O investimento público tombou para o menor nível dos últimos 50 anos e os recursos investidos pelo setor público no ano passado, após a perda de valor dos ativos, provocou um desinvestimento de R$ 36,5 bilhões.
De acordo com números do Tesouro compilados pelos economistas Sergio Gobetti, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Rodrigo Orair, da Instituição Fiscal Independente (IFI), o investimento somado da União, Estados e Municípios foi de apenas 1,17% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2017 – um total de R$ 79,9 bilhões que não foram suficientes nem ao menos para pagar a manutenção do que já existe. Chamado de “investimento líquido negativo” pelo Tesouro, o investimento público já havia sido baixo em 2016 ao ponto de configurar um desinvestimento, mas a situação se agravou em 2017.
“O investimento já está em nível que não cobre sequer o gasto de depreciação, a manutenção da infraestrutura. Num quadro de enorme instabilidade econômica, com o setor privado retraído para fazer investimentos, se o setor público está com a infraestrutura sucateada e com baixo nível de investimento, a tendência de recuperação é muito mais demorada”, esclarece Gobetti, um dos responsáveis pela análise da série histórica do investimento público.
A política de ajuste iniciada durante o governo Dilma e aprofundada por Temer se desdobrou em um desastre. Gobetti e Rodrigo Orair, do IFI, construíram a série histórica que indica que antes de 2017, os episódios de menor investimento público foram registrados em 1999 e 2003, quando este ficou na faixa dos 1,5%. Contudo, eles esclarecem que há um processo gradual e contínuo, sem recuperação, desde 2015.
Depois do pico de 2,8% em 2010 – considerando apenas a administração pública, sem incluir as estatais – o investimento voltou a cair e, em 2014, se recuperou um pouco. “Mas, com o ajuste fiscal, em seguida, os investimentos têm caído progressivamente”, detalha Gobetti em entrevista ao Vermelho.
Aos que usam o déficit das contas públicas como argumento para a tesourada nos investimentos, fica óbvio de que cortar investimentos é continuar produzindo déficits, especialmente quando no país são praticadas as mais altas taxas de juros do mundo, transferindo boa parte dos recursos para os bancos e inviabilizando a tomada de crédito.