Alegando perda de receitas, as distribuidoras de energia elétrica iniciaram uma negociação com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pois teriam deixado de ganhar R$ 5 bilhões no ano passado.
Essas “ditas” perdas devem ser analisadas pela diretoria da Aneel nas próximas semanas, mas ainda não há data. Caso elas sejam reconhecidas, fontes do setor dizem que os consumidores é que vão pagar essa conta. Que isso seria feito parceladamente nos próximos anos, certamente criando mais pressão sobre as de contas de luz.
As Casas Bahia, a Magazine Luiza, as montadoras de veículos e a cadeia industrial do setor, o bar e restaurante do chef famoso ou simplesmente da esquina, o supermercado grande ou aquele do bairro, e as empresas em geral perderam receitas e tiveram maiores problemas nas suas cobranças. A pandemia afetou geral.
Todas enfrentaram essas perdas com recursos próprios ou endividamento. Recorreram ao Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), ao Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), criaram novas soluções para manter suas atividades, fizeram das “tripas coração”, no dito popular. Várias faliram.
As distribuidoras de eletricidade, não. Querem que o consumidor pague R$ 5 bilhões porque economizaram KW/h, porque aderiram a necessidade de economizar energia ou mesmo ficaram sem recursos, sem emprego, com o auxílio emergencial capenga em 2020 para pagar a conta de luz.
Mesmo a tarifa social é lucrativa e sua inadimplência é muito bem administrável. A primeira coisa que a maioria das famílias fazem é pagar a conta de água, depois a conta da luz. A mesma coisa as empresas.
Com uma agravante. O governo autorizou o uso de todas essas usinas, até mesmo as mais caras, para garantir o abastecimento de energia no País. O custo bilionário dessa opção vai acabar na conta de luz do próximo ano. O custo adicional desse racionamento vai ser de R$ 13,1 bilhões para os brasileiros, especialmente, os que menos têm.
A situação do abastecimento de energia elétrica no país está mostrando, neste período de estiagem de 2021, como a falta de planejamento e do investimento do Estado nos trouxe ao racionamento econômico, forçado pelo alto custo do KWh, e o risco de apagões.
O setor elétrico foi, talvez, o mais atingido pelas privatizações que culminaram com a venda da Eletrobrás há semanas atrás. A política de privatizações transferiu a propriedade do Estado para particulares. Estes pegaram as estruturas montadas, fizeram relativamente parcos investimentos adicionais e ficaram engordando suas carteiras com lucros dos ativos de resultados garantidos.
As ampliações da estrutura de produção elétrica, ainda com novas hidrelétricas, e nas novas fronteiras da energia eólica ou fotovoltaica ou até mesmo nuclear, ficaram estagnadas.
Havia, como há, uma demanda de energia elétrica a ser atendida, tanto imediata, como de longo prazo. A iniciativa privada, no entanto, não se apresentou para assumir esses desafios, apesar do grande potencial lucrativo.
Os grandes capitais preferem ter o ganho certo e vultoso das privatizações, passeiam pelo mundo, especulando de manhã no Brasil e depois em Singapura, aplicam nas dívidas dos Estados soberanos que foram transformadas em seus dependentes.
Arriscam emplacar os Bitcoins, uma moeda acima de todas as demais, mas construir usinas hidroelétricas como uma Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) ou uma Furnas Centrais Elétricas S/A, ou simplesmente Eletrobrás Furnas (Furnas) não lhes parece atrativo.
Especialmente quando temos o Guedes/Bolsonaro entregando duas prontinhas.
Sem um planejamento centralizado conduzido pelo Estado, chamando a iniciativa privada na composição dos investimentos, nada foi feito, nem será.
J.AMARO