O presidente turco, Tayyip Erdogan, se choca com as declarações oficiais sauditas ao destacar que “o crime selvagem” foi “planejado”. “Houve um plano que começou a ser gerado em 28 de setembro, na primeira visita de Khashoggi ao consulado”.
Erdogan prosseguiu afirmando que a Arábia Saudita informou sobre a detenção de 18 participantes do assassinato. “Porque essas 15 pessoas, chegaram a Istambul no dia do crime? De quem essas pessoas receberam ordens para vir? Porque não deixaram investigar imediatamente no consulado, mas só dias depois? Por que não aparece o cadáver de alguém que reconhecidamente foi assassinado?”, questionou.
“As provas indicam que Khashoggi foi assassinado de maneira selvagem e que se tentou acobertar o crime. As provas indicam, sem lugar a dúvida, que o crime foi planejado”, reiterou o presidente turco.
Erdogan, deu tais declarações sobre conclusões da polícia turca, ao parlamento de seu país, no dia 23, conforme prometera já no domingo.
No entanto, houve uma decepção aos que aguardavam elementos mais concretos sobre as investigações acerca do crime que tem desmascarado o regime saudita e deixado a nu a realidade da realeza saudita e do príncipe Bin Salman, atualmente no comando da ditadura saudita e acerca do qual a mídia predominante vinha considerando um “reformador”.
Erdogan, apesar de ter dito que revelaria “tudo em detalhes” a respeito do assassinato, limitou-se a afirmações determinadas porém que continuam genéricas. Na declaração do presidente turco, como veremos a seguir, faltaram tanto os detalhes como a apresentação dos vastamente citados áudios e vídeos que estariam em poder da polícia da Turquia.
“Temos a certeza de que Khashoggi foi assassinado no consulado saudita”, limitou-se a dizer Erdogan. Fato que já havia sido admitido pelo próprio governo saudita – em uma mudança com relação a assertivas iniciais nas quais negava insistentemente qualquer participação.
O presidente turco exigiu saber onde está o corpo do jornalista, ao mesmo tempo que pediu uma “comissão de investigação independente” sobre o caso.
“Faço um apelo à Arábia Saudita, ao rei Salman, custódio das duas mesquitas. O lugar onde se cometeu o crime é Istambul. Peço-lhe que envie esses 18 detidos para que sejam julgados aqui”, conclamou Erdogan.
Em mais um desdobramento ainda não comprovado, o dirigente do Partido Patriótico da Turquia (Vatan), Dogu Perincek, afirma que partes do corpo do jornalista saudita, Jamal Khashoggi, desaparecido desde o dia 2 de outubro, foram localizados em um poço nos jardins da residência do cônsul saudita.
Khashoggi desapareceu depois de ser visto pela última vez ao entrar no consultado da Arábia Saudita, no dia 2, por volta das 13h30minh.
Segundo o diário turco Aydinlik, o lugar onde os pedaços do corpo foram localizados está na casa do até há pouco cônsul-geral Mohammad al-Otaibi, também a poucos metros do consulado geral do país.
A rede Sky News também divulgou há pouco a informação da localização de partes do corpo, citando “fontes anônimas” de que também teriam dito que Khashoggi foi “cortado em pedaços”. Segundo a Sky, a cabeça decapitada foi encontrada com o rosto desfigurado. Essas partes do corpo estariam dentro de um poço na casa do cônsul. Mas nenhuma dessas fontes da informação apresentou fotos, vídeos ou quaisquer elementos probatórios do fim de Khashoggi.
Khashoggi, articulista do jornal norte-americano, Washington Post, teve seu desaparecimento primeiramente denunciado por sua noiva, que teria aguardado 11 horas, sem que ele surgisse de dentro do prédio do consulado, para então denunciar o fato à polícia turca.
Já o presidente Trump tem usado sua verve para falar do assunto sem dizer nada de conclusivo. Dia 24 disse que a morte de Khashoggi foi “um fiasco total desde o primeiro dia” e que foi “mal negócio, nunca deveria ter sido pensado. Alguém realmente fez essa confusão toda. E têm feito o pior encobrimento que se tem conhecimento”.
Ou seja, da palavras de Trump se pode depreender que o problema com a morte do jornalista saudita estaria na incapacidade de “encobrir” os vestígios do crime.
Diante de manifestações populares e exigências de deputados democratas e republicanos para que dê declarações mais claras sobre o assunto macabro, colocou o secretário de Estado, Mike Pompeo, para dizer que 21 sauditas devem perder seus vistos de entrada nos Estados Unidos. Como o leitor há de convir uma pena muito branda para o tamanho do crime e do escândalo em torno da barbárie já revelada acerca das operações da ditadura saudita. Por muito menos os tomahawk voaram contra a Síria, a Líbia e o Iraque.
O que Trump não esconde é que a venda de armas vale a aceitação de qualquer desculpa saudita para a morte do jornalista. Depois de muita pressão acabou, no entanto, verbalizando um pouco mais de desconfianças em relação ao ditador Salman. Em entrevista ao Washington Post acabou declarando que “bem o príncipe é quem toca as coisas por lá, mais ainda no atual estágio. Portanto, se alguém fosse [o reponsável] seria ele.” Logo a seguir, Trump pondera: “Eu quero acreditar nas versões” do príncipe, “realmente quero acreditar nelas”.
Será que o ditador deve botar as barbas reais de molho?
Por enquanto, além do dito acima, foi anunciada a ida da atual chefe da CIA, Gina Haspel, que antes deste ilustre posto, participou de sessões de tortura em detenção a serviço da CIA na Tailândia. O que ela estaria encarregada de extrair?
Promotor público saudita dá a quarta versão sobre a morte de Khashoggi
A Procuradoria-geral da Arábia Saudita declarou, no dia 25, que “as evidências fornecidas pela Turquia indicam a morte de jornalista foi premeditada”.
O governo saudita que colheu repúdio mundial pela barbárie da tortura e esquartejamento de Khshoggi, dá a quarta versão. A primeira foi de que ele teria saído ileso de dentro do consulado, a segunda de que foi uma morte causada por “um interrogatório que deu errado”, a terceira de que ele teria morrido em uma altercação com os seguranças do consulado e agora tratam de dizer que deve ter havido premeditação.
A declaração em si já mostra que a intenção de encobrimento não mudou, a tentativa da ditadura saudita é chegar a um acordo com as evidências de forma a livrar o príncipe e premitir que os negócios prossigam normalmente.
A declaração diz que a “Procuradoria Pública recebeu informações do lado turco através do Grupo de Trabalho Conjunto, formado pelo Reino da Arábia Saudita e a Turquia que indica que sos suspeitso naquele incidente fizeram sua ação com uma intenção premeditada”.
O tratamento a panos quentes segue generalizado.
A chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, suspendeu a venda de armas à Arábia Saudita “enquanto as investigações prosseguem” e pediu aos países membros da União Europei a fazerem o mesmo.
O presidente francês, Emmanuel Macron disse que não estão descartadas “medidas punitivas” se Riad for comprovadamente responsável.
O Canadá e a Espanha condenaram o assassinaato mas declaram que vão manter a venda de armas.
NATHANIEL BRAIA