
Bastou o Supremo Tribunal Federal (STF) retomar o julgamento dos golpistas que Donald Trump, com o apoio explícito de Jair Bolsonaro e seu entorno, ameaçou recrudescer as medidas já adotadas contra a economia nacional, através do repulsivo tarifaço contra as exportações brasileiras.
“Ontem marcou o 203º Dia da Independência do Brasil. Foi um lembrete do nosso compromisso de apoiar o povo brasileiro que busca preservar os valores da liberdade e da justiça. Em nome do ministro Alexandre de Moraes e dos indivíduos cujos abusos de autoridade minaram essas liberdades fundamentais, continuaremos a tomar as medidas cabíveis”, publicou na rede X o capacho da Casa Branca Darren Beattie, que ocupa o pomposo cargo de subsecretário para Diplomacia Pública do Departamento de Estado dos EUA.
A defesa dos “valores da liberdade e da justiça”, além de cínica, soa como ridícula na boca do porta-voz de um país cuja história dos últimos 70 anos é marcada pela afronta renitente às nações soberanas e povos livres em todo mundo, com se verificou nas já conhecidas intromissões diplomáticas e militares, além do desrespeito aos seus próprios cidadãos, à justiça e à imprensa independente.
A manifestação do trumpista foi endossada pela Embaixada dos Estados Unidos sediada no Brasil, elevando o tom das ameaças e chantagens contra a economia brasileira e a suprema corte que, com independência, está prestes a condenar e colocar atrás das grades os que lideraram a tentativa de golpe contra a democracia e as instituições republicanas, feito semelhante ao protagonizado por Trump, em 2021, quando incentivou o assalto ao Capitólio, o parlamento americano, para impedir o anúncio da vitória de seu oponente. Fatos muito semelhantes aos ocorridos no Brasil no fatídico 8 de janeiro de 2023, com a diferença que Trump, 4 anos depois, voltou à Casa Branca, e, aqui, seu homólogo golpista está em vias de ver o sol nascer quadrado.
Além da declaração de seu sabujo, restou a Trump vociferar que está “muito irritado” com o Brasil, ameaçando restringir novos vistos de autoridades que planejam participar da Assembleia Geral a ONU, em Nova York.
“Estamos muito irritados com o Brasil. Já aplicamos tarifas pesadas porque eles estão fazendo algo muito infeliz. O governo mudou radicalmente. Radicalmente para a esquerda. Isso está fazendo muito, muito mal. Vamos ver”, afirmou coleramente.
O ditador da Casa Branca que se prepare, então, pois a irritação vai escalar, na medida em que o governo do presidente Lula afirmou, pela enésima vez, que o Brasil é um país soberano e que não participará de qualquer ingerência no julgamento que está sendo conduzido de forma independente, como prevê a Constituição Cidadã.
A irritação de Trump, entretanto, não está associada, apenas, ao julgamento de Bolsonaro e seu entorno golpista, mas ao fato do tiro do tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros, desde agosto, estar saindo pela culatra. Basta ver os reflexos da medida tresloucada na própria economia americana e os anúncios dos novos mercados que estão sendo descortinados pelo Brasil, não apenas com os países que integram o BRICS, mas também com outras nações cujas economias ainda são muito dependentes da norte-americana, como o México.
Além do mais, a aplicação da lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, não fez nem cócegas e caiu no vazio, sendo ridicularizada até mesmo pelo autor dessa legislação espúria, cujo único objetivo é dotar os EUA de um instrumento a mais para perseguir seus adversários pelo mundo afora.
Por sua vez, o boicote declarado à presença de autoridades brasileiras na Assembleia Geral da ONU, evento que tradicionalmente reúne líderes de todo o mundo, só reforça a convicção de que, sob Trump, os EUA não têm a menor capacidade de ser o anfitrião de eventos patrocinados por organismos multilaterais. Talvez, uma boa hora para passar a planejar essas reuniões em outros países e continentes.
JULGAMENTO SEGUE DE VENTO EM POPA
O fato é que nada disso está impedindo que o STF, nesse exato momento, analise com absoluta independência o voto que Moraes está proferindo no julgamento dos golpistas, com destaque para a ligação de Bolsonaro com toda a trama solerte, apontando-o como líder de uma organização criminosa.
Na apresentação, Moraes citou desde a utilização de órgãos públicos como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para o monitoramento de adversários políticos e executar a estratégia de ataques contra o Poder Judiciário e ao sistema eleitoral até eventos públicos do governo Bolsonaro, como a live de ataque às urnas eletrônicas, a reunião com embaixadores e a manifestação de 7 de setembro em 2021, além dos atos golpistas praticados após o segundo turno das eleições de 2022, como a utilização da estrutura da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Ao comentar as anotações de Alexandre Ramagem sobre questionamentos às urnas eletrônicas dirigidos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Moraes fez uma comparação que repercutiu de imediato:
“Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para outro. Isso é uma mensagem do diretor da Abin para o então Presidente da República.”
A declaração foi reproduzida inúmeras vezes no X (antigo Twitter), onde também ganhou força outra ironia do ministro. Ao se referir ao caderno encontrado com Ramagem, com anotações sobre supostas fraudes no sistema eleitoral, Moraes disparou: “Meu querido diário”, provocando risadas no plenário da Primeira Turma do STF.
O relator destacou que não era plausível que registros golpistas fossem escritos na terceira pessoa e usados depois em transmissões oficiais do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Moraes, o material configurava comunicação direta com o então chefe do Executivo.