O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Augusto Passos, sinalizou na segunda-feira (30) que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pode ser chamado a depor no inquérito que investiga o decreto golpista encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
“Provavelmente, eu não posso cravar aqui que isso acontecerá, provavelmente ele e qualquer outra pessoa que tiver informação ou relação com os episódios investigados pode ser chamado a ser ouvido na condição de testemunha para poder ajudar a esclarecer os fatos”, disse em entrevista à GloboNews.
Na última sexta (27), o presidente do partido de Jair Bolsonaro afirmou que propostas golpistas como a encontrada na residência do ex-ministro “tinham na casa de todo mundo”.
Em entrevista ao jornal O Globo, Valdemar disse: “Muita gente chegou para mim agora e falou: ‘Pô, você sabe que eu tinha um papel parecido com aquele lá em casa. Imagina se pegam’”.
Ele não apontou, porém, quais seriam as pessoas e casas que teriam textos similares.
“Nunca comentei, mas recebi várias propostas, que vinham pelos Correios, que recebi em evento político. Tinha gente que colocava (o papel) no meu bolso, dizendo que era como tirar o Lula do governo”, disse ao jornal.
“Advogados me mandavam como fazer utilizando o artigo 142, mas tudo fora da lei. Tive o cuidado de triturar”, completou.
Horas depois, o aliado do Bolsonaro alegou à CNN Brasil ter recorrido a uma “metáfora ao dizer que todo mundo tinha isso dentro de casa”.
“Porque isso era um negócio que corria dentro do governo, o pessoal comentando ‘olha, recebi uma proposta aqui’. Eu recebia e moía. O Anderson não fez isso. Deve ter acontecido com ele”, justificou.
O decreto do golpe foi apreendido pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão. O documento tinha como objetivo instaurar um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para anular de forma golpista o resultado da eleição presidencial do ano passado.
O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), protocolou uma representação no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando investigação contra Valdemar.
PRERROGATIVAS
O grupo Prerrogativas – coletivo de advogados – protocolou nesta terça-feira (31) duas representações junto à Procuradoria-Geral Eleitoral e à Procuradoria-Geral da República para que a fala do presidente do PL seja incluída nas apurações sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro e o abuso de poder político por parte de Jair Bolsonaro nas eleições.
O grupo pede para investigar o uso institucional do partido em interesses que pretendiam atentar contra o Estado Democrático de Direito.
Para o grupo, o conteúdo da entrevista de Valdemar Costa Neto está diretamente ligado aos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro e à democracia.