Dono da União Química se revolta com entraves da Anvisa para barrar a Sputnik V

Fernando Marques, dono da União Química

O dono do laboratório União Química, Fernando Marques, se revoltou com as barreiras criadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para impedir que a vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V, chegue aos brasileiros. 

Em áudio que teria como destino Bolsonaro, ele critica a postura contra o imunizante e o laboratório nacional adotada por Antonio Barra Torres, presidente da agência, indicado por Bolsonaro para o cargo.  

“É uma loucura. Eu estive com o Barra [Antonio Barra Torres] na semana passada. Ele só faltou me mandar acompanhar até o carro. Fui humilhado. Parece que é um criminoso alguém que quer trazer a vacina ao Brasil, que está sendo usada pelos russos, independente, em mais de 40 países”, afirmou Fernando Marques.

Desde dezembro de 2020, a União Química negocia com a Anvisa a liberação de uso emergencial da Sputnik V no Brasil. O laboratório diz que pediu a autorização e que ela está parada na agência. 

Na semana passada, foi agendada uma reunião entre os representantes do laboratório e da Agência, mas o encontro foi adiado para esta semana. Desta vez, evento aconteceu, na quarta-feira (17), mas o pedido de uso emergencial do imunizante não avançou.

A Agência confirmou que se reuniu com a União Química e que já está com as informações sobre qualidade, eficácia e segurança da vacina, mas alega que “estão pendentes dados essenciais para a análise, que estão sendo discutidos entre as partes”.

A Agência afirma, também, que ainda não recebeu o relatório oficial, necessário para o pedido de liberação para uso emergencial. A Anvisa diz que orienta a submissão do pedido de uso da vacina apenas quando forem apresentados dados sobre a população-alvo da vacina, características do produto, os resultados dos estudos pré-clínicos e clínicos e “a totalidade das evidências científicas disponíveis relevantes para o produto”. “Essas informações fazem parte dos resultados provisórios de um ou mais ensaios clínicos de fase III e indicam que os benefícios da vacina superam seus riscos, de forma clara e convincente”, afirmou a Anvisa, em nota.

A empresa, porém, alega que já protocolou um pedido de aval emergencial em janeiro, sendo ignorado pela Anvisa. A Agência alega que a solicitação foi devolvida por falta de “requisitos mínimos”.

“Eu tenho comprovante eletrônico que entrei com o pedido dia 14 de janeiro. E eles suspenderam a análise. E eles negam que entrei. É uma coisa surreal. Entendeu?”, afirma Marques.  “É surreal o que estou passando. E esse povo não tem coração. Matando as pessoas por falta de vacina. É uma loucura”, disse o dono da União Química no áudio que chegou a Bolsonaro.

Mais um encontro entre a Anvisa e o laboratório foi marcado para a próxima segunda-feira (22). A expectativa é que os documentos faltantes sejam entregues para que o pedido possa ser avaliado. O órgão aponta que “estão pendentes dados essenciais para a análise”.

Na mensagem de áudio, o empresário ainda afirma que a Rússia se comprometeu a enviar 10 milhões de doses ao país entre abril e maio, mas alerta que a Anvisa não liberou o uso da vacina. Trata-se do volume já contratado pelo Ministério da Saúde. “Não estamos falando de coisa política não, é realidade. Olha o que tá acontecendo, não pode ficar dessa forma. É uma coisa surreal, não sei mais o que fazer”, afirma ainda Marques.

A União Química confirmou a autenticidade do áudio de Marques que foi enviado ao empresário bolsonarista, Luciano Hang, com destino a Bolsonaro. Segundo a companhia, ele foi gravado em um momento de desespero. “O imunizante já vem sendo aplicado em mais de 40 países, salvando milhões de vidas, e aqui seguimos sem autorização para importar e produzir”, diz a farmacêutica. Estudo publicado na revista científica The Lancet aponta que a eficácia do imunizante é de 91,6%.

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