O rodízio determinado pela Justiça tem que ser respeitado. No dia 1 de agosto, houve o ato pelo voto impresso. Agora é a vez da luta pela democracia, pelas vacinas e contra o golpe
Uma coalizão de 15 movimentos sociais assina uma ação protocolada junto ao Ministério Público de São Paulo cobrando a autorização para a realização da manifestação contra o desgoverno Bolsonaro na Avenida Paulista no feriado de 7 de Setembro. Grupos bolsonaristas, inclusive defensores de golpe de Estado, têm divulgado ato para a mesma data e local.
Não há nenhuma dúvida de que, pelo critério definido pela cúpula da Polícia Militar do Estado de São Paulo desde junho do ano passado – de haver uma alternância de atos na Paulista – a vez é dos movimentos populares que protestam contra o governo. A última manifestação no local foi realizada no dia 1 de agosto, pelos apoiadores de Bolsonaro, que pediam a aprovação do voto impresso, que acabou sendo derrotado no Congresso Nacional alguns dias depois.
Para desrespeitar o rodízio determinado pela Justiça, e aplicado pela PM de São Paulo, os bolsonaristas alegam que no dia 24 de julho, data em que a oposição fez a sua manifestação, um pequeno grupo de religiosos pró-Bolsonaro teria aberto mão de usar a Avenida Paulista. O grupo decidiu fazer o ato religioso no Ibirapuera. Eles quiseram ir para o Ibirapuera e nem participaram de reunião de mediação”, lembra o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bomfim.
O protocolo “de direita”, que teria sido apresentado por religiosos para usar a Paulista no dia 24 de julho era na verdade uma solicitação de uma pessoa para um ato de cunho religioso. E eles decidiram mudar para o Ibirapuera sem nem informar ninguém. Não houve a caracterização de que a oposição substituiu esse grupo na Paulista.
Mas, a Polícia Militar alega que esse “outro ato”, de diferente espectro político, teria aberto mão do dia 24 de julho na Avenida Paulista, o que não se confirma na realidade. Além disso, depois, no dia 1 de agosto, houve o ato pelo voto impresso, manifestação claramente ligada ao Palácio do Planalto.
Portanto, o grupo religioso que trocou a Paulista pelo Ibirapuera no dia 24 não tinha nada a ver com atos de apoio ao governo e com o rodízio estabelecido pelas autoridades para evitar confrontos dos grupos fascistas associados a Bolsonaro com os movimentos democráticos e populares que estão indo às ruas protestar contra o descaso do governo com o combate à pandemia e exigir respeito à democracia.
Na petição, dirigida ao Procurador-Geral de Justiça de São Paulo, os organizadores do ato pela vida, pela democracia e contra os golpistas, argumentam que não houve nenhuma quebra do rodízio e a vez é da oposição. “Quando questionada sobre o outro ato (da situação) que estava marcado para a Avenida Paulista, no dia 24 de julho, os autores foram informados de que se tratava de ato de cunho religioso feito por uma única pessoa, que nos bancos da Polícia Militar, constava como de orientação político-ideológica compatível com a situação”, diz trecho da petição.
“Pois bem, é necessário reconhecer que não existiu outra manifestação política que pretendia ser realizada no mesmo dia, em 24 de julho, na Avenida Paulista. Tratava-se, apenas, de um evento religioso, a ser realizado junto com a Marcha Para Jesus, sem cunho político e congregando pessoas de diferentes espectros ideológicos que comungam da mesma fé. Isto foi evidenciado, inclusive, pela presença de personalidades de diferentes formas de pensamento na Marcha Para Jesus, como o Presidente da República, Jair Bolsonaro, e o Governador do Estado de São Paulo, João Dória”, prosseguiu a petição.
“O fato da pretensão de realização de evento na Avenida Paulista ter sido protocolado por pessoa identificada como ideologicamente “de situação” não o faz um evento político”, acrescentou.
Bomfim ainda critica a concessão da avenida Paulista para pessoas com pensamentos golpistas e que agridem a democracia e as instituições. “Não é razoável que a Paulista seja priorizada para quem defende intervenção militar e fechamento de instituições, em prejuízo de quem defende a democracia e a aceleração da vacina”, frisa. Bomfim afirmou que já entrou no Ministério Público e na Ordem dos Advogados do Brasil requisitando o direito adquirido de fazer o ato na Paulista.
As milícias de Bolsonaro que estão convocando o 7 de Setembro estão sendo inclusive investigadas pelo Supremo Tribunal Federal. O ministro do STF Alexandre de Moraes abriu inquérito contra dez bolsonaristas que conspiram pelo fechamento do Congresso e do STF no dia 7 de Setembro. O requerimento foi feito pela Procuradoria-Geral da República. Entre eles, estão o cantor Sérgio Reis, o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) e Alexandre Urbano Raitz Petersen, presidente do grupo Coalização Pro-Civilização.
Nesta sexta-feira (20), a Polícia Federal deflagrou uma operação contra o grupo e cumpriu mandados de busca e apreensão no DF e nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará e Paraná. Moraes argumentou que “o ato extrapola os direitos à livre expressão e instiga a população, por meio de redes sociais, a praticar atos criminosos e violentos”.
Assinam a ação requisitando a Avenida Paulista os seguintes movimentos:
Acredito
Central de Movimentos Populares – CMP,
Coalizão Evangélica Contra Bolsonaro,
Coalizão Negra por Direitos, Federação das Associações Comunitárias do Estado de São Paulo – FACESP,
Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico – FENET,
Frente Brasil Popular,
Frente Cristã Socialista,
Frente Povo Sem Medo,
Intersindical
Marcha Mundial de Mulheres,
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB,
Movimento de Mulheres Olga Benário e
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto- MTST
União Brasileira de Mulheres – UBM
União dos Movimentos de Moradia – UMM