O país em recessão e ela dá mais veneno!
Programa da neotucana é mentir para o povo e governar para os bancos
(HP 31/10/2014)
Três dias depois das eleições, com o país em recessão – a economia estrangulada, precisamente, pelos juros altíssimos – o Banco Central (BC) subiu a taxa básica de juros de 11% para 11,25%.
A taxa básica do BC já era a maior taxa real (descontada a inflação) do mundo. Com o aumento de quarta-feira – o décimo desde abril de 2013 – o juro básico real foi para 4,46%. A média internacional está em -1,5% (menos 1,5%). Só existem seis países do mundo em que os juros básicos estão acima de 1% e somente 10 onde estão acima de zero.
Os apologistas de Dilma, aquela miuçalha de pequenos interesses e pequenos interessados, parece que foram acometidos de uma súbita epidemia de mudez. Talvez seja melhor assim, do que tentar justificar essa indecência – ou dizer que sua musa não é responsável por ela.
Se não fosse, mais lógico seria substituí-la por uma junta formada pelos diretores do BC – ou pelo conselho da Febraban. Porém, o Banco Central no governo Dilma não é independente, segundo declarou a então candidata: “independente no Brasil só são os poderes da República, Legislativo, Executivo e Judiciário”. O Banco Central, jamais, que isso é coisa de quem quer aumentar os juros.
A inescapável conclusão é que, com Dilma, o BC não precisa ser independente para aumentar os juros. Mas isso é porque os bancos não mandam no governo…
Se havia alguma ilusão com a senhora Rousseff, daqui por diante será preciso uma reserva extra de cinismo, ou de imbecilidade, para continuar confeccionando uma presidenta ou um governo inexistentes, que somente são progressistas nos roteiros de fotonovela desses apologistas.
O mais ridículo, certamente, são aqueles que se esmeram na pose de xingar a mídia reacionária, golpista, como se o que importa nela – a “Globo”, a “Folha” e mais um ou outro – não tivesse apoiado, até fervorosamente, a mesma candidata que eles. A única exceção foi a “Veja”, que ficou à margem por ter uma compulsiva vocação marginal.
Não havia nem pressão para aumentar os juros nessa reunião do Copom. Nem a mídia publicou um único artigo nesse sentido – ao contrário, as pressões estavam reservadas para a próxima reunião do Copom, não para a que se encerrou quarta-feira.
Entretanto, com o país em recessão – “crescimento negativo” em três dos últimos quatro trimestres; previsão de que não passe de zero, ou negativo, até o fim do ano; o investimento caindo (a bem dizer, desabando) há quatro trimestres; o PIB industrial caindo, também há quatro trimestres; a produção industrial recuando tanto que já está ao nível de 2007; o aumento do consumo em zero – com tudo isso, o governo aumentou os juros, que já eram, repetimos, os maiores do mundo – a taxa básica real dos EUA está em menos 1,91%, a da Alemanha em menos 1,14%, a do Japão em menos 2,06%.
No domingo, esperando o resultado do segundo turno, um paredro governista – melhor dizendo, dilmista – repetiu na televisão, do jeito pedante que lhe é costumeiro: o risco do outro candidato ganhar é que ele vai aumentar os juros.
O sujeito sabia – até porque, além de economista, citou esse fato há não muito tempo – que os juros, no Brasil, são os mais altos do mundo. Logo, acusar outros candidatos de pretender aumentar os juros, mesmo sendo verdade, era a popular falta de vergonha na cara. No máximo, por essa via, poderia chegar à conclusão de que os projetos dos dois candidatos eram a mesma lavagem de porco neoliberalóide (por isso é que não apresentaram projeto algum para o país).
Mas o ilustre professor de economia estava apenas papagueando a sua candidata, que dissera, por exemplo, que Marina Silva pretendia “aumentar os juros pra danar, eu sou contra isso, eu tenho lado” (entrevista coletiva, 10/09/2014); ou que Marina queria “atender prioritariamente os bancos, cortar tudo para pagar juros para os bancos” (Feira de Santana, 25/09/2014).
E nem vamos repetir as coisas mais grosseiras (só um exemplo: a declaração de Dilma de que Marina era “sustentada por banqueiros”, no dia 09/09/2014; além de mentira, é difícil acreditar que Dilma não saiba o que quer dizer a ofensiva e vulgar expressão “mulher sustentada”).
No segundo turno, Dilma disse que “Aécio planta inflação pra colher juros”.
Que diferença disso para ela própria e seu governo, que aumenta juros com a explicação (v. comunicado do BC) de que “a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável”?
Ninguém notaria os atuais aumentos de preços – historicamente baixos – se o país estivesse crescendo e os salários estivessem aumentando. O problema, evidentemente, é o crescimento. Sem este, é óbvio que os juros passaram a ser um fator inflacionário, na medida em que aumentam os custos das empresas e paralisam quase completamente a economia.
Só para exemplificar a questão com números no limite: quem disse que o desejável para o país é ter inflação zero com crescimento zero – ou negativo? Claro que sem produção e sem dinheiro não há inflação, assim como a morte elimina a possibilidade de contrair resfriados e outras doenças.
Quem disse que a meta de inflação (ou, menos ainda, o “centro da meta”, isto é, 4,5%) tem alguma coisa a ver com a realidade da economia brasileira – isto é, com as necessidades do país, com as carências das pessoas que nele habitam?
A meta de inflação, como toda a política econômica, está a serviço de manter os juros reais altos, ou seja, manter o mais alta possível a “remuneração do banqueiro” e dos rentistas em geral.
Daí uma consequência da política do governo que, à primeira vista, nos pareceu estranha: forçar as empresas produtivas a tomar empréstimos no exterior, a juros muito mais baixos, e especular com esse dinheiro no mercado financeiro aqui dentro, paralisando parcial ou totalmente sua produção.
A política do atual governo quebrou as contas externas. O governo está cada vez mais dependente das entradas de dinheiro externo para fechar essas contas. Mas se o governo quer tornar a especulação aqui dentro “mais atrativa” – com mais juros – para as entradas de dólares, no momento em que os EUA começam a reverter suas superemissões, apenas está aumentando o rombo até que os especuladores, apavorados com o tamanho desse rombo, comecem a fugir.
Para que o leitor tenha uma ideia: só o dinheiro estrangeiro aplicado em papeis aqui dentro (US$ 619,489 bilhões em setembro) é 1,6 vezes as reservas monetárias do BC (US$ 375,713 bilhões, também em setembro). Ou seja, não há dólares para trocar, em caso de fuga especulativa.
Mas não foi isso o que Dilma e seus sequazes disseram, na campanha, aos eleitores. Aliás, fizeram o que puderam para impedir a discussão desse e dos outros problemas.
Porque seu único projeto é, resumidamente, o de governar para a camada de rentistas – os maiores, inclusive, estrangeiros e fora do país – e dizer que está governando para a maioria – ou seja, para o povo.
CARLOS LOPES