O Ministério Público da Nicarágua pediu a prisão do escritor e ex-vice-presidente Sergio Ramírez, na quarta-feira (8). Assim como nos outros casos de prisões de opositores, o destacado escritor nicaraguense é acusado, pelo MP – afinado com o governo Ortega – de atos que “incitam ao ódio”, “conspiram” contra a soberania e por “lavagem de dinheiro”.
São acusações similares às usadas contra dezenas de lideranças com a finalidade de impossibilitar o surgimento de chapas de oposição com vistas às eleições de 7 de novembro nas quais Ortega busca se manter no poder pela quarta vez.
Ramírez, que está no exílio, respondeu em um vídeo postado no Twitter: “Não é a primeira vez que isso acontece na minha vida. Em 1977, a família Somoza acusou-me por meio de seu próprio Ministério Público, e perante seus próprios juízes, de crimes semelhantes aos que hoje me achacam: terrorismo, associação ilícita para cometer um crime, ameaça à ordem e à paz, quando eu lutava contra aquela ditadura, da mesma forma em que agora estou lutando contra esta outra”.
“As ditaduras carecem de imaginação e repetem suas mentiras, sua raiva, seu ódio e seus caprichos. São os mesmos delírios, a mesma teimosia cega pelo poder e a mesma mediocridade daqueles que, tendo instrumentos repressivos nas mãos e tendo perdido todos os escrúpulos, também acreditam que são donos da dignidade, da consciência e da liberdade dos outros”, assinalou o escritor, cujo último romance, “Tongolele não sabia dançar”, é inspirado nos protestos de 2018 e na repressão do governo da Nicarágua, e será apresentado pelo autor na próxima semana em Madri, acrescentou o site Confidencial.
O ganhador do Prêmio Cervantes de 2007, principal galardão da língua espanhola, explicou que ao anunciarem que vão assaltar sua casa, “encontrarão uma casa cheia de livros, os livros de um escritor, os livros de minha vida inteira”.
“Sou um escritor comprometido com a democracia e a liberdade, e não desistirei dessa empreitada. Minha obra literária durante anos é obra de um homem livre. As únicas armas que possuo são as palavras”, concluiu Sergio Ramirez, autor de mais de 30 livros.
O regime de Ortega já prendeu 34 pessoas, entre as quais se encontram dirigentes de oposição e sete pré-candidatos presidenciais.
O país irá às urnas em 7 de novembro em meio a uma crise política iniciada com a revolta social de abril de 2018, onde 328 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas nas mãos da polícia e de paramilitares ligados ao governo, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Ramírez, de 78 anos de idade, foi membro do governo que assumiu o poder após o triunfo da Revolução de 1979 contra Somoza e foi vice-presidente de Ortega em seu primeiro mandato (1985-1990). Em 1995, afastou-se devido a “divergências insanáveis”.