A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) prestou depoimento à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, por videoconferência, como testemunha de Lula, que é réu por corrupção passiva em processo aberto em decorrência da Operação Zelotes.
Ouvida na última quinta-feira (14), ela disse desconhecer se houve oferta ou recebimento de propina ao petista em troca da edição, em 2009, de uma medida provisória que prorrogou incentivos fiscais de montadoras instaladas no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste.
“Nunca tive nenhum conhecimento disso, até porque, se tivesse, seria minha obrigação reportar para as autoridades. E também não acredito que tenha havido”, disse.
Dilma fez longas explanações sobre as razões de o governo conceder, desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso, incentivos regionais às montadoras. Para justificar a farra das múltis, ela disse até que diversos outros países tiveram que socorrer montadoras. “O presidente Barack Obama quase comprou a GM”, enfatizou.
“Acho até estranho [alegar ilicitude no caso]. Teríamos de fazer essa MP de qualquer forma. Não era uma questão de escolha do governante daquele momento”, argumentou. Ela declarou que é normal que a indústria automobilística estrangeira, em países como o Brasil, exerça forte pressão sobre o governo – já que para ela não há tecnologia nacional.
“Um processo histórico acabou com a nossa capacidade de gerar uma marca própria. Você vive das empresas internacionais, que formam um oligopólio”, alegou.
Lula, o ex-ministro Gilberto Carvalho e mais cinco pessoas respondem à ação penal. Eles são acusados de vender a MP 471 a lobistas que defendiam os interesses da Caoa, que fabricava automóveis da Hyundai, e da MMC Automotores (Mitsubishi).
Os procuradores da República sustentam que a Marcondes e Mautoni Empreendimentos – empresa do lobista Mauro Marcondes Machado, que representava as duas montadoras – ofereceu R$ 6 milhões a Lula e Carvalho.