Em exibição no Espaço Itaú – Augusta, o filme “Ennio Morricone, o maestro”, faz parte da 8 ½ Festa do Cinema Italiano. O longa metragem conta história de um artista extraordinário que produziu obras inesquecíveis da música do cinema
Na última quinta-feira (28) teve início em várias capitais do país a 8 ½ Festa do Cinema Italiano, com um total de 10 filmes. Em São Paulo, o evento ocorre no Espaço Itaú – Augusta. Neste domingo (31) será exibido o documentário “Ennio, o maestro”, dirigido por Giuseppe Tornatore. O longa metragem conta história de um artista extraordinário que produziu obras inesquecíveis da música do cinema.
Trailer do filme
Quando recebeu o convite de Gabriele Costa e Gianni Russo, produtores que mal conhecia, para ser retratado no documentário, Ennio Morricone (1928-2020) se levantou e foi ao telefone. Ligou para o cineasta Giuseppe Tornatore. “Giuseppe, tem dois tipos aqui que querem fazer um filme sobre mim. Você quer fazer?” Diante da afirmativa, Morricone voltou e disse: “Eu aceito, mas só se o Giuseppe dirigir”.
Durante cinco anos, até 2019, Tornatore filmou Morricone e seus incontáveis parceiros para o documentário. O próprio Tornatore está em cena. Lembra-se, com humildade, de como se sentiu quando Morricone aceitou fazer a trilha de “Cinema Paradiso” (1988). Ele já tinha centenas de trilhas; Tornatore era apenas um cineasta estreante – e boa parte da força do drama vem da trilha sonora.
A história é contada por Marco Morricone, filho mais velho de Morricone e Maria Travia. “A primeira claquete foi batida no Natal de 2014”, relembra Marco, que por mais de 30 anos administrou a carreira do pai – e agora seu legado, de mais de 500 composições para cinema, televisão, além de obras clássicas. Casado com Maria, união que durou 63 anos, Ennio pagava as contas fazendo trabalho comercial: durante a noite fazia arranjos para programas de TV que eram gravados no dia seguinte. Não recebia nenhum crédito por isso.
O documentário de 2h36 de duração conta a história do artista por meio das entrevistas com Morricone, parceiros e admiradores, muitos deles célebres. Quentin Tarantino, Quincy Jones, Bruce Springsteen, John Williams, Wong Kar Wai (um dos produtores do filme) e Clint Eastwood. Também um time de criadores italianos que conviveram e trabalharam com ele, como Marco Bellocchio, Dario Argento e Bernardo Bertolucci participam do filme.
“Meu pai regia com muita doçura, quase posso dizer que ele fazia amor com a música. Isto é certamente resultado de um percurso. Disse a Tornatore que aprendi muito com o filme. Mas que queria saber a opinião dele sobre os arranjos, a música absoluta, o grupo de improvisação, a música experimental, as canções”, afirma.
“Afinal, tudo aquilo era ‘filho’ de quem? Ele me disse que o Ennio era muito curioso, gostava de inovar. Mas que nunca traiu sua origem, a música clássica, Stravinsky, (Goffredo) Petrassi (compositor, professor e principal mentor de Morricone). Ele transferiu, devagarzinho, tudo para a música de cinema”, afirma Marco.
O filme revela que a intenção de Morricone era se tornar médico. Mas seu pai, o trompetista Marco Morricone, não deu chances ao primogênito. Ele teria que ter a mesma profissão, tocando inclusive o mesmo instrumento. Fez o que o pai mandou, mesmo que não se encontrasse como tal. Durante a ocupação da Itália na Segunda Guerra Mundial, relembra da humilhação que era tocar por comida.
Morricone se recusou a trabalhar em “A missão” (1986), alegando que as imagens de Roland Joffé eram tão bonitas que ele só poderia piorar as coisas. Foi convencido do contrário. E o filme de Joffé, por sinal, lhe deu a segunda indicação ao Oscar de melhor trilha sonora. A aposta geral era de que o prêmio seria do italiano. Não foi desta vez. Morricone foi anunciado como vencedor na categoria pela trilha de “Por volta da meia-noite”.
Morricone conta que o único filme que lamenta não ter feito foi “Laranja mecânica” (1971). Na época, uma unanimidade no mercado de cinema (chegou ao fim dos anos 1960 fazendo cerca de 20 trilhas por ano), foi consultado por Stanley Kubrick sobre a possibilidade de fazer a música do filme.
Só que Kubrick ligou também para Leone, que disse que Morricone estava ocupado com “Quando explode a vingança” (1971). O cineasta americano declinou da oferta. Mas Morricone conta no filme que já tinha terminado a trilha, estaria disponível. Foi enganado por Leone, seu mais fiel parceiro.
Ouça aqui um especial de ‘Música do Cinema’, da rádio Independência Brasil, com as canções de Ennio Morricone
Com informações do Estado de Minas
Entre as obras primas criada por Ennio Morriconi está a trilha sonora do filme super mem.