram do esquema e assinaram os pedidos de grampeamento ao tribunal.
Como registra o memorando, o chamado dossiê de Steele “formou uma parte essencial” de causa provável do pedido FISA obtido pelo FBI pelo Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira em 21 de outubro de 2016. Também com base no dossiê Steele, o mandado foi prorrogado três vezes. O alvo explícito na espionagem da Campanha de Trump era Carter Page, conselheiro de política externa.
Conforme o documento, “o então o diretor James Comey assinou três pedidos da FISA em questão em nome do FBI, e o vice-diretor Andrew McCabe assinou um”. Ao que se seguiram pedidos pelo Departamento de Justiça assinados pela vice-procuradora-geral Sally Yates, por Dana Boente e por Rod Rosenstein – que atualmente é o vice-procurador-geral (vice-ministro) e quem supervisiona o investigador especial Robert Muller no “Russiagate”.
Antes de vir a público, o memorando já estava fazendo estragos. McCabe – cuja esposa foi candidata pelos democratas e recebeu dinheiro do governador da Virgínia aliado de Hillary – pediu demissão e entrou de férias até poder pedir aposentadoria. Foi ele que dezembro testemunhou que nenhum mandado da FISA teria sido solicitado sem o dossiê, de acordo com o documento.
Por sua vez Comey – que fora nomeado por Obama, mantido por Trump e depois demitido e que assinou três pedidos – testemunhou em junho de 2017 que o dossiê de Steele era “indecente e não verificado”.
Como sublinha o memorando, “nem o pedido inicial em outubro de 2016 nem nenhuma das renovações revelam ou referem o papel da campanha DNC, Clinton ou qualquer partido/campanha no financiamento dos esforços de Steele, mesmo que as origens políticas do processo Steele fossem conhecidas do DOJ e de funcionários do FBI “. O tempo todo é omitido que Steele estava trabalhando para a Fusion GPS ou que a empresa e seu diretor, Glenn Simpson, estavam na folha de pagamento dos democratas.
Também o mandato de grampo original cita “extensivamente” um artigo do Yahoo News de Michael Isikoff, de 23 de setembro de 2016, baseado em informações dadas ao jornalista pelo próprio Steele, na sede da Fusion GPS.
No esquema, o que não faltava eram fios desencapados. O vice-procurador-geral adjunto Bruce Ohr, que em setembro de 2016 se encontrou com Steele, deixou de informar ao tribunal que sua esposa, Nellie, trabalhava na Fusion GPS na época.
O último ponto do documento se refere à investigação da campanha iniciada pelo agente do FBI, Peter Strzok, em julho de 2016 “com base em informações sobre o conselheiro da campanha Trump, George Papadopoulos”, mas que não conseguiu mostrar alguma “cooperação ou conspiração” entre este e Page.
Posteriormente, Strzok foi designado para a equipe de Robert Mueller, mas destituído e devolvido ao departamento de recursos humanos após a descoberta de e-mail trocados com a advogada do FBI Lisa Page (sem parentesco com Carter), com quem ele estava tendo um caso extraconjugal. Além de mostrarem claro viés contra Trump e a favor de Hillary – a quem este também havia investigado no emailgate – os textos vão além, orquestrando vazamentos na mídia e uma reunião com McCabe para, segundo o memorando, discutir “uma apólice de seguro contra a eleição de Trump”.
Como sintetizou o judicial Watch, “Hillary e o Partido Democrata tentam esconder o fato de que eles deram dinheiro à Fusion GPS para criar um dossiê que foi usado por seus aliados no governo Obama para convencer um tribunal de forma equivocada, por todos os aspectos, a espionar a campanha Trump”.
Quaisquer que sejam suas limitações, o memorando expõe uma verdade inquestionável: que o “Russiagate” foi inventado sem qualquer base na realidade pelos setores de inteligência que apoiaram a campanha de Hillary e querem manter o cerco e sanções à Rússia, entre outras razões, para justificar o quase US$ 1 trilhão de gasto bélico. Desde então, a falsa questão da “interferência russa” está no centro da vida política dos EUA e das relações entre as duas maiores potências nucleares. A divulgação do memorando é reveladora ainda, que conclamações “pela unidade” no discurso de Trump do Estado da União à parte, o que Washington está vivendo é uma luta sem quartel pelo poder.
ANTONIO PIMENTA