ISO SENDACZ (*)
Falamos sobre o dinheiro como mercadoria e a alta do seu preço mesmo quando a procura é escassa, diante da oferta. Mas, e se a produção de moeda – não as cédulas, mas a base monetária – crescesse muito, o que aconteceria?
Para avaliar, é preciso conceituar o que seja a base monetária, formada pelos haveres nominados em moeda nacional, sejam eles em papel, metal ou registro bancário, no montante disponível para troca por outras mercadorias. O relatório do BCB do final de março aponta o valor de R$ 300 bilhões para o conjunto monetário mais estrito. Outros meios de pagamento multiplicam por dez o montante.
A teoria mais difundida diz que se a base dobrar de tamanho e a produção não, todas as mercadorias dobrariam de preço. Em outras palavras, só se deveria emitir dinheiro novo se a produção crescer, sob o risco de haver inflação.
Na Cuba de 1959 houve, também nesse aspecto, uma mudança radical: criou-se toda uma base monetária novinha em folha, com cédulas impressas no exterior, determinou-se a paridade de troca do dinheiro velho e um limite individual de troca.
Seria precipitado pensar em algo assim nestes tempos especiais. Mas a-judaria muito às pessoas ficarem em casa lhes dar reais lastreados unicamente no poder de Estado, como os EUA costumam fazer de tempos em tempos, só que para pessoas jurídicas “muito grandes para quebrar”.
Podemos fazer como ensina em entrevista à BBC o ex-presidente do Banco Central, nos tempos da crise financeira global de 2008:
“O Banco Central tem grande espaço de expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e, com isso, recompor a economia. Não há risco nenhum de inflação nessa situação”.
Assim, não faltarão recursos para a ajuda emergencial às pessoas que precisam ficar em casa para conter o vírus nem para a retomada da economia que, segundo ele, pode ser perder mais de 5% do seu tamanho este ano.
(*) Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central e do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil.