As organizações sociais proscritas pelo governo ditatorial de Ortega são, entre outras, a CENIDH (que atua na preservação e denúncia do ataque aos direitos humanos), IPADE (que congrega educadores para promover educação popular), IEPP e CINCO (que atuam na formulação de pesquisas e debates), CISAS (entidade de mulheres e de promoção da saúde comunitária) Popol Na (de apoio ao movimento rural).
Com mais este ato de hostilidade ao movimento popular nicaraguense, Ortega da mais um passo na restrição às liberdades democráticas do país, já estão proibidas manifestações contrárias ao governo, há centenas de presos políticos e de mortos e feridos pelas gangues organizadas pelo orteguismo para atacar manifestantes.
“O que estamos vivendo na Nicarágua é terrorismo de Estado”, denuncia o nicaraguense residente no Rio de Janeiro, Humberto Meza, pesquisador da UFRJ, formado em Ciências Políticas pela Unicamp.
Ele lembra da sentença ao condenado pelo assassinato de Raynéia, médica brasileira residente em Manágua: “Uma ‘sentença’ falsa e bizarra”.
As declarações de Meza se somam às da mãe de Raynéia Gabrielle, morta a tiros ao sair do hospital onde acabara de concluir um dia de trabalho, em Manágua. “Não foi feita justiça, diz Maria José da Costa, mãe da jovem médica.
A condenação veio no dia 12, depois que o segurança particular, Pierson Adán, assumiu a autoria dos disparos. Ele disse que Raynéia dirigia de “maneira suspeita”. A condenação de Adán é de 15 anos. A mãe de Reynéia diz que nenhum parente da brasileira pode acompanhar as audiências e questiona: “Como um simples vigilante que acabou de matar uma médica teve sozinho o poder de desaparecer com o carro e o celular (que até agora não apareceram) e destruir imediatamente todas as câmeras que filmaram o ocorrido”.
Ao tempo em que torna ilegais as atividades de organizações que estão entre as mais importantes da Nicarágua, policiais invadiram as instalações do grupo comandado pelo jornalista Carlos F. Chamorro, que edita o jornal El Confidencial e a revista Esta Semana, roubando computadores, arquivos e material de escritório.
O portal do El Confidencial continua no ar e através dele que pudemos ter acesso, hoje, dia 15, a denúncias de que “menos de 24 horas após o violento assalto e saque na redação a polícia ocupou a sede das instalações”.
Segundo a denúncia estão lá cinco policiais armados que entraram no prédio às 22:27 h da quinta (dia 14). No dia 13, pela noite, o roubo foi de “dezenas de equipamentos usados na produção jornalística, documentos contábeis e pertences pessoais”.
Segundo seguranças do jornal eles foram ordenados a se retirar do local antes da invasão pela polícia orteguista que lhes advertiu: “Viemos aqui para tomar esta merda”.
O jornalista Chamorro, condenou a “agressão fascista”.
Aproveitando-se do isolamento de Ortega, devido a suas medidas ditatoriais, dentro e fora da Nicarágua, o governo dos EUA decidiu impor sanções ao país. Em primeiro lugar, salta aos olhos o caráter extraterritorial das sanções através das quais, segundo informa o jornal USA Today, o Departamento de Tesouro dos EUA se dirigem a entidades internacionais, a exemplo do FMI, Banco Mundial e Bird para barrar empréstimos à Nicarágua.
Em segundo lugar, o histórico norte-americano, aí incluso o recente apoio ao complô que levou uma junta fascista ao poder na Ucrânia, não nos deixa prever a substituição do governo ditatorial de Ortega (que tem origem na derrubada da ditadura pró-americana de Somoza pela Revolução Sandinista, mas que abandonou suas raízes populares e se voltou contra o povo) em qualquer regime democrático, mas visa tirar proveito desse distanciamento e isolamento para levar ao poder títeres submissos aos Estados Unidos, como aliás já fizeram ao financiar contrarrevolucionários para atacar o governo popular sandinista, durante o governo Reagan, no início dos anos 1980.