Objetivo é construir candidaturas democráticas em cidades onde não há segundo turno. “É necessário que a disputa se dê na largada, já com a frente ampla constituída, porque não haverá outra oportunidade”, diz Fernando Guimarães
O movimento Direitos Já! está construindo uma plataforma de debates para união dos candidatos do campo democrático nas pequenas e médias cidades, visando impedir a vitória do bolsonarismo nas eleições municipais de 2024.
A Hora do Povo conversou com o coordenador do movimento, o sociólogo Fernando Guimarães, sobre a proposta de unidade nas eleições municipais. O Direitos Já! – Fórum pela Democracia foi um espaço fundamental para a construção, desde 2019, da frente ampla que derrotou Jair Bolsonaro e elegeu Lula em 2022.
A estratégia que está sendo elaborada tem como foco as cidades onde não há disputa de segundo turno, ou seja, aquelas com menos de 200 mil eleitores, e que têm como favorito na disputa pela Prefeitura um candidato de extrema direita.
“Nessas cidades, se o campo democrático não se unir, o risco de um candidato de extrema-direita vencer é grande. É necessário que a disputa [contra a extrema-direita] se dê na largada, já com a frente ampla constituída, porque não haverá outra oportunidade”, apontou o coordenador do grupo.
“Vamos mapear cada cidade, com a ajuda dos partidos, onde o candidato favorito é um negacionista, que apoiou o 8 de janeiro, que não tem compromisso com a democracia e que coloca em risco a vida das pessoas”, explicou.
Em seguida, serão abertas discussões para que o candidato do campo democrático com maior chance de derrotar o bolsonarismo seja apoiado pelo restante dos partidos. A frente ampla, dessa forma, somará suas forças para impedir a vitória da extrema-direita, disse.
“Vamos encontrar um formato para poder compor mesas nos Estados e construir o entendimento de cada cidade em risco”, detalhou Fernando Guimarães.
Já nas cidades “onde a disputa for entre democratas, segue o jogo normal”, pontuou.
ESTRATÉGIA BEM RECEBIDA
Onze partidos participaram da última reunião, sendo eles PT, MDB, PSB, PSDB, PSD, Rede, PDT, PCdoB, PV, Cidadania e Podemos, mas outros poderão se somar à unidade que está sendo construída, como Psol, União Brasil, Avante e Solidariedade.
Os líderes partidários, conforme contou Guimarães, “receberam bem” a proposta do Direitos Já! e agora vão discutir internamente a adesão à estratégia. “Nas próximas semanas, vamos retomar essa conversa com os partidos para construir um mapa que permita a identificação” dos municípios que serão prioridade na construção da unidade.
Fernando Guimarães contou que a estratégia foi traçada tendo como prioridade as cidades pequenas e médias porque nos municípios onde há disputa de segundo turno a “frente ampla naturalmente se constrói pelo compromisso das forças democráticas”.
Nas grandes cidades, portanto, “você pode ter no primeiro turno mais do que um candidato do campo democrático” sem que isso facilite o caminho dos bolsonaristas.
A avaliação do movimento é que o grupo de Jair Bolsonaro vai tentar “com mais gana” vencer as eleições nas pequenas e médias cidades, já que naquelas onde há segundo turno existe “uma composição natural da frente ampla, como nas últimas eleições”.
FRENTE AMPLA É UM IMPERATIVO HISTÓRICO
Para o sociólogo, a frente ampla continua sendo um “imperativo histórico” mesmo depois da vitória de Lula sobre Bolsonaro, uma vez que a extrema-direita, ou o bolsonarismo – ou, mesmo, fascismo -, conseguiu se enraizar nas “Câmaras Municipais, em espaços de poder e diversas instâncias da sociedade”.
“Se a gente permitir o avanço das eleições municipais, acaba se naturalizando essa visão autoritária que coloca em risco a democracia”, avalia.
Fernando Guimarães destacou que a margem apertada sobre a qual Lula venceu Bolsonaro em outubro de 2022 demonstra “a importância que teve a frente ampla” e cada um de seus componentes.
Lula teve somente 2,1 milhões de votos a mais do que Bolsonaro, o que representa uma vantagem de 1,8 ponto percentual – a menor desde a redemocratização.
“A vitória que Lula teve não pode ser atribuída somente à esquerda ou ao centro. É uma vitória que a gente deve atribuir ao eleitor de direita e conservador, que preferiu votar num candidato apresentado pelo setor progressista do que permitir a reeleição de um fascista”, afirmou o coordenador do Direitos Já!.
PEDRO BIANCO