“É neste quadro adverso para a cultura e o povo brasileiro que o Sindicato dos Escritores de São Paulo vem a público conclamar a todas as forças políticas, personalidades, entidades e movimentos interessados na preservação das liberdades individuais e coletivas, e na manutenção, aperfeiçoamento e expansão das garantias do Estado de Direito, a constituírem uma Frende Democrática, ampla e plural, que una o Brasil para barrar as intenções ditatoriais e golpistas do atual mandatário da República e de seus asseclas, defender a Constituição Federal, afastar o perigo fascista e abrir caminho para superar a crise”, afirma o Manifesto “Em Defesa da Democracia, da Cultura e dos Escritores Brasileiros”, lançado pela diretoria do Sindicato dos Escritores de São Paulo, eleita no dia 11.
O manifesto foi lido pelo 1º Secretário, Elder Vieira dos Santos, na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, onde se deu a eleição.
O presidente reeleito, Nilson Araújo de Souza, alertou para o dano ao país representado pelo atual governo: “Já começam a violentar a democracia, violentar os direitos do nosso povo, a soberania nacional. Querem acabar com o patrimônio público e, de um ponto de vista mais geral, é um grupo que ameaça a própria convivência e o avanço civilizatório em nosso país. É um grupo obscurantista: para eles, tudo o que foi produzido em termos de ciências naturais, não existe e, assim, negando a ciência, negando de Copérnico a Galileu e todo o desenvolvimento científico até os nossos dias, dizem que a Terra é plana”.
Ao saudar a diretoria eleita, Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois e dirigente do Partido Comunista do Brasil enfatizou: “A eleição de uma diretoria como esta é fundamental neste momento da vida nacional em que é perigoso o que essa gente procura repor enquanto retrocesso na história do nosso país”.
Renato destacou ainda a clareza do manifesto lançado nesta noite, “que mostra que esta diretoria está percebendo a importância de unirmos todos os democratas, patriotas, progressistas e até liberais sensatos para barrar qualquer tentativa ditatorial. Eu penso que esta é uma questão fundamental, a questão decisiva, é aquilo que costumo chamar de ameaça maior”.
O presidente da CGTB, Ubiraci Dantas, também saudou a nova diretoria: “Vejo nos escritores pessoas voltadas para o nosso povo, para o nosso país, para o ser humano. Estes escritores, que assim se desenvolveram, serão capazes de estimular o enfrentamento dessa realidade na qual mergulhou o nosso país”.
Rosanita Monteiro de Campos, presidente da Fundação Cláudio Campos, alertou que “devemos ter claro que sem democracia, não há estímulo aos escritores, à cultura, e até o próprio país fica sob risco. Bolsonaro quer destruir nosso país e a contribuição que espero que este sindicato dê é no sentido de ajudar a evitar que uma ditadura fascista se instale no nosso país, este tem que ser o nosso compromisso, isso nos unifica a todos e nos ajuda a trazer muita gente para o nosso lado”.
A vice-presidente Rosani Abu Adel prestou homenagem ao fundador do Sindicato, Toledo Machado, e lembrou, na figura de Vladimir Herzog, cujo quadro está exposto no auditório cedido pelo Sindicato dos Jornalistas, a luta dos dois sindicatos unidos naquele grave momento. A seguir, Rosani também homenageou o povo palestino em seu Dia Internacional de Solidariedade, recitando um poema seu, denominado “O Canto do Alaúde”.
“Para cumprir a dupla missão de defender a democracia e mobilizar e unir os escritores, o Sindicato articular-se-á com todos os interessados em um Brasil livre de amarras, mentiras, medos e violências; com o conjunto do movimento sindical brasileiro; e com as demais organizações representativas ou associativas da categoria, dentre elas, com destaque, a União Brasileira de Escritores”, afirma o manifesto lançado no dia da eleição da nova diretoria
“É uma satisfação ceder espaço do nosso sindicato para um ato de defesa da democracia como este”, afirmou o secretário de Relações Intersindicais do Sindicato dos Jornalistas, André Freire.
“Daremos um combate muito forte em defesa da cultura, da liberdade de expressão, das liberdades democráticas, em defesa de tudo aquilo que a civilização brasileira construiu ao longo da nossa história e que este governo está buscando destruir”, afirmou Edmilson Costa, eleito para a 2ª vice-presidência.
Estiveram presentes, os escritores e novos diretores Jeosafá Fernandez, Jorge Suleiman e Lejeune Mirhan, o músico e cantor Cícero do Crato, o cineasta Caio Plessman, além do ativista Geraldo Pereira e da professora Luisa Moura.
Segue o manifesto:
EM DEFESA DA DEMOCRACIA, DA CULTURA E DOS ESCRITORES BRASILEIROS
O Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo vem a público alertar e opor-se decididamente ao ataque generalizado à cultura promovido pelo atual governo de ensandecidos obscurantistas, o mais autoritário, reacionário e antinacional da nossa história, e inimigo do povo brasileiro.
Nossa categoria – que reúne, entre tantos profissionais, romancistas, poetas, dramaturgos, produtores de obras nos mais diversos ramos das ciências e da cultura, roteiristas de cinema – é uma das mais atingidas pelas posturas e medidas de um presidente que elegeu a cultura e a produção cultural como uma de suas maiores inimigas.
A mais estarrecedora e destrutiva destas medidas foi a extinção do Ministério da Cultura e a sua subordinação ao Ministério do Turismo, como se a cultura pudesse ser reduzida a algo exótico para entretenimento de turistas. Ao contrário dessa visão superficial e ultrapassada, a atividade cultural está inserida e é produto da vida e do trabalho do nosso povo e do nosso país, nas suas mais distintas regiões e localidades, processando o resgate da memória e da história da nacionalidade, promovendo inovação e cidadania, gerando riquezas e colaborando significativamente para a composição do Produto Interno Bruto e o desenvolvimento do País.
Nós, escritores, opomo-nos a essa medida e aos ataques em toda a linha, que vão desde o corte de verbas e tentativa de desmoralização da Universidade Pública, com o fito de amordaçá-la e privatizá-la, até a paralisação da Ancine, cujo objetivo é estabelecer a censura e desorganizar a produção audiovisual brasileira, como forma de atender aos interesses das grandes corporações internacionais e nacionais do setor, passando por descalabros que põem em risco mecanismos e instituições de promoção da atividade cultural e de preservação do patrimônio e da memória nacionais, a exemplo do Fundo Nacional de Cultura, o Fundo Setorial do Audiovisual, a Funarte, o IPHAN, a bicentenária Biblioteca Nacional, Casa de Rui Barbosa, Fundação Cultural Palmares e Instituto Brasileiro de Museus – mecanismos e instituições construídos ao longo de nossa história como Nação.
A todo esse atropelo, soma-se a PEC 905/2019, que, entre outros absurdos, põe fim à regulamentação da profissão de jornalista, bem como desregulamenta outras dez profissões de nível superior. Para um presidente que repudia a democracia e tudo o que se refere à civilização, e que chegou ao poder por força das chamadas “fake news”, atacar os profissionais do jornalismo é, a um só tempo, atacar o direito da cidadania à informação qualificada, dificultar o desmascaramento do desgoverno, e atender aos interesses econômicos dos proprietários da grande mídia. Uma inaceitável discriminação que repudiamos, ainda mais em um momento em que nos propomos a reencetar a nossa luta histórica pela regulamentação da profissão de escritor.
O ataque à cultura e à ciência, próprio de forças de extrema-direita, de natureza fascista, está em linha com os postulados neoliberais, cevados nos centros hegemônicos da economia mundial, e defendidos e aplicados por governos submissos de diversos países latino-americanos, dentre eles, o que se instalou no Planalto. Tais postulados levam à desnacionalização das economias e das riquezas, à desindustrialização, e à superexploração da força de trabalho. A economia criativa brasileira sofre os impactos disto. A produção, distribuição e difusão cultural e artística voltam a ser mais extensivamente controladas pelas grandes corporações, muitos delas transnacionais, que estrangulam a concorrência nacional e estreitam as possibilidades de ampliação de nossas publicações, exibições e realizações. Essa concentração provoca o enfraquecimento do conjunto das editoras, produtoras e distribuidoras brasileiras; privilegia as publicações e produções estadunidenses e europeias; prejudica o autor, realizador e executor de obras nacionais; homogeneíza a oferta de obras, prejudicando a diversidade, a criticidade e a inovação; obsta ao povo o acesso a um repertório mais vasto e plural.
É considerando todo este quadro adverso para a cultura e o povo brasileiro que o Sindicato dos Escritores de São Paulo vem a público conclamar a todas as forças políticas, personalidades, entidades e movimentos interessados na preservação das liberdades individuais e coletivas, e na manutenção, aperfeiçoamento e expansão das garantias do Estado de Direito, a constituírem uma Frende Democrática, ampla e plural, que una o Brasil para barrar as intenções ditatoriais e golpistas do atual mandatário da República e de seus asseclas, defender a Constituição Federal, afastar o perigo fascista e abrir caminho para superar a crise.
O Sindicato também convoca a todos os integrantes da categoria a se unirem em torno de sua entidade representativa para abraçarmos a cada vez mais ampla mobilização de toda a sociedade em defesa da democracia, da cultura, dos direitos trabalhistas, da valorização de nossa profissão, e por sua democratização da produção, divulgação, assim como o acesso às obras literárias e à cultura de forma geral.
Como parte da luta democrática, laboremos pela regulamentação de nossa profissão; por condições dignas ao trabalho do escritor; por remuneração e relações contratuais justas e transparentes; por uma política adequada de direitos autorais e para que saiamos da atual situação de vilipêndio para uma em que haja apoio à atividade de criação literária, respeitadora da diversidade estética, política, de linguagens e de suportes; pela criação de órgão público de regulação e fomento da cadeia econômica e social do livro, leitura e literatura, com vistas à sua proteção, desenvolvimento, inovação, expansão, democratização e equilíbrio, considerando, especialmente, as novas tecnologias e seus impactos nos processos criativos, de troca, distribuição, difusão, remuneração e fruição.
Para cumprir a dupla missão de defender a democracia e mobilizar e unir os escritores, o Sindicato articular-se-á com todos os interessados em um Brasil livre de amarras, mentiras, medos e violências; com o conjunto do movimento sindical brasileiro; e com as demais organizações representativas ou associativas da categoria, dentre elas, com destaque, a União Brasileira de Escritores, visando à unidade de ação para a conquista de dias melhores para o Brasil.
São Paulo, 11 de dezembro de 2019, Sindicato dos Escritores do Estado de São Paulo
A diretoria eleita é composta por
Diretoria Executiva
Presidente – Nilson Araújo de Souza
1ª. Vice-presidente – Rosani Abou Adal
2º Vice-presidente – Edmilson Silva Costa
1º Secretário – Elder Vieira dos Santos
2º Secretário – Jeosafá Fernandez Gonçalves
1º Tesoureiro – Jorge Suleiman
2º Tesoureiro – Caio Plessmann de Castro
Suplentes da Diretoria:
Rosanita Monteiro de Campos
Luisa Maria Nunes de Moura e Silva
Lejeune Mirhan Xavier de Carvalho
Mariana Nunes de Moura Souza
Gabriel Landi Fazzio
Douglas Rodrigues Barros
Mirlene Fátima Simões Wexell Severo
Conselho Fiscal
Efetivos
Geraldo Pereira dos Santos
Nathaniel Braia
Carlos Roberto de Moura Silva
Suplentes
Sezário Severino Silva
Rosângela Zanon Monteiro
Leonardo Wexell Severo
A diretoria eleita indicou, os seguintes integrantes para o Conselho de Representantes:
Alexandre Ramos
Altamiro Borges
Antônio Carlos Mazzeo
Carlos Lopes
Cicero Umbelino da Silva
Clovis Monteiro
Fabio Siqueira
Fabiola Bastos Notari
Gislaine Caresia
Ildo Luis Sauer
José Américo Silva
Luis Roberto Guedes
Luis Rodolfo de Souza Dantas
Luiz Bernardo Pericás
Nicodemus Sena
Paulo Cannabrava
Prof. Zuza
Sergio Cruz
Tariana Brocardo Machado
Walter Neves
Yuri Abyaza Costa
NATHANIEL BRAIA
Moro no Rio de Janeiro. Tenho endereço e telefone do Sindicato dos Escritores. No endereço, a casa está sempre fechada; o telefone ninguém atende. Não consigo descobrir o nome dos responsáveis pelo sindicato.
Gostaria de saber as condições para sindicalizar-me, pois, escrevi um livro (pretensioso) “A Volta do Pequeno Príncipe”.
Poderiam informar-me como conseguir contato com algum representante de lá?
Agradeço, antecipadamente
Vamos tentar, leitora. Comecemos por publicar o seu pedido.
Gostaria de saber se posso sindicalizar-me pelo Sindicato de São Paulo, uma vez que moro no Rio de Janeiro e sou carioca. Publiquei um livro.
Não existe Sindicato de Escritores no Rio de Janeiro. Está fechado. Tem telefone, mas ninguém atende.
Obrigada.