A CPMI da JBS, montada pelo Planalto para atacar a Lava Jato e livrar Temer e os demais ladrões do dinheiro público, aplaudiu o doleiro da Odebrecht, o advogado Tacla Durán, que está foragido da Justiça e se esconde da prisão.
A CPMI da JBS, montada pelo Palácio do Planalto para acusar a Lava Jato e tentar livrar Michel Temer e os demais ladrões do dinheiro público, protagonizou uma cena patética no último dia 30 de novembro. Ouviu por teleconferência o doleiro da Odebrecht, o advogado Tacla Durán, que está foragido da Justiça e se esconde da prisão, decretada pelo juiz Sérgio Moro, na Espanha. Ele é acusado de operar esquemas de lavagem de dinheiro para a Odebrecht de 2011 a 2016.
O script estava montado. Ele tinha que atacar o juiz que mandou prendê-lo. Seu relato, de que o advogado de Curitiba, Carlos Zucolotto, amigo de Sérgio Moro e de sua esposa, teria pedido honorários por fora para defendê-lo, foi festejado pelos investigados da CPI. “Derrubamos a República de Curitiba”, comemoraram os ladrões. Durán disse que Zucolotto teria prometido reduzir a multa que ele seria obrigado a pagar de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões, mas teria que pagar US$ 5 milhões “por fora” a título de honorários. Nada disso aconteceu. Pelo contrário, foi decretada sua prisão exatamente pelo juiz Sérgio Moro. E a justiça brasileira conseguiu, inclusive, bloquear os bens roubados por ele durante sua atuação na Odebrecht e que estavam depositados no exterior.
A “prova” apresentada pelo depoente para derrubar a “República de Curitiba” e atingir Moro foi uma perícia fajuta, que ele contratou na Espanha, de supostas mensagens que ele teria trocado com Zucolotto e que, segundo petistas e peemedebistas, atingiriam a honra de Sérgio Moro. A perícia obviamente não vale nada por aqui, mas foi comemorada por Carlos Marun (PMDB-MS), da tropa de Eduardo Cunha e Temer, e outros integrante da CPI como bombástica. “Pegamos o Moro”, diziam os integrantes da comissão, após o depoimento. Há relatos de que Temer, Padilha e Moreira Franco comemoraram com entusiasmo o feito de seus cúmplices da CPI. Eles se aliaram ao doleiro criminoso e fugitivo para atacar a Lava Jato. PT e PMDB tentaram emplacar Durán como algo sério.
Mas, o interessante da versão de Durán é que ele não foi nada criativo. Receber honorários por fora era o que ele próprio fazia dentro da Odebrecht. Senão vejamos. Um ano após o acordo de colaboração dos diretores da UTC Engenharia, dois desses diretores, Ricardo Pessoa e Valmir Pinheiro, fizeram um “aditivo” ao acordo e afirmaram que o advogado Tacla Durán gerava caixa dois para a empresa: “ele recebia honorários da empresa por fora e devolvia em dinheiro vivo, na garagem da empresa”, dizem os executivos.
O juiz Sérgio Moro lamentou o vexame da CPI. Dar ares de verdade absoluta às declarações de um foragido da justiça e transformá-las em ataques à Justiça, para o juiz, é o fim da picada. “Tudo isso é absolutamente falso”, disse ele, em nota, após repercussão do caso na mídia, na qual ridiculariza Durán e confirma ser amigo de Carlos Zucolotto. “O advogado Carlos Zucolotto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me”, destaca.
“Rodrigo Durán é acusado de lavagem de dinheiro de milhões de dólares e teve sua prisão preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da ação da Justiça”, acrescentou a nota do juiz federal. “Durán não apresentou à jornalista responsável pela matéria (Mônica Bérgamo) qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte”, prosseguiu o juiz.
Moro disse ainda que nenhum membro do Ministério Público fez qualquer negociação com o fugitivo, através de Carlos Zucolotto. Em nota a força-tarefa da Lava Jato confirmou as declarações de Moro e também desmentiu o doleiro, afirmando que Durán sempre esteve representado nas tratativas – que não evoluíram – pelo advogado Leonardo Pantaleão.
SÉRGIO CRUZ