
“Tem alguém mais contra a democracia do que foi o PMDB nos últimos tempos?”, indagou a ex-presidente, se opondo à bancada de deputados federais de seu próprio partido
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) acusou, em entrevista ao jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, os partidos da oposição de estarem “embarcando no bloco liderado por Rodrigo Maia”. “O PT estava em conversas com os partidos de esquerda, mas PDT, PSB, o PCdoB e até o Psol já tinham embarcado no chamado bloco do Rodrigo Maia”, criticou.
Dilma afirmou também que não há nenhuma diferença entre os candidatos Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e Arthur Lira, o candidato de Bolsonaro à presidência da Câmara. Fez a afirmação ao ser questionada se apoia a decisão do PT, tomada no início da semana, de participar da frente ampla contra Bolsonaro na disputa pela direção da Câmara. “Baleia Rossi é nome do Bolsonaro”, afirmou, quando é do conhecimento público que o escolhido do presidente é o deputado Arthur Lira (PP-PB).
Na contramão do partido e da bancada de deputados federais, que estão participando das articulações da frente democrática, resolveu atacar centralmente os integrantes desse bloco que se contrapõe a Bolsonaro.
“Tem alguém mais contra a democracia do que foi o PMDB nos últimos tempos?”, indagou a ex-presidente, revelando uma alta dose de condescendência com o golpismo de Bolsonaro e suas ameaças frequentes à democracia brasileira.
“Golpe por golpe, eles deram um”, desdenhou Dilma, referindo-se ao seu impeachment, ocorrido em 2016. Para ela, a insanidade genocida de Bolsonaro, suas tentativas de aparelhar as instituições democráticas e de impor sua pauta antidemocrática ao país não justifica a formação da frente democrática para barrá-lo.
Realmente, a participação apagada da ex-presidente na heroica resistência contra as tentativas golpistas de Bolsonaro durante esses dois anos reduziu o seu papel, levando-a a desdenhar essa luta.
“Não há diferença entre Arthur Lira e o Agnaldo. Muito menos entre o Baleia Rossi e o Lira. Inventaram uma diferença que não existe”, insistiu Dilma Rousseff.
Para a ex-presidente, “também não existe centro democrático no Brasil. A única vez que houve centro democrático no Brasil foi na Constituinte”, afirmou Dilma. “Já no primeiro mantado de Lula, Eduardo Cunha passa a hegemonizar o centro democrático, que já não era tão democrático”, teorizou ela.
“Com Eduardo Cunha não é só cargo. Ele tem pauta”, explicou ela, justificando o fato do PMDB ter apoiado o seu governo e ela ter atendido às pautas de Cunha. O fato é que ele acabou parando na cadeia e ela, impedida.
A afirmação de que o centro democrático, hoje fundamental para barrar o fascismo, é produto de Cunha, que integrava a sua base aliada, revela uma absoluta falta de rigor com os fatos e a realidade, o que acaba por reduzir a estatura política de uma ex-presidente.
Além disso, não foi só na política que a situação desandou. A condução da economia, à época, foi entregue a Joaquim Levy, um legítimo representante do setor financeiro nacional. Não havia como dar certo, razão pela qual teve que recorrer a um verdadeiro estelionato eleitoral para garantir sua reeleição.
A tentativa de Dilma de colocar o MDB e Maia no mesmo balaio bolsonarista ao afirmar que o candidato apoiado pelo bloco “vai ser capturado por Bolsonaro no momento seguinte” só favorece o atual presidente e enfraquece a luta para derrotá-lo.
Por uma razão muito simples: todos sabem que o apoio da oposição, em especial do PT, o partido que numericamente tem a maior bancada no campo oposicionista, é vital e decisivo para a vitória do campo democrático e a derrota de Bolsonaro.
Por fim, para ilustrar como as idéias da ex-presidente continuam miúdas e contraditórias, disse ela: “mas, se eles (os deputados federais do PT) participarem do bloco do Maia e permitir algum ganho para o partido, muito que bem”. Ou seja, estará tudo “bem” se estiver bem para o seu partido.