Ele não foi encontrado pela Polícia Federal
A Polícia Federal deflagrou a 64ª fase da Operação Lava Jato, tendo como alvo a lavagem de dinheiro do Grupo Petrópolis, fabricante da cerveja Itaipava.
O grupo atuou como laranja da Odebrecht no pagamento de propina a partidos e políticos e diretores da Petrobrás.
Foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão em empresas do Grupo Petrópolis e residências de diretores em 15 cidades de cinco estados. O presidente do Grupo, Walter Faria, que recebeu um mandado de prisão preventiva, não foi encontrado. A operação é denominada “Rock City”.
Foi decretada a prisão temporária de dois sobrinhos de Walter Faria e três funcionários do Grupo que eram titulares de contas no exterior.
Em 2016, durante as investigações, foram encontradas na casa do diretor da Odebrecht, Benedicto Junior, planilhas com nomes de políticos e com menções à dona da Itaipava.
A Odebrecht precisava de dinheiro “sujo”, ou seja, não declarado, e em espécie para pagar as propinas para políticos, como diretores da Petrobrás, Lula, Sérgio Cabral e outros, e garantir sua participação em grandes obras pelo país.
Enquanto isso, o Grupo Petrópolis produziu um esquema de sonegação de impostos a partir da fraude quanto à quantidade de cerveja que era produzida em suas fábricas, que resultava em dinheiro em espécie não declarado.
As duas empresas fizeram um acordo: o Grupo Petrópolis passava valores em reais para a Odebrecht dentro do Brasil e fazia doações eleitorais lícitas e ilícitas a pedido da empreiteira, enquanto recebia dela dólares em contas no Caribe e na Suíça. Além disso, a Odebrecht fez investimentos em negócios do Grupo.
De acordo com o Ministério Público Federal no Paraná, o Grupo Petrópolis disponibilizou pelo menos R$ 208 milhões em espécie à Odebrecht no Brasil entre 2007 e 2011 e repassou R$ 121.581.164,36 em propinas da empreiteira disfarçadas de doações eleitorais.
A investigação apontou que Walter Faria recebeu, entre março de 2007 a outubro de 2009, US$ 88.420.065 da Odebrecht em uma conta mantida no Antigua Overseas Bank, em Antigua e Barbuda, no nome da offshore Legacy International Inc., empresa do grupo.
E entre agosto de 2011 e outubro de 2014, duas contas mantidas por Faria no EFG Bank na Suíça, em nome das offshores Sur trade Corporation S/A, e Somert S/A Montevideo, receberam da Odebrecht, respectivamente, US$ 433.527, e US$ 18.094.153.
A Lava Jato também identificou que contas bancárias no exterior controladas por Walter Faria foram utilizadas para o pagamento de propina no caso dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000.
Entre setembro de 2006 a novembro de 2007, Júlio Gerin de Almeida Camargo e Jorge Antônio da Silva Luz, operadores encarregados de intermediar valores de propina, creditaram US$ 3.433.103,00 em favor das contas bancárias titularizadas pelas offshores Headliner LTD. e Galpert Company S/A, cujo responsável era o grupo Petrópolis.
Em sua delação, Benedicto Júnior declarou que 99% dos pagamentos de propina eram feitos pela cervejaria Itaipava. “O (repasse) do parceiro, eu levava o pedido para o seu Walter, dono da Itaipava, com a indicação de volume que eu precisava, pra saber se ele tinha capacidade de me atender, e posteriormente eu levava a lista dos partidos que eu queria que ele ajudasse”, afirmou.
Indagado quais seriam as empresas “parceiras”, ele respondeu: “Preferencialmente, era a Itaipava. Era quem assumia 99% dos pedidos”.
O ex-executivo da Odebrecht disse que a empreiteira, através do Grupo Petrópolis, doou R$ 40 milhões a campanhas de partidos aliados da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014.
Entre os mais casos conhecidos de pagamentos de propina que a Petrópolis fez no lugar da Odebrecht estão, pelo menos, US$ 600 mil a Lula, supostamente para a realização de palestras, e a mesada de R$ 500 mil que o ex-governador do Rio de Janeiro recebeu durante sua gestão.
Em entrevista coletiva na manhã da quarta-feira (31) para informar sobre a operação da Lava Jato, em Curitiba, o delegado federal Thiago Giavarotti revelou que foram encontrados R$ 250 mil em espécie na casa de um dos executivos do Grupo Petrópolis.
“Encontramos, agora pouco, uma quantia de R$ 250 mil em espécie na casa de uma das pessoas presas temporariamente. A quantidade expressiva de contratos, que vão ser investigados pela Polícia Federal, também chamou a atenção”, disse o delegado.
Os jornalistas quiseram saber como se encontrava a Lava Jato após a divulgação dos acertos entre o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol pelo site The Intercept Brasil.
“Essa fase reforça que a Lava Jato continua firme e forte o seu trabalho de combate à corrupção, de combate à lavagem de dinheiro e de recuperação de valores aos cofres públicos”, respondeu o procurador Felipe D’Elia Camargo.
O delegado Thiago Giavarotti disse que “enquanto for mantida essa parceria republicana entre PF, MPF e Receita Federal, a Lava Jato dá claros indícios que tem um longo caminho a percorrer no combate aos crimes de corrupção e desvios de recursos públicos”.