
“Lula eles não enganam”, avisa o assessor da Presidência
O ex-chanceler e assessor especial da Presidência, Celso Amorim, disse que “a disposição de negociar” mostrada por Donald Trump para Lula “é fundamental”, mas que o Brasil não dará “nada de graça”.
Em entrevista ao UOL, Amorim avaliou que Donald Trump não vai conseguir causar uma cena de constrangimento para Lula, como fez com outros presidentes. “Lula eles não enganam”, disse. E advertiu que “nós aqui cuidamos do Brasil”.
Na Assembleia-Geral da ONU, Donald Trump falou em seu discurso que deu um abraço em Lula e que os dois iriam se reunir. O assessor especial de Lula contou que formato, data e local da conversa ainda não foram definidos.
“Até agora havia apenas uma relação indireta, por carta, sempre muito tensa. E acho que houve um desejo de distensão. Se vai resolver alguma coisa, os problemas substantivos, temos ainda que ver. Mas há a possibilidade e o desejo de conversa, e isso é positivo”, comentou Celso Amorim.
“O que procuramos para o mundo é um certo equilíbrio e que contribua para a paz. Isso é bom para todos. Essa é a nossa mensagem. E, no comércio, claro que não podemos resolver tudo de uma vez. Evidente que favorecemos o comércio multilateral. Mas vamos tentar tratar do imediato, fazer como outros países estão fazendo”, continuou.
De acordo com o ex-chanceler, as negociações entre o Brasil e os EUA sobre as tarifas impostas de forma unilateral por Donald Trump estavam paralisadas porque o governo norte-americano colocava “uma questão de natureza judicial e política”, o que “não era possível”.
No caso, Trump vinculava as tarifas ao processo em que Jair Bolsonaro respondia no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. O governo Lula e o STF rejeitaram a tentativa de interferência dos EUA.
Acerca da negociação, Celso Amorim disse que o Brasil não tem tarifas sobre os produtos dos EUA para reduzir, “nem eles pediram especificamente isso. Vamos ver o que eles querem. Acho que será uma negociação mais na área de investimentos, desde que haja processamento no Brasil. Há coisas que interessam a eles. Mas não daremos nada de graça. Não só uma troca por tarifas, mas também com beneficiamento no Brasil”.
Donald Trump já expressou interesse em se apropriar das terras raras e de minérios. Amorim falou que “esse é um tema extremamente sensível. Tão sensível que o presidente Lula vai criar um conselho para que não seja tratado apenas como uma questão comercial menor”.
“Mas, com um acordo que também nos beneficie, com processamento no Brasil, e desde que não nos prive do que é o essencial para nós, dá para conversar”, comentou.
Questionado sobre a situação do bolsonarismo e Eduardo Bolsonaro diante do começo das conversas entre Lula e Trump, Amorim respondeu: “Isso é um problema deles. Nós aqui cuidamos do Brasil”.