Moradores do Rio recorrem ao “caminhão de ossos” com restos de ossos e sebo antes distribuídos para cachorros
Nos 1000 dias de desgoverno Bolsonaro, brasileiros com fome disputam carcaça de boi, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na quarta-feira (29), uma reportagem do jornal Extra mostrou a triste realidade de pessoas formando fila no aguardo de recolher ossos e sebos – sobras de supermercados -, distribuídos pelo ‘Caminhão de ossos’.
O motorista do caminhão, seu José, comentou que antigamente as pessoas catavam os restos de ossos com carne e sebo para darem para os cachorros, mas hoje, a realidade é que estes restos servem de alimento para famílias inteiras.
“Pedem para comer mesmo. A gente avisa que está meio estragado, que pode passar mal. Mas é assim mesmo. É triste meu irmão”, lamentou José Divino Santos, de 63 anos, ao explicar que estaciona o caminhão “ali na Glória toda terça e quinta” com parte das carcaças que foram recolhidas nos supermercados da cidade. “Antigamente vinha aqui uma, duas pessoas, no máximo três. Hoje em dia é isto aqui… muita gente”, destacou.
De acordo com os dados do IBGE divulgados hoje (30), são quase 32 milhões de pessoas, entre desempregados e subutilizado, em busca de um trabalho no Brasil que está com a economia paralisada e com a inflação galopante, tirando a comida da mesa da população.
Segundo dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), a “prévia da inflaçã” de setembro chegou a 10,05% no acumulado de 12 meses – ultrapassando os dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016. No acumulado do ano, os preços das carnes fecharam em alta de 10,62% e Aves e ovos com o aumento de 17,19%.
Um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) apontou que mais de 116,8 milhões de pessoas vivem hoje sem acesso pleno e permanente a alimentos. Dessas, 19,1 milhões passam fome, vivendo “quadro de insegurança alimentar grave”. Os números revelam um aumento de 54% no número de pessoas que sofrem com a escassez de alimentos se comparado a 2018.
Finge que não é nada com ele: “sou um zero à esquerda na economia”, disse Bolsonaro
Bolsonaro comemorou no início desta semana 1000 dias de seu governo. Questionado sobre a explosão da inflação no país, em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro se fez de bobo, fingiu que não é nada com ele. “Sou um zero à esquerda na economia”, disse o inquilino do Palácio do Planalto, jogando a sua responsabilidade para o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto – isto é, para o mercado financeiro – quanto à solução do problema do descontrole da inflação. Aliás, Bolsonaro não representa um “zero à esquerda” só quando se trata de economia.
OAB vai ao STF
No início desta semana, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolou uma ação de Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) no Supremo Tribunal Federal (STF), que obriga o governo Bolsonaro a implementar políticas públicas de combate à fome junto aos governos estaduais, municipais e o Distrito Federal. Para o OAB, “o grave cenário [de insegurança alimentar] vem se acentuando nos últimos dois anos em virtude do desmonte das políticas públicas de combate à fome e distribuição de renda no Brasil”, disse o órgão na ação.
O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, lembrou que desde 2010, a Constituição Federal inclui o direito à alimentação, de forma explícita, em seu artigo 6º.
“Ao conferir um status constitucional ao tema do direito à alimentação como um direito social que deve ser reafirmado expressamente, mesmo que muitos outros dispositivos já o garantisse indiretamente, está sacramentado o compromisso do Estado brasileiro de dar prioridade a esse assunto. Compromisso que, como fartamente documentado na ADPF , não tem sido cumprido”, disse Santa Cruz.