A empesa de Maximiano conseguiu a representação da Bharat Biotech e, após mensagem de Bolsonaro a Narendra Modi, assinou contrato de R$ 1,6 bilhão com o governo brasileiro
A Precisa Medicamentos, empresa intermediária da farmacêutica indiana Bharat Biotech, envolvida na negociata da venda da vacina Covaxin no país, realizou dois depósitos no valor total de R$ 1 milhão para a Câmara de Comércio Índia Brasil. A transação foi feita às vésperas da assinatura do contrato de R$ 1,6 bilhão entre a empresa e o Ministério da Saúde.
A CPI da Covid localizou as duas transferências feitas pela Precisa à Câmara de Comércio Índia-Brasil em 17 e 23 de fevereiro deste ano. Poucos dias depois, em 25 de fevereiro, a empresa assinou um contrato de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde para fornecer 20 milhões de doses da Covaxin, fabricada pela Bharat Biotech.
O governo chegou a assinar o empenho, ou seja, reservou o dinheiro, para o pagamento à empresa intermediária. O negócio só não se concretizou porque o servidor Luis Ricardo Miranda denunciou a roubalheira para o Ministério Público Federal.
Ele e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), chegaram a levar a denúncia ao presidente Jair Bolsonaro na ilusão de que ele tomaria providências. Ele não só não tomou providências como iniciou uma perseguição implacável aos denunciantes. Mais do que isso, demonstrou saber quem operava o esquema – seu líder na Câmara dos Deputados – e ainda presenteou o líder nomeando sua mulher para um cargo com salário de R$ 27 mil no Conselho Administrativo da Itaipu Binacional.
A Câmara de Comércio Índia Brasil justifica os valores dizendo que eles se destinaram a patrocinar eventos da associação ao longo de 2021. Segundo telegramas do Itamaraty, analisados pela CPI da Covid, o presidente da Câmara de Comércio Índia Brasil, Leonardo Ananda Gomes, esteve com o presidente da Precisa, Francisco Maximiano, em encontro na Embaixada do Brasil em Nova Déli no início de janeiro.
Na reunião, segundo um relato da embaixada, Maximiano defendeu o negócio com a Bharat para “quebrar o monopólio” das grandes fabricantes. Um dia depois do encontro, segundo telegramas do Itamaraty, o presidente Jair Bolsonaro informou por carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que a Covaxin havia sido uma das vacinas “escolhidas” pelo governo brasileiro, assim como aquela produzida pela AstraZeneca. Não citava as vacinas da Pfizer e do Instituto Butantan, que se queixavam da falta de definição, naquele momento, sobre as propostas enviadas ao Ministério da Saúde.
A CPI investiga a transação financeira, que pode indicar que a decisão da Bharat Biotech de entregar a representação para a Precisa, empresa sem nenhuma experiência em vendas de vacinas, passou pela Câmara de Comércio Índia-Brasil.
A comunicação feita por Bolsonaro diretamente com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, afirmando que a Covaxin seria comprada pelo Brasil em tratativas com a Precisa, certamente foi uma senha para que a empresa indiana fechasse o contrato com a empresa de Francisco Maximiano.